sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 24 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 24

A revelação se abateu sobre Langdon feito uma onda. Eu sei por que estou aqui.
Parado no centro da Rotunda, ele sentiu um poderoso impulso de se virar e sair correndo... Da
mão de Peter, do reluzente anel de ouro, dos olhos desconfiados de Sato e Anderson. Em vez disso,
ficou exatamente onde estava, apertando com mais força a bolsa de viagem pendurada no ombro.
Preciso sair daqui.
Seu maxilar se contraía à medida que sua memória repassava a cena daquela fria manhã em
Cambridge, muitos anos atrás. Eram seis da manhã e Langdon estava entrando em sua sala de aula
como sempre fazia depois das religiosas braçadas na piscina de Harvard. Os conhecidos cheiros de
pó de giz e calefação a vapor o acolheram quando atravessou a soleira. Ele deu dois passos em
direção à sua mesa, mas estacou. Alguém o esperava ali - um cavalheiro elegante, de rosto aquilino e
majestosos olhos cinzentos.
– Peter? - Langdon o encarou, chocado.
O sorriso de Peter Solomon cintilou na penumbra da sala.
– Bom dia, Robert. Surpreso com a minha visita? - Sua voz era suave, mas potente.
Langdon se aproximou depressa e apertou calorosamente a mão do amigo.
– O que um sangue azul de Yale pode estar fazendo no campus de Harvard antes do raiar do
dia?
– Missão secreta por trás das linhas inimigas. - Disse Solomon, rindo. Ele gesticulou em
direção ao abdômen de Langdon. - As braçadas estão dando frutos. Você está em boa forma.
– Só estou tentando fazer você se sentir velho. - Disse Langdon, provocando-o. - Que bom ver
você, Peter. O que houve?
– Uma curta viagem de negócios. - Respondeu o outro homem, correndo os olhos pela sala de
aula deserta. - Desculpe aparecer assim de repente, Robert, mas só tenho uns poucos minutos.
Precisava pedir uma coisa a você... Pessoalmente. Um favor.
Essa é nova. Langdon se perguntou o que um simples professor universitário poderia fazer pelo
homem que tinha tudo.
– O que você quiser. - Disse ele, grato pela oportunidade de ajudar alguém que tanto lhe dera,
sobretudo quando a vida privilegiada de Peter fora marcada por tantas tragédias. Solomon baixou a
voz.
– Eu estava pensando se você consideraria a possibilidade de cuidar de uma coisa para mim.
Langdon revirou os olhos.
– Espero que não seja de Hércules. - Certa vez, durante uma de suas viagens, Peter pedira que
o amigo tomasse conta de seu mastim de 70 quilos, chamado Hércules. Enquanto estava na casa de
Langdon, o cachorro aparentemente sentiu saudades de seu brinquedo de couro preferido e saiu à
procura de um substituto para afiar os dentes, encontrando algo à altura no escritório do professor:
uma Bíblia do século XVII, escrita à mão em velino autêntico e ornada com iluminuras.
– Ainda estou atrás de outra para lhe dar, sabia? - disse Solomon, sorrindo acanhado.
– Deixa pra lá. Fico satisfeito que Hércules tenha tido um gostinho de religião.
Solomon deu uma risadinha, mas parecia disperso.
– Robert, eu vim procurar você porque gostaria que cuidasse de uma coisa bastante valiosa
para mim. Eu a herdei faz algum tempo, mas não me sinto mais à vontade deixando-a em casa ou no
escritório.
Langdon se sentiu desconfortável na mesma hora. Qualquer coisa "bastante valiosa" no mundo
de Peter Solomon com certeza significava uma verdadeira fortuna.
– Que tal um cofre no banco? A sua família não é acionista de metade dos bancos dos Estados
Unidos?
– Isso envolveria papelada e funcionários de banco; prefiro que seja um amigo de confiança. E
sei que você sabe guardar segredos. - Solomon pôs a mão no bolso e retirou um pequeno embrulho,
entregando-o a Langdon.
Diante daquele preâmbulo dramático, Langdon esperava algo mais impressionante. O
embrulho era uma pequena caixa em forma de cubo, com cerca de 5 centímetros de altura, envolta
em um papel pardo desbotado e amarrada com barbante. A julgar pelo peso e pelo tamanho, o
conteúdo parecia ser pedra ou metal. Só isso? Langdon revirou a caixa nas mãos, percebendo então
que o barbante havia sido cuidadosamente preso na lateral com um lacre de cera em alto-relevo,
como um édito antigo. O lacre portava uma fênix de duas cabeças com o número 33 gravado no peito
- o símbolo tradicional do mais alto grau da Francomaçonaria.
– Francamente, Peter. - Disse Langdon, com um sorriso enviesado surgindo no rosto. - Você é o
Venerável Mestre de uma loja maçônica, não o Papa. Vai começar a selar embrulhos com o seu anel
agora?
Solomon baixou os olhos para o próprio anel de ouro e deu uma risadinha.
– Eu não lacrei esse pacote, Robert. Quem fez isso foi meu bisavô. Quase um século atrás.
A cabeça de Langdon se levantou de repente.
– O quê?
Solomon ergueu o anular.
– Este anel maçônico era dele. Depois disso foi do meu avô, depois do meu pai... E, por fim,
