quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 16 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 16

O chefe de polícia Trent Anderson voltou à Rotunda do Capitólio pisando firme, furioso com o
fracasso de sua equipe. Um de seus homens havia acabado de encontrar, em um vão próximo ao
pórtico leste, uma tipóia e um casaco militar. Aquele desgraçado saiu daqui na maior!
Anderson já havia destacado equipes para examinar os vídeos externos, mas, quando
encontrassem alguma coisa, aquele cara já teria sumido há muito tempo.
Então, ao entrar na Rotunda para avaliar o estrago, Anderson viu que a situação havia sido
controlada da melhor forma possível. Todos os quatro acessos da Rotunda estavam bloqueados
usando o mais discreto método de controle de multidões à disposição do serviço de segurança: um
cordão de veludo, um agente para pedir desculpas e uma placa dizendo SALA
TEMPORARIAMENTE FECHADA PARA LIMPEZA. Cerca de 10 testemunhas estavam sendo
agrupadas na ala leste do recinto, onde os guardas recolhiam celulares e câmeras fotográficas. A
última coisa de que Anderson precisava era que uma daquelas pessoas mandasse uma foto de celular
para a CNN.
Uma das testemunhas detidas, um homem alto de cabelos escuros usando um paletó de tweed,
tentava se afastar do grupo para falar com o chefe. O homem estava agora envolvido em uma
acalorada discussão com os seguranças. - Já vou até aí falar com ele - disse Anderson aos seguranças.
- Por enquanto, por favor, mantenham todo mundo no saguão principal até resolvermos esta situação.
Anderson voltou seu olhar para a mão em riste no meio do recinto. Pelo amor de Deus. Em
seus 15 anos de trabalho na segurança do Capitólio, já vira algumas coisas estranhas. Mas nunca
nada como aquilo.
É melhor o pessoal da perícia chegar logo e tirar esta coisa do meu prédio.
Anderson chegou mais perto e viu que o pulso ensanguentado tinha sido preso em uma base de
madeira com um prego para fazer a mão ficar em pé. Madeira e carne, pensou. Invisível para os
detectores de metal. A única grande peça metálica era um anel de ouro que Anderson supôs ter
passado pelo detector manual ou ter sido casualmente retirado do dedo morto pelo suspeito, como se
fosse seu.
Anderson se agachou para examinar a mão. Ela parecia ter pertencido a um homem de uns 60
anos. O anel tinha uma espécie de brasão ornamentado com uma ave de duas cabeças e o número 33.
Anderson não o reconheceu. O que realmente chamou sua atenção foram as pequeninas tatuagens
nas pontas do polegar e do indicador. Que coisa de maluco.


– Chefe? - Um dos agentes se aproximou depressa, estendendo um telefone. - Ligação pessoal
para o senhor. A central de segurança acabou de transferir.
Anderson olhou para o homem como se ele tivesse enlouquecido.
– Estou ocupado - rosnou.
O rosto do segurança estava pálido. Ele tapou o fone e sussurrou:
É a CIA.
Anderson não acreditou no que estava escutando. A CIA já está sabendo disso?
É o Escritório de Segurança deles.
Anderson retesou os músculos. Puta merda. Olhou de relance, pouco à vontade, para o telefone
na mão do subordinado. No vasto oceano das agências de inteligência de Washington, o Escritório de
Segurança da CIA era uma espécie de Triângulo das Bermudas - uma região misteriosa e traiçoeira
da qual todos mantinham distância sempre que possível. Com uma missão aparentemente
autodestrutiva, o ES havia sido criado pela CIA com uma estranha finalidade: espionar a própria
agência. Como uma poderosa corregedoria interna, monitorava todos os seus funcionários para
detectar comportamentos ilícitos: desvio de fundos, venda de segredos, roubo de tecnologias
confidenciais e uso de táticas ilegais de tortura, entre outros.
Eles espionam os espiões dos Estados Unidos. Com carta branca para investigar qualquer
questão ligada à segurança nacional, o ES tinha um poder de longo alcance. Anderson não conseguia
imaginar por que eles se interessariam por aquele incidente no Capitólio, nem como tinham ficado
sabendo tão rápido dele. Segundo os boatos, porém, o escritório tinha olhos por toda parte. Até onde
Anderson sabia, era possível que eles recebessem uma transmissão direta das câmeras de segurança
do Capitólio. Aquele incidente não se encaixava de forma alguma nas diretrizes do ES, mas seria
muita coincidência ele receber um telefonema da CIA naquele momento sobre qualquer outro
assunto que não fosse a mão cortada.
– Chefe? - O segurança lhe estendia o telefone como se fosse uma batata quente. - O senhor
precisa atender agora... É... - Ele fez uma pausa e articulou silenciosamente duas sílabas. - SA-TO.
Anderson apertou os olhos e encarou o homem com intensidade. Você só pode estar de
brincadeira. Sentiu as palmas das mãos começarem a suar. Sato está cuidando disso pessoalmente?
Inoue Sato, a autoridade suprema do Escritório de Segurança, que ocupava cargo de direção do
órgão, era uma lenda na comunidade de inteligência. Depois de ter nascido entre as grades de um
campo de concentração japonês em Manzanar, na Califórnia, após o ataque a Pearl Harbor, Sato,
como todo sobrevivente, jamais esquecera os horrores da guerra, tampouco os perigos de uma
inteligência militar deficiente. Agora que ocupava um dos cargos mais secretos e poderosos do
serviço de inteligência norte-americano, se revelara de um patriotismo incondicional. Era um inimigo
 

