sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 23 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 23

Outra tatuagem.
Ansioso, Langdon se agachou ao lado da palma aberta de Peter e examinou os sete símbolos
diminutos escondidos sob os dedos fechados e sem vida.

– Parecem números. - Disse Langdon, surpreso. - Mas não consigo reconhecê-los.
– O primeiro é um algarismo romano. - Disse Anderson.
– Na verdade, acho que não. - Corrigiu Langdon. - O algarismo romano I-I-I-X não existe. O
certo seria V-I-I.
– E o resto? - perguntou Sato.
– Não tenho certeza. Parece 885 em algarismos arábicos.
– Arábicos? - Perguntou Anderson. - Parecem números normais.
– Os nossos algarismos normais são arábicos. - Langdon se acostumara de tal forma a
esclarecer essa questão para seus alunos que havia preparado uma palestra sobre os progressos
científicos feitos pelas culturas do Oriente Médio, entre eles o sistema numérico moderno, cujas
vantagens em relação aos algarismos romanos incluíam a "notação posicional" e a invenção do
número 0. É claro que Langdon sempre concluía a palestra lembrando que a cultura árabe também
havia legado ao mundo a palavra al-kuhl: a bebida preferida dos calouros de Harvard, conhecida
como álcool. Langdon analisou a tatuagem, sentindo-se intrigado.
– Não estou sequer seguro quanto ao 885. A caligrafia retilínea parece incomum. Talvez não
sejam números.
– Então o que são? - Perguntou Sato.
– Não tenho certeza. A tatuagem toda parece quase... Rúnica.
– Ou seja? - Indagou Sato.
– Os alfabetos rúnicos são formados apenas por linhas retas. As letras se chamam runas e eram
muitas vezes usadas em gravações em pedra, porque as curvas são mais difíceis de se esculpir.
– Se isto aqui são runas - disse Sato -, o que significam? - Langdon balançou a    cabeça
negativamente. Seu conhecimento se limitava ao mais rudimentar dos alfabetos rúnicos - o futhark -,
um sistema teutônico do século III, e aquilo ali não era futhark.

– Para ser sincero, não tenho sequer certeza de que sejam runas. Seria preciso consultar um
especialista. Existem dezenas de formas diferentes: o hãlsinge, manx, o stungnar.
– Peter Solomon é maçom, não é? - Langdon olhou para ela sem entender.
É, mas o que isso tem a ver com o que está acontecendo aqui? - Ele levantou, agigantando-se
diante da mulher baixinha.
– O senhor é quem vai me dizer. Acabou de falar que os alfabetos rúnicos são usados para
gravar pedra e, pelo que sei, os primeiros francomaçons eram artífices que trabalhavam com pedras.
Só estou mencionando isso porque, quando pedi à minha equipe para procurar uma conexão entre a
Mão dos Mistérios e Peter Solomon, a busca deles só produziu um único vínculo. - Ela fez uma
pausa, como para enfatizar a importância de sua descoberta. - Os maçons.
Langdon soltou o ar com força, lutando contra o impulso de lhe dizer a mesma coisa que vivia
repetindo a seus alunos: "Google" não é sinônimo de "pesquisa". Nessa época de buscas em massa de
palavras-chave na internet, parecia que tudo estava a ligado a tudo. O mundo estava se
transformando em uma grande e embaralhada rede de informações, cuja densidade aumentava a cada
dia. Langdon manteve um tom de voz paciente.
– Não estou surpreso com o fato de os maçons terem aparecido na pesquisa da sua equipe. Eles
são um vínculo óbvio entre Peter Solomon e vários assuntos esotéricos.
– Sim - disse Sato -, o que me faz questionar por que o senhor ainda não mencionou a
Maçonaria. Afinal de contas, professor, o senhor vem falando sobre um conhecimento secreto
protegido por uns poucos iluminados. Soa bem maçônico, não?
– Sim... E soa também como vários outros grupos esotéricos, como a Ordem Rosa-cruz, a
Cabala e os Alumbrados.
– Mas Peter Solomon é maçom... E um maçom muito poderoso, ainda por cima. Me parece
natural pensar nos maçons quando falamos sobre segredos. Só Deus sabe quanto eles amam os deles.
Langdon podia ouvir a desconfiança na voz dela.
– Se a senhora quer saber alguma coisa sobre os maçons, é muito melhor perguntar a eles.
– Na verdade - disse Sato -, prefiro perguntar a alguém em quem eu confie.
Langdon considerou aquele comentário ao mesmo tempo ignorante e ofensivo.
– Para seu governo, minha senhora, toda a filosofia maçônica se baseia nos conceitos de
honestidade e integridade. Os maçons estão entre os homens mais dignos de confiança que a senhora
jamais poderia sonhar em conhecer.
– Já tive provas do contrário.
A cada segundo que passava, Langdon gostava menos da diretora Sato. Havia passado anos
escrevendo sobre a rica tradição maçônica de iconografia e símbolos metafóricos, e sabia que a 
Maçonaria tinha sido uma das organizações mais injustamente demonizadas e mal compreendidas do
mundo. Regularmente acusados de todo tipo de coisa, de culto ao demônio até conspiração para
formar um governo único mundial, os maçons tinham também uma política de nunca reagir às
críticas, o que os tornava um alvo fácil.
– Não importa - disse Sato em tom mordaz -, estamos novamente em um impasse, Sr. Langdon.
Parece-me que ou o senhor está deixando passar alguma coisa... Ou está me escondendo algo. O
homem com quem estamos lidando disse que Peter Solomon o escolheu. - Ela encarou Langdon com
um olhar frio. - Acho que está na hora de transferirmos esta conversa para a sede da CIA. Quem sabe
lá tenhamos mais sorte.
Langdon mal registrou a ameaça de Sato. Ela havia acabado de dizer algo que ficara cravado
em sua mente. Peter Solomon o escolheu. Esse comentário, aliado à menção aos maçons, causara um
efeito estranho em Langdon. Ele baixou os olhos para o anel no dedo de Peter. Aquele era um dos
objetos mais estimados do seu amigo - uma herança da família Solomon que trazia o símbolo da
fênix de duas cabeças, o maior ícone místico do saber maçônico. O ouro cintilou sob a luz,
despertando uma antiga lembrança.
Langdon teve um sobressalto ao se lembrar do sussurro sinistro do captor de Peter. O senhor
realmente ainda não entendeu, não é? O motivo por que foi escolhido? Então, em um instante de
terror, seus pensamentos entraram em foco e a névoa se dissipou.
Na mesma hora, o objetivo de sua presença ali ficou cristalino.

