quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 20 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 20

Robert Langdon lançou um olhar ansioso para seu relógio de pulso: 19h58. O rosto sorridente
de Mickey Mouse não conseguiu alegrá-lo. Preciso encontrar Peter. Estamos perdendo tempo.
Sato havia se afastado por alguns instantes para atender um telefonema, mas logo voltou para
junto de Langdon.
– Professor, estou atrapalhando algum compromisso seu?
– Não, senhora. - Respondeu Langdon, tornando a cobrir o relógio com a manga do paletó. - Só
estou muito preocupado com Peter.
– Entendo, mas eu lhe garanto que o melhor que o senhor pode fazer por ele é me ajudar a
entender a maneira de pensar do homem que o sequestrou.
Langdon não tinha tanta certeza disso, mas percebeu que não iria a lugar nenhum antes de a
diretora do ES conseguir a informação que desejava.
– Agora há pouco - disse Sato -, o senhor sugeriu que a Rotunda é de certa forma sagrada,
segundo o conceito desses Antigos Mistérios.
– Isso mesmo, senhora.
– Explique para mim. - Langdon sabia que teria de escolher com parcimônia as palavras. Havia
passado semestres inteiros lecionando sobre o simbolismo místico de Washington e, só naquele
prédio, a lista de referências místicas era quase interminável.
Os Estados Unidos têm um passado oculto. Sempre que Langdon dava alguma palestra sobre a
simbologia dos Estados Unidos, seus alunos ficavam surpresos por descobrir que as verdadeiras
intenções dos pais fundadores da nação não tinham absolutamente nada a ver com aquilo que tantos
políticos agora afirmavam.
O destino que se pretendia dar aos Estados Unidos se perdeu na história. O primeiro nome
dado pelos pais fundadores à capital por eles edificada tinha sido "Roma". Eles haviam batizado seu
rio de Tibre e construído uma capital clássica de panteões e templos, todos adornados com imagens
de grandes deuses e deusas - Apolo, Minerva, Vênus, Hélios, Vulcano, Júpiter. No centro, como em
muitas das grandes cidades clássicas, erigiram uma duradoura homenagem aos antigos - o obelisco
egípcio. Esse obelisco, mais alto até do que os do Cairo ou de Alexandria, erguia-se 170 metros em
direção ao céu, maior que um prédio de 30 andares, proclamando gratidão e honra ao fundador
semidivino ao qual aquela capital devia seu mais novo nome. Washington.
Agora, séculos mais tarde, apesar da separação entre Igreja e Estado no país, aquela Rotunda
patrocinada pelo governo estava repleta de simbolismos religiosos antigos. Havia mais de uma


dezena de deuses diferentes na Rotunda - mais do que no Panteão original de Roma. O Panteão
romano, é claro, fora convertido ao cristianismo em 609... Mas este panteão nunca havia sido
convertido, vestígios de sua verdadeira história ainda permaneciam claramente visíveis.
– Como a senhora deve saber - disse Langdon -, esta Rotunda foi projetada como um tributo a
um dos santuários místicos mais venerados de Roma. O Templo de Vesta.
– Das virgens vestais? - Sato parecia duvidar que as virginais guardiãs da chama de Roma
tivessem algo a ver com o prédio do Capitólio norte-americano.
– O Templo de Vesta em Roma - disse Langdon - era circular e tinha um enorme buraco no
chão, dentro do qual o fogo sagrado da iluminação era mantido por uma irmandade de virgens, cuja
tarefa era garantir que a chama jamais se apagasse.
Sato deu de ombros.
– Esta Rotunda é um círculo, mas não estou vendo nenhum buraco no chão.
– Não, agora não existe mais, porém, durante anos o centro desta sala possuiu uma grande
abertura justamente no lugar onde está a mão de Peter. - Langdon gesticulou em direção ao chão. -
Ainda é possível ver no piso as marcas deixadas pela grade que impedia as pessoas de caírem lá
dentro.
– O quê? - Indagou Sato, examinando o chão. - Eu nunca ouvi falar nisso.
– Parece que ele tem razão. - Anderson apontou para o círculo de protuberâncias de ferro que
marcava o local das antigas barras da grade. - Eu já tinha visto esses negócios antes, mas não fazia a
menor idéia do que eram ou para que serviam. Você não é o único, pensou Langdon, imaginando os
milhares de pessoas, incluindo famosos legisladores, que passavam pelo centro da Rotunda todos os
dias sem saber que antigamente teriam caído dentro da Cripta do Capitólio - nível logo abaixo da
Rotunda.
– O buraco no chão - disse-lhes Langdon - acabou sendo coberto, mas, durante um bom tempo,
os visitantes da Rotunda puderam ver através dele o fogo que ardia lá embaixo.
Sato se virou.
– Fogo? No Capitólio?
– Na verdade, era mais uma tocha grande, uma chama eterna que ardia na cripta logo abaixo de
onde estamos. A ideia era que o fogo fosse visível pelo buraco, transformando esta sala em um
moderno Templo de Vesta. O prédio tinha até a sua própria virgem vestal: um funcionário público
federal chamado guardião da cripta, que conseguiu manter a chama acesa por 50 anos, até a política,
a religião e os danos causados pela fumaça apagarem a ideia. - Tanto Anderson quanto Sato pareciam
surpresos. Atualmente, o único indício de que ali já houvera uma chama acesa era a estrela de quatro
pontas que representa a rosa dos ventos gravada no piso da cripta um andar abaixo de onde eles


estavam - símbolo da chama eterna dos Estados Unidos que um dia havia irradiado sua luz para os
quatro cantos do Novo Mundo.
– Então, professor - disse Sato -, sua tese é a de que o homem que deixou a mão de Peter aqui
sabia de tudo isso?
– Está claro que sim. E sabia muito, muito mais. Esta sala está cheia de símbolos que refletem
a crença nos Antigos Mistérios.
– Um saber secreto. - Disse Sato, com um tom de voz que fazia mais do que sugerir sarcasmo.
- Um conhecimento que permite aos homens adquirir poderes comparáveis aos de um deus?
– Sim, senhora.
– Isso não se encaixa muito bem nos fundamentos cristãos deste país.
– Aparentemente não, mas é verdade. Essa transformação do homem em deus se chama
apoteose. Quer a senhora saiba disso ou não, esse tema é o elemento central do simbolismo desta
Rotunda.
– Apoteose? - Anderson se virou para ele com uma expressão espantada de reconhecimento.
– Sim. - Anderson trabalha aqui. Ele sabe. - A palavra apoteose significa literalmente
"transformação divina": o homem que se torna deus. Vem do grego antigo: apo, que aqui significa
"tornar-se", e theos,"deus".
Anderson parecia pasmo. - Apoteose quer dizer "virar deus"? Eu não fazia a menor ideia.
– Do que vocês estão falando? - indagou Sato.
– Minha senhora - disse Langdon -, o maior quadro deste prédio se chama A Apoteose de
Washington. E ele mostra claramente George Washington sendo transformado em deus. - Sato fez
cara de cética.
– Eu nunca vi nada desse tipo.
– Na verdade, tenho certeza de que viu, sim. - Langdon ergueu o indicador e apontou para
cima. - Está bem acima da sua cabeça. 

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