aterrorizante para qualquer oponente. Suas aparições eram raras, e o temor que provocavam,
universal. Sato singrava as águas profundas da CIA como um leviatã que só subia à superfície para
devorar sua presa.
Anderson só havia encontrado Inoue Sato pessoalmente uma vez, e a lembrança de encarar
aqueles frios olhos negros bastou para que ficasse grato por só terem que se falar ao telefone.
Ele pegou o aparelho e levou-o à boca.
– Alô - atendeu com a voz mais simpática possível. - Aqui é o chefe Anderson. Como posso...
– Preciso falar agora mesmo com um homem que está aí no seu prédio. - A voz da autoridade
máxima do ES era inconfundível: parecia cascalho arranhando um quadro-negro. Uma operação para
retirar um câncer na garganta tinha deixado Sato com um tom de voz profundamente perturbador,
além de uma cicatriz repulsiva no pescoço. - Quero que você o encontre para mim imediatamente.
Só isso? Quer que eu chame alguém? Anderson se sentiu subitamente esperançoso, pensando
que talvez aquela ligação fosse pura coincidência.
– Quem é a pessoa que está procurando?
– O nome dele é Robert Langdon. Acho que está aí dentro do seu prédio neste momento.
Langdon? O nome parecia vagamente conhecido, mas Anderson não lembrava exatamente de
onde. Ele começou a se perguntar se a CIA sabia sobre a mão.
– Eu estou na Rotunda agora - disse ele -, e há alguns turistas aqui... Espere um instante. - Ele
abaixou o telefone e gritou na direção do grupo: - Pessoal, tem alguém aqui chamado Langdon?
Após um breve silêncio, uma voz grave respondeu do meio dos turistas.
– Sim. Eu sou Robert Langdon.
Sato sabe de tudo. Anderson esticou o pescoço para tentar ver quem tinha se identificado.
O mesmo homem que tentara falar com ele havia alguns minutos se afastou dos outros. Ele
parecia abalado... Mas, de certa forma, lhe era familiar. Anderson ergueu o telefone até a boca.
– Sim, o Sr. Langdon está aqui.
– Passe o telefone para ele - ordenou Sato com sua voz áspera. O chefe de polícia soltou o ar
preso nos pulmões. Antes ele do que eu.
– Um instante. - Ele acenou para Langdon se aproximar.
Enquanto Langdon chegava mais perto, Anderson percebeu de repente por que o nome soava
conhecido. Eu acabei de ler um artigo sobre esse cara. O que ele está fazendo aqui? Embora Robert
Langdon tivesse 1,83m e porte atlético, Anderson não viu nem sinal da atitude fria e dura que
esperava de um homem que havia sobrevivido a uma explosão no Vaticano e a uma caçada humana
em Paris. Esse cara escapou da polícia francesa... De sapato social? Ele parecia mais alguém que se 