meu.
Langdon suspendeu o pacote.
– O seu bisavô embrulhou isto aqui um século atrás e ninguém nunca abriu?
– Isso mesmo.
– Mas... Por que não? - Solomon sorriu.
– Porque não chegou a hora. - Langdon o encarou sem entender.
– Hora de quê?
– Robert, eu sei que isso vai parecer estranho, mas quanto menos você souber, melhor. Apenas
guarde esse embrulho em algum lugar seguro e, por favor, não conte a ninguém que eu o entreguei a
você.
Langdon vasculhou os olhos de seu mentor em busca de uma centelha de humor. Solomon
tinha uma tendência a dramatizar as coisas, e Langdon ficou imaginando se o amigo não o estava
manipulando um pouco.
– Peter, tem certeza de que isso não é apenas um plano engenhoso para eu achar que algum
antigo segredo maçônico me foi confiado, ficar curioso e decidir entrar para a irmandade?
– Os maçons não recrutam ninguém, Robert, você sabe disso. Além do mais, você já me disse
que prefere continuar de fora. - Era verdade. Langdon tinha muito respeito pela filosofia e pelo
simbolismo maçônicos, mas, mesmo assim, decidira nunca se iniciar. Os votos de confidencialidade
da ordem o impediriam de falar sobre a Francomaçonaria com seus alunos. O mesmo motivo pelo
qual Sócrates havia se recusado a participar formalmente dos Mistérios de Elêusis. Contudo,
enquanto olhava para a misteriosa caixinha com seu lacre maçônico, não pôde deixar de fazer a
pergunta óbvia:
– Por que não deixar isto aqui aos cuidados de um dos seus irmãos maçônicos?
– Digamos apenas que meu instinto me diz que ele estará mais seguro fora da irmandade. E,
por favor, não se deixe enganar pelo tamanho desse embrulho. Se o que meu pai me contou for
verdade, ele contém algo de considerável poder. - Ele fez uma pausa. - Uma espécie de talismã.
Ele disse talismã? Por definição, um talismã era um objeto com poderes mágicos.
Tradicionalmente, eram usados para dar sorte, afastar os maus espíritos ou auxiliar em antigos
rituais.
– Peter, você sabe que os talismãs saíram de moda na Idade Média, não sabe?
Peter pousou a mão no ombro de Langdon com toda a paciência. - Sei que parece estranho,
Robert. Eu o conheço há muito tempo, e o seu ceticismo é uma das suas grandes forças como
acadêmico. Mas também é sua maior fraqueza. Eu o conheço o suficiente para saber que você não é
um homem a quem posso pedir para acreditar... Apenas para confiar. Então, agora estou pedindo que
confie em mim quando digo que esse talismã é poderoso. Tenho informações de que ele pode dar ao
seu dono a capacidade de criar ordem a partir do caos.
Langdon só conseguiu encará-lo fixamente. A ideia de "criar ordem a partir do caos" era um
dos grandes axiomas maçônicos. Ordo ab chao. Ainda assim, era um absurdo afirmar que um talismã
pudesse atribuir qualquer tipo de poder, muito menos o de criar ordem a partir do caos.
– Esse talismã - continuou Solomon - seria um perigo nas mãos erradas, e infelizmente tenho
motivos para crer que pessoas poderosas querem roubá-lo de mim. - Até onde se lembrava, Langdon
jamais tinha visto tamanha seriedade nos olhos de Peter. - Gostaria que você o mantivesse seguro
para mim por algum tempo. Pode fazer isso?
À noite, já em casa, Langdon ficou sentado sozinho à mesa da cozinha diante do embrulho,
tentando imaginar o que poderia haver lá dentro. No final das contas, pôs tudo aquilo na conta da
excentricidade de Peter, trancou o pacote no cofre de sua biblioteca e acabou se esquecendo dele por
completo.
Quer dizer... Até a manhã daquele dia.
O telefonema do homem com o sotaque sulista.
– Ah, professor, quase me esqueci! - dissera o assistente depois de lhe transmitir os detalhes
sobre sua viagem até Washington. - O Sr. Solomon pediu mais uma coisa.
– Sim? - retrucou Langdon, já pensando na palestra que acabara de concordar em fazer.
– Ele deixou um recado para o senhor. - O homem começou a ler com dificuldade, como se
estivesse tentando decifrar a caligrafia de Peter. - "Por favor, peça a Robert... Que traga... O pequeno
embrulho lacrado que lhe entreguei muitos anos atrás." - O homem fez uma pausa. - Isso faz algum
sentido para senhor?
Langdon ficou surpreso ao recordar a caixinha que passara aquele tempo todo guardada dentro
de seu cofre.
– Na verdade, faz, sim. Eu sei a que Peter está se referindo.
– E pode trazer?
– Claro. Diga a ele que vou levar.
– Maravilha. - O assistente pareceu aliviado. - Boa palestra hoje à noite. E boa viagem.
Antes de sair de casa, Langdon havia retirado o embrulho do fundo de seu cofre, colocando-o
dentro da bolsa de viagem.
Agora, estava parado dentro do Capitólio dos Estados Unidos, certo apenas de uma coisa. Peter
Solomon ficaria horrorizado se soubesse quão gravemente Langdon o havia decepcionado.

 

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