quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 1 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 1

O elevador Otis que subia a coluna sul da Torre Eiffel estava lotado de turistas. Em seu interior
abarrotado, o austero executivo de terno bem passado baixou os olhos para o menino ao seu lado.
– Você está pálido, filho. Devia ter ficado lá embaixo.
– Estou bem... - Respondeu o garoto, esforçando-se para controlar a própria ansiedade. - Vou
descer no próximo andar. Não consigo respirar.
O homem chegou mais perto.
– Pensei que a esta altura você já tivesse superado isso. - Ele acariciou com afeto a bochecha
do filho.
O menino estava com vergonha por desapontar o pai, mas mal conseguia escutar qualquer
coisa, tamanho o zumbido em seus ouvidos. Não consigo respirar. Preciso sair de dentro desta
caixa!
O ascensorista estava dizendo alguma coisa tranquilizadora sobre os pistões articulados e a
estrutura de ferro forjado do elevador. Muito abaixo deles, as ruas de Paris se estendiam em todas as
direções.
Estamos quase chegando, disse o menino para si mesmo, esticando o pescoço e erguendo os
olhos para a plataforma de desembarque. Aguente firme.
À medida que o elevador se aproximava num ângulo acentuado do deque de observação, o
poço se estreitava, e seus enormes tirantes se contraíam formando um túnel apertado, vertical.
– Pai, eu acho que não...
De repente, um estalo abrupto ecoou acima dele. O elevador deu um tranco e pendeu para um
dos lados, desequilibrado. Cabos esgarçados começaram a chicotear em volta do compartimento,
agitando-se feito cobras. O menino estendeu a mão para o pai.
– Pai!
Durante um segundo aterrorizante, seus olhares se cruzaram. Então o fundo do elevador se
soltou.
Robert Langdon teve um sobressalto, despertando assustado daquele sonho diurno
semiconsciente. Estava sentado sozinho em sua macia poltrona de couro na imensa cabine de um
jatinho corporativo Falcon 2000EX que atravessava aos solavancos uma área de turbulência. Ao
fundo, ouvia-se o zumbido constante dos dois motores Pratt & Whitney. 
– Sr. Langdon? - O alto-falante chiou acima dele. - Estamos na fase final de aproximação.


Langdon se endireitou no assento e tornou a guardar as notas da palestra dentro da bolsa de
viagem de couro. Estava no meio de uma revisão da simbologia maçônica quando havia cochilado.
Desconfiava que o sonho sobre o pai já falecido tivesse sido causado pelo inesperado convite,
recebido naquela manhã, de seu antigo mentor, Peter Solomon. O outro homem que nunca vou
querer decepcionar. O filantropo, historiador e cientista de 58 anos havia se tornado o protetor de
Langdon quase 30 anos antes, preenchendo sob muitos aspectos o vazio deixado pela morte do pai.
Apesar da influente dinastia familiar e da imensa fortuna de Solomon, Langdon encontrou humildade
e calor humano em seus suaves olhos cinzentos. Do lado de fora da janela, o sol havia se posto, mas
Langdon ainda podia distinguir a silhueta esguia do maior obelisco do mundo, erguendo-se acima do
horizonte como a coluna de um antigo relógio de sol. O obelisco de quase 170 metros de altura
revestido de mármore marcava o centro daquela nação. A partir dele, a meticulosa geometria de ruas
e monumentos se espalhava por todas as direções.
Mesmo vista de cima, Washington exalava um poder quase místico.
Langdon adorava aquela cidade e, quando o jatinho tocou o solo, sentiu uma animação
crescente em relação ao que o dia lhe reservava. A aeronave taxiou até um terminal privado em
algum lugar em meio à vastidão do Aeroporto Internacional Dulles e parou.
Langdon juntou suas coisas, agradeceu aos pilotos e emergiu do interior luxuoso do jatinho
para a escada dobrável. O ar frio de janeiro dava uma sensação de liberdade. Respire, Robert, pensou
ele, apreciando os grandes espaços abertos.
Uma manta de bruma branca cobria a pista de pouso e, ao descer para o asfalto enevoado,
Langdon teve a sensação de estar pisando em um pântano.
– Olá! Olá! - Chamou uma voz melodiosa com sotaque britânico. - Professor Langdon?
Langdon ergueu os olhos e viu uma mulher de meia-idade, de crachá e com uma prancheta na
mão, caminhando apressada em sua direção, acenando alegremente enquanto ele se aproximava.
Cabelos louros cacheados despontavam de baixo de um estiloso gorro de lã.
– Bem-vindo a Washington, professor! - Langdon sorriu. - Obrigado.
– Meu nome é Pam, do serviço de atendimento a passageiros.
A mulher falava com uma exuberância quase perturbadora.
– Se quiser me acompanhar, seu carro está aguardando. - Langdon a seguiu pela pista em
direção ao terminal exclusivo, cercado por reluzentes jatinhos privados. Um ponto de táxi para os
ricos e famosos.
– Sem querer constrangê-lo, professor - disse a mulher, um pouco encabulada -, o senhor é o
Robert Landgon que escreve livros sobre símbolos e religião, não é?
Langdon hesitou, mas assentiu com a cabeça. 