esperaria encontrar lendo Dostoievski ao lado da lareira da biblioteca de alguma das universidades de
elite do país.
– Sr. Langdon? - disse Anderson, adiantando-se para recebê-lo. - Sou o chefe de polícia do
Capitólio. Eu cuido da segurança aqui. Telefone para o senhor.
– Para mim? - Os olhos azuis do professor pareciam aflitos e hesitantes.
Anderson estendeu o telefone.
É do Escritório de Segurança da CIA.
– Nunca ouvi falar.
Anderson deu um sorriso sombrio.
– Bom, eles ouviram falar no senhor. - Langdon levou o fone ao ouvido.
– Sim?
– Robert Langdon? - A voz áspera de Sato irrompeu do pequeno fone, alta o suficiente para
Anderson conseguir escutar.
– Sim? - Respondeu Langdon.
O chefe de polícia se aproximou um passo para ouvir o que Sato dizia.
– Aqui é Inoue Sato, Sr. Langdon, do Escritório de Segurança da CIA. Estou administrando
uma crise neste exato momento e acredito que o senhor tenha informações que podem me ajudar.
Uma expressão esperançosa atravessou o semblante de Langdon.
– Isso tem relação com Peter Solomon? Vocês sabem onde ele está?
Peter Solomon? Anderson não estava entendendo absolutamente nada.
– Professor - retrucou Sato -, quem está fazendo as perguntas agora sou eu.
– Peter Solomon está correndo sério perigo - exclamou Langdon. - Algum louco acaba de...
– Com licença - disse Sato, interrompendo-o.
Anderson se encolheu. Ele está brincando com fogo. Interromper o interrogatório de um alto
funcionário da CIA era um erro que apenas um civil podia cometer. Pensei que esse Langdon fosse
um cara esperto.
– Ouça com atenção - disse Inoue Sato. - Neste exato momento, enquanto estamos tendo esta
conversa, este país está diante de uma crise. Fiquei sabendo que o senhor tem informações que
podem me ajudar a evitá-la. Agora vou perguntar de novo. Que informações o senhor possui? -
Langdon parecia perdido.
– Eu não tenho a menor ideia de que história é essa. Minha única preocupação é encontrar
Peter e...
– A menor idéia? - indagou Sato em tom desafiador. Anderson viu Langdon se eriçar. O
professor então adotou um tom mais agressivo.
 

– Não, senhor. Não faço a mínima ideia.
Anderson se encolheu novamente. Errado. Errado. Errado. Robert Langdon havia acabado de
cometer um erro muito grave ao lidar com Sato.
Infelizmente, Anderson percebeu que era tarde demais. Para seu espanto, Inoue Sato havia
acabado de aparecer do outro lado da Rotunda, aproximando-se depressa por trás de Langdon. Sato
está aqui no prédio! O chefe de polícia prendeu a respiração e se preparou para o impacto. Langdon
não fazia a menor ideia do que isso significa.
O vulto de Sato foi chegando mais perto, com o telefone colado ao ouvido. Os olhos negros
grudados como dois feixes de raio laser nas costas de Langdon.

Langdon apertou com força o telefone do chefe de polícia, sentindo-se cada vez mais frustrado
à medida que Sato o pressionava.
– Sinto muito, senhor - disse ele, lacônico -, mas eu não sou capaz de ler os seus pensamentos.
O que o senhor quer de mim?
– O que eu quero do senhor? - A voz rascante chiou no telefone de Langdon, áspera e
cavernosa, como a de um moribundo com a garganta inflamada.
Enquanto o homem falava, Langdon sentiu alguém lhe cutucar o ombro. Deu meia-volta e seus
olhos foram atraídos para baixo... Parando bem no rosto de uma japonesa baixinha. A mulher tinha
uma expressão feroz, a tez marcada, cabelos ralos, dentes manchados de nicotina e uma perturbadora
cicatriz branca que cortava seu pescoço na horizontal. Sua mão encarquilhada segurava um celular
junto à orelha e, quando seus lábios se moveram, Langdon escutou aquela mesma voz rascante sair
do seu próprio celular.
– O que eu quero do senhor, professor? - Ela fechou o telefone com calma e o fuzilou com os
olhos. - Para começar, poderia parar de me chamar de "senhor".
Langdon a encarou, morrendo de vergonha.
– Minha senhora, eu... Me desculpe. A nossa ligação estava ruim e...
– A nossa ligação estava perfeita, professor. - Disse ela. - E eu tenho uma tolerância
extremamente baixa para desculpas esfarrapadas.

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