quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 17 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 17

A diretora Inoue Sato era um espécime temível - uma tempestade violenta em forma de mulher
com apenas 1,47m de altura. Era esquelética, tinha os traços irregulares e uma doença de pele
conhecida como vitiligo, que dava à sua tez o aspecto manchado de um bloco áspero de granito
coberto por placas de líquen. Seu terninho azul amarrotado pendia do corpo macilento como um saco
frouxo, e a camisa de colarinho aberto nada fazia para esconder a cicatriz do pescoço. Seus colegas
de trabalho já haviam reparado que a única concessão de Sato à vaidade física parecia ser depilar
com uma pinça seu copioso buço.
Fazia mais de uma década que Inoue Sato supervisionava o Escritório de Segurança da CIA.
Seu QI era muito acima da média e seus instintos tinham uma precisão assustadora, combinação que
lhe conferia uma segurança que a tornava aterrorizante para qualquer pessoa incapaz de realizar o
impossível. Nem mesmo o diagnóstico de um câncer de garganta agressivo em estágio terminal a
havia derrubado. A batalha lhe custara um mês de trabalho, metade da laringe e um terço do peso,
mas ela voltou ao trabalho como se nada tivesse acontecido. Inoue Sato parecia indestrutível. Robert
Langdon desconfiava que provavelmente não era o primeiro a confundir Sato com um homem ao
telefone, mas a diretora ainda o fuzilava com seus olhos negros abrasadores.
– Mais uma vez queira me desculpar, senhora. - Disse Langdon.
– Ainda estou tentando me situar aqui... A pessoa que diz estar com Peter Solomon me enganou
para me fazer vir a Washington hoje à noite. - Ele tirou o fax do paletó. - Foi isto aqui que ele me
enviou mais cedo. Eu anotei o número do jatinho que ele mandou para me buscar, então quem sabe a
senhora não poderia ligar para a Agência Nacional de Aviação e rastrear o...
A diminuta mão de Sato deu um bote para agarrar o pedaço de papel. Ela o enfiou no bolso
sem sequer abri-lo.
– Professor, quem está no comando desta investigação sou eu e, até o senhor começar a me
dizer o que quero saber, sugiro que não fale a menos que alguém lhe dirija a palavra.
Sato então se virou para o chefe de polícia.
– Chefe Anderson - falou ela, chegando perto demais e erguendo para ele os olhinhos negros -,
pode fazer a gentileza de me dizer que diabos está acontecendo aqui? O segurança no portão leste me
disse que vocês encontraram uma mão humana no chão. É verdade?
Anderson deu um passo para o lado e revelou o objeto no meio do piso.
– Sim, senhora, faz poucos minutos.
Ela olhou de relance para a mão como se não passasse de uma peça de roupa esquecida.


– E mesmo assim o senhor não me disse nada quando eu liguei?
– Eu... Eu pensei que a senhora soubesse.
– Não minta para mim.
Anderson murchou diante do olhar dela, mas sua voz permaneceu firme.
– Senhora, a situação aqui está sob controle.
– Duvido muito que isso seja verdade. - Disse Sato com a voz igualmente firme.
– Uma equipe de criminalística está a caminho. Quem fez isso pode ter deixado impressões
digitais.
Sato fez cara de cética.
– Acho que uma pessoa esperta o suficiente para passar pelo seu controle de segurança com a
mão cortada de alguém provavelmente é esperta o suficiente para não deixar impressões digitais.
– Pode ser, mas tenho a responsabilidade de investigar.
– Na verdade, você está dispensado dessa responsabilidade a partir de agora. Eu estou
assumindo o caso.
Anderson se retesou.
– Isto aqui não é exatamente da competência do ES, é?
– Sem dúvida que sim. Esta é uma questão de segurança nacional.
A mão de Peter?, perguntou-se Langdon, que assistia à conversa atônito. Segurança nacional.
Ele sentia que seu objetivo de encontrar Peter o mais rápido possível não era compartilhado por Sato.
A diretora do ES parecia estar com uma ideia totalmente diferente na cabeça. Anderson também
parecia intrigado.
– Segurança nacional? Com todo o respeito, senhora...
– Até onde eu sei - interrompeu ela -, o meu cargo é superior ao seu. Sugiro que faça
exatamente o que eu disser, sem questionar nada.
O chefe de polícia aquiesceu e engoliu em seco.
– Mas não deveríamos pelo menos tirar as digitais dos dedos para confirmar que a mão
pertence a Peter Solomon?
– Eu confirmo - disse Langdon, sentindo uma certeza nauseante. - Reconheço o anel... E a mão
dele. - Ele fez uma pausa. - Mas as tatuagens são novas. Alguém fez isso com ele recentemente.
– Como disse? - Pela primeira vez desde sua chegada, a diretora pareceu perturbada. - A mão
está tatuada?
Langdon assentiu. - O polegar tem uma coroa. E o indicador, uma estrela.
Sato sacou seus óculos e caminhou até a mão, rodeando-a feito um tubarão.
 

– Além disso - disse Langdon -, embora não dê para ver os outros três dedos, tenho certeza de
que eles também vão estar com as pontas tatuadas.
Sato pareceu intrigada com a observação e gesticulou para Anderson se aproximar.
– Chefe, pode dar uma olhada nos outros dedos para nós, por favor?
Anderson se agachou ao lado da mão, tomando cuidado para não tocar nela. Aproximou a
bochecha do chão e examinou a parte de baixo dos dedos fechados.
– Ele tem razão, diretora. Todos os dedos estão tatuados, mas não estou conseguindo ver muito
bem o que os outros...
– Um sol, uma lamparina e uma chave. - Disse Langdon em tom neutro.
Sato ficou de frente para Langdon, avaliando-o com os olhos miúdos.
– E como é que o senhor pode saber isso? - Langdon retribuiu seu olhar.
– A imagem da mão humana marcada dessa forma nas pontas dos dedos é um ícone muito
antigo. É conhecida como "a Mão dos Mistérios".
Anderson se levantou abruptamente.
– Esta coisa tem nome? - Langdon aquiesceu.
É um dos ícones mais secretos do mundo antigo. - Sato entortou a cabeça.
– Então posso perguntar que raios isso está fazendo no meio do Capitólio dos Estados Unidos?
Langdon desejou poder acordar daquele pesadelo.
– Tradicionalmente, minha senhora, a mão era usada como um convite.
– Um convite... Para quê? - Quis saber ela.
Ele baixou os olhos para os símbolos tatuados na mão cortada do amigo.
– Durante séculos, a Mão dos Mistérios representou uma convocação mística. Basicamente, ela
é um convite para receber conhecimentos sagrados, um saber protegido a que apenas uma pequena
elite tinha acesso.
Sato cruzou os braços finos e ergueu para ele os olhos negros feito carvão.
– Bem, professor, para alguém que alega não ter a menor ideia do que está fazendo aqui... O
senhor está se saindo muito bem até agora.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário