CAPÍTULO 20
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Robert Langdon lançou um olhar ansioso para seu relógio de pulso: 19h58. O rosto
sorridente
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de Mickey Mouse não conseguiu alegrá-lo. Preciso encontrar Peter.
Estamos perdendo tempo.
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Sato havia se afastado por alguns instantes para atender um
telefonema, mas logo voltou para
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junto de Langdon.
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– Professor, estou atrapalhando algum compromisso seu?
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– Não, senhora. - Respondeu Langdon, tornando a cobrir o relógio com a manga do paletó. - Só
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estou muito preocupado com Peter.
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– Entendo, mas eu lhe garanto que o melhor que o senhor pode
fazer por ele é me ajudar a
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entender a maneira de pensar do homem que o sequestrou.
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Langdon não tinha tanta certeza disso, mas percebeu que não iria a lugar nenhum antes de a
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diretora do ES conseguir a informação que desejava.
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– Agora há pouco - disse Sato -, o senhor sugeriu que a Rotunda é de certa forma sagrada,
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segundo o conceito desses Antigos Mistérios.
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– Isso mesmo, senhora.
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– Explique para mim. - Langdon sabia que teria de escolher com
parcimônia as palavras. Havia
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passado semestres inteiros lecionando sobre o simbolismo místico de Washington e, só naquele
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prédio, a lista de referências místicas era quase interminável.
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Os Estados Unidos têm um passado oculto. Sempre que
Langdon dava alguma palestra sobre a
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simbologia dos Estados Unidos, seus alunos ficavam surpresos por
descobrir que as verdadeiras
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intenções dos pais fundadores da nação não tinham absolutamente nada a ver com
aquilo que tantos
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políticos agora afirmavam.
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O destino que se pretendia dar aos Estados Unidos se perdeu na
história. O primeiro nome
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dado pelos pais fundadores à capital por eles edificada tinha
sido "Roma". Eles haviam batizado seu
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rio de Tibre e construído uma capital clássica de panteões e templos, todos adornados com
imagens
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de grandes deuses e deusas - Apolo, Minerva, Vênus, Hélios, Vulcano, Júpiter. No centro, como em
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muitas das grandes cidades clássicas, erigiram uma duradoura
homenagem aos antigos - o obelisco
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egípcio. Esse obelisco, mais alto até do que os do Cairo ou de
Alexandria, erguia-se 170 metros em
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direção ao céu, maior que um prédio de 30 andares, proclamando
gratidão e honra ao fundador
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semidivino ao qual aquela capital devia seu mais novo nome.
Washington.
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Agora, séculos mais tarde, apesar da separação entre Igreja e Estado no país, aquela Rotunda
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dezena de deuses diferentes na Rotunda - mais do que no Panteão original de Roma. O Panteão
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romano, é claro, fora convertido ao cristianismo em 609... Mas este panteão nunca havia sido
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convertido, vestígios de sua verdadeira história ainda permaneciam claramente visíveis.
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– Como a senhora deve saber - disse Langdon -, esta Rotunda foi
projetada como um tributo a
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um dos santuários místicos mais venerados de Roma. O
Templo de Vesta.
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– Das virgens vestais? - Sato parecia duvidar que as virginais
guardiãs da chama de Roma
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tivessem algo a ver com o prédio do Capitólio norte-americano.
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– O Templo de Vesta em Roma - disse Langdon - era circular e
tinha um enorme buraco no
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chão, dentro do qual o fogo sagrado da iluminação era mantido por uma irmandade de
virgens, cuja
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tarefa era garantir que a chama jamais se apagasse.
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Sato deu de ombros.
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– Esta Rotunda é um círculo, mas não estou vendo nenhum buraco no chão.
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– Não, agora não existe mais, porém, durante anos o centro desta sala
possuiu uma grande
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abertura justamente no lugar onde está a mão de Peter. - Langdon gesticulou em
direção ao chão. -
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Ainda é possível ver no piso as marcas deixadas pela grade que impedia as
pessoas de caírem lá
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dentro.
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– O quê? - Indagou Sato, examinando o chão. - Eu nunca ouvi falar nisso.
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– Parece que ele tem razão. - Anderson apontou para o círculo de protuberâncias de ferro que
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marcava o local das antigas barras da grade. - Eu já tinha visto esses negócios antes, mas não fazia a
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menor idéia do que eram ou para que serviam. Você não é o único, pensou Langdon, imaginando os
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milhares de pessoas, incluindo famosos legisladores, que
passavam pelo centro da Rotunda todos os
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dias sem saber que antigamente teriam caído dentro da Cripta do Capitólio - nível logo abaixo da
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Rotunda.
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– O buraco no chão - disse-lhes Langdon - acabou
sendo coberto, mas, durante um bom tempo,
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os visitantes da Rotunda puderam ver através dele o fogo que ardia lá embaixo.
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Sato se virou.
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– Fogo? No Capitólio?
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– Na verdade, era mais uma tocha grande, uma chama eterna que
ardia na cripta logo abaixo de
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onde estamos. A ideia era que o fogo fosse visível pelo buraco, transformando esta
sala em um
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moderno Templo de Vesta. O prédio tinha até a sua própria virgem vestal: um funcionário público
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federal chamado guardião da cripta, que conseguiu manter a
chama acesa por 50 anos, até a política,
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a religião e os danos causados pela fumaça apagarem a ideia. - Tanto Anderson
quanto Sato pareciam
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surpresos. Atualmente, o único indício de que ali já houvera uma chama acesa era a
estrela de quatro
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estavam - símbolo da chama eterna dos Estados
Unidos que um dia havia irradiado sua luz para os
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quatro cantos do Novo Mundo.
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– Então, professor - disse Sato -, sua tese é a de que o homem que deixou a mão de Peter aqui
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sabia de tudo isso?
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– Está claro que sim. E sabia muito, muito mais. Esta sala está cheia de símbolos que refletem
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a crença nos Antigos Mistérios.
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– Um saber secreto. - Disse Sato, com um tom de voz que fazia
mais do que sugerir sarcasmo.
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- Um conhecimento que permite aos homens adquirir poderes comparáveis aos de um deus?
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– Sim, senhora.
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– Isso não se encaixa muito bem nos fundamentos cristãos deste país.
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– Aparentemente não, mas é verdade. Essa transformação do homem em deus se chama
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apoteose. Quer a senhora saiba disso ou não, esse tema é o elemento central do simbolismo
desta
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Rotunda.
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– Apoteose? - Anderson se virou para ele com uma expressão espantada de reconhecimento.
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– Sim. - Anderson trabalha aqui. Ele sabe. - A palavra apoteose
significa literalmente
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"transformação divina": o homem que se torna
deus. Vem do grego antigo: apo, que aqui significa
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"tornar-se", e theos,"deus".
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Anderson parecia pasmo. - Apoteose quer dizer "virar
deus"? Eu não fazia a menor ideia.
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– Do que vocês estão falando? - indagou Sato.
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– Minha senhora - disse Langdon -, o maior quadro deste prédio se chama A Apoteose de
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Washington. E ele mostra claramente George Washington sendo
transformado em deus. - Sato fez
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cara de cética.
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– Eu nunca vi nada desse tipo.
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– Na verdade, tenho certeza de que viu, sim. - Langdon ergueu o
indicador e apontou para
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