– Bem que eu achei! - disse ela, radiante. - Meu grupo de leitura leu o seu livro sobre o sagrado
feminino e a Igreja! Ele provocou um escândalo delicioso! O senhor gosta mesmo de soltar a raposa
no galinheiro!
Langdon sorriu. 
– Criar escândalo não foi bem a minha intenção.
A mulher pareceu perceber que Langdon não estava disposto a conversar sobre o próprio
trabalho.
– Desculpe. Olhe eu aqui falando. Sei que o senhor provavelmente está cansado de ser
reconhecido... Mas a culpa é toda sua. - Com ar brincalhão, ela indicou as roupas que ele usava. - O
seu uniforme o entregou.
– Meu uniforme? - Langdon baixou os olhos para examinar as próprias roupas. Estava usando
seu suéter grafite de gola rulê, um paletó de tweed Harris, uma calça cáqui e sapatos fechados de
couro de cabra... Seu traje padrão para aulas, palestras, sessões de fotos e eventos sociais. A mulher
riu.
– Essas golas rulês que o senhor usa são muito fora de moda. O senhor ficaria bem melhor de
gravata!
De jeito nenhum, pensou Langdon. Pequenas forcas. Quando Langdon estudava na Academia
Phillips Exeter, o uso da gravata era obrigatório seis dias por semana e, apesar da visão romântica do
diretor, segundo a qual a origem da gravata remontava à fascalia de seda usada pelos oradores
romanos para aquecer as cordas vocais, Langdon sabia que, do ponto de vista etimológico, gravata na
verdade vinha de um bando de cruéis mercenários croatas que amarravam lenços em volta do
pescoço antes de partir para a batalha. Até hoje, esse antigo traje de combate é usado por guerreiros
corporativos modernos, que esperam intimidar os inimigos nas batalhas diárias das salas de reunião.
– Obrigado pelo conselho - disse Langdon com uma risadinha. - Daqui para frente, vou pensar
em usar gravata.
Por sorte, um homem de aspecto profissional vestindo um terno escuro desceu de um Lincoln
estacionado junto ao terminal e chamou seu nome.
– Sr. Langdon? Sou Charles, da Beltway Limusines. - Ele abriu a porta traseira. - Boa noite.
Bem-vindo a Washington. - Langdon deu uma gorjeta a Pam para lhe agradecer pela hospitalidade e,
em seguida, entrou no interior luxuoso do carro. O motorista lhe mostrou os controles da calefação, a
água mineral e o cesto de muffins quentinhos. Segundos depois, o Lincoln já seguia por uma rua de
acesso exclusivo. Então é assim que vive a outra metade.
Enquanto disparava pela Windsock Drive, o motorista consultou a lista de passageiros e deu
um telefonema rápido.
 

– Aqui é da Beltway Limusines - disse ele, com eficiência profissional. - Recebi instruções
para confirmar quando meu passageiro tivesse aterrissado. - Ele fez uma pausa. - Sim, senhor. Seu
convidado, Sr. Langdon, já chegou e eu o estou levando para o prédio do Capitólio. Devemos chegar
lá antes das sete. De nada, senhor. - E desligou.
Langdon teve de sorrir. Ele pensou em todos os detalhes. A atenção que Peter Solomon
dedicava às minúcias era uma de suas maiores qualidades, algo que lhe permitia administrar com
aparente facilidade seu considerável poder. Alguns bilhões de dólares no banco também não fazem
mal. O professor se acomodou no confortável assento de couro e fechou os olhos à medida que o
ruído do aeroporto ia ficando para trás. A viagem até o Capitólio demoraria meia hora, e ele ficou
satisfeito por ter esse tempo sozinho para organizar os próprios pensamentos. Tudo havia acontecido
tão depressa naquele dia que só agora Langdon tinha começado a pensar a sério na incrível noite que
tinha pela frente. Chegando sob um véu de mistério, pensou ele, divertindo-se com a ideia.

A pouco mais de 15 quilômetros do Capitólio, uma figura solitária se preparava ansiosamente
para a chegada de Robert Langdon.


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