A 16 quilômetros dali, enquanto dirigia rumo ao sul pela Suitland Parkway, Mal'akh sentiu uma
vibração inconfundível no banco ao seu lado. Era o iPhone de Peter Solomon, que naquele dia havia
se revelado uma poderosa ferramenta. O identificador visual de chamadas passara a exibir a imagem
de uma atraente mulher de meia-idade com longos cabelos pretos.

CHAMADA - KATHERINE SOLOMON

Mal'akh sorriu, ignorando a ligação. O destino me leva para mais perto.
Ele havia atraído Katherine Solomon até sua casa por um único motivo - descobrir se ela
possuía alguma informação que pudesse auxiliá-lo, talvez um segredo de família que o ajudasse a
localizar o que buscava. Mas era óbvio que Peter não revelara nada sobre o que vinha guardando
para si durante todos aqueles anos.
Mesmo assim, Mal'akh tinha descoberto outra coisa graças a Katherine. Algo que rendeu a ela
algumas horas a mais de vida hoje. Katherine lhe confirmara que toda a sua pesquisa se encontrava
em um só lugar, trancada na segurança de seu laboratório.
Preciso destruir tudo.
A pesquisa de Katherine estava prestes a abrir uma nova porta de compreensão e, quando isso
acontecesse, mesmo que fosse somente uma frestinha, outras viriam. Seria apenas uma questão de
tempo para que tudo mudasse. Não posso deixar isso acontecer. O mundo precisa ficar como está...
À deriva em meio à escuridão da ignorância.
O iPhone emitiu um bipe, indicando que Katherine tinha deixado uma mensagem de voz.
Mal'akh escutou o recado. "Peter, sou eu de novo". A voz de Katherine soava preocupada. "Onde
você está? Não consigo tirar minha conversa com o Dr. Abaddon da cabeça... E estou aflita. Está
tudo bem? Por favor, me ligue. Estou no laboratório." O recado terminou.
Mal'akh sorriu. Katherine deveria se preocupar menos com o irmão e mais consigo mesma. Ele
saiu da Suitland Parkway e pegou a Silver Hill Road. Pouco mais de um quilômetro depois, no
escuro, pôde ver a silhueta tênue do CAMS aninhado entre as árvores, à sua direita. O complexo todo
era protegido por uma cerca alta de fita farpada.
Um prédio seguro? Mal'akh deu uma risadinha. Sei de alguém que vai abrir a porta para mim. 

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