sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 25 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 25

Meu Deus, Katherine tinha razão. Como sempre. Pasma, Trish Dunne encarava os resultados
do spider de busca que se materializavam no telão de plasma à sua frente. Tinha duvidado de que a
busca fosse produzir qualquer resultado, mas, na verdade, ela já somava mais de uma dezena de
ocorrências. E outras continuavam a chegar. Uma delas em especial parecia bastante promissora.
Trish se virou e gritou na direção da biblioteca:
– Katherine? Acho que você vai querer ver isto aqui!
Há alguns anos que Trish não usava um spider de busca como aquele, e os resultados daquela
noite a deixaram espantada. Poucos anos atrás, esta busca não teria dado em nada. Agora, no entanto,
parecia que a quantidade de material digital disponível para pesquisa no mundo havia explodido a
ponto de ser possível encontrar literalmente qualquer coisa. E o que era mais incrível: uma das
palavras-chave era um termo do qual Trish nunca tinha ouvido falar... E a busca havia encontrado até
mesmo isso.
Katherine atravessou correndo a porta da sala de controle.
– O que você encontrou?
– Uma porção de candidatos. - Trish gesticulou na direção do telão de plasma. -  Cada um
desses arquivos contém todas as suas expressões-chave ipsis litteris.
Katherine ajeitou os cabelos atrás da orelha e examinou a lista.
– Antes de você se animar demais - acrescentou Trish -, posso lhe garantir que a maioria desses
documentos não é o que você está procurando. Eles são o que nós chamamos de buracos negros.
Olhe só o tamanho dos arquivos. São absolutamente enormes. Parecem pastas compactadas de
milhões de e-mails, gigantescas coleções de enciclopédias em versão integral, fóruns globais ativos
há muitos anos e assim por diante. Por causa do tamanho e do conteúdo diversificado, esses arquivos
contêm tantas palavras-chave potenciais que atraem qualquer ferramenta de busca que chegue perto
deles.
Katherine apontou para uma das ocorrências perto do início da lista.
– E este aqui?
Trish sorriu. Sua chefe estava um passo à frente, e havia encontrado o único arquivo pequeno
da lista.
– Olhos de águia. Pois é, esse é o nosso único candidato de verdade até agora. Esse arquivo é
tão pequeno que não pode ter mais que uma página ou algo assim.
– Abra-o, por favor. - Pediu Katherine.

Trish nunca imaginaria que um arquivo de uma página pudesse conter todos os estranhos
stringsde pesquisa que Katherine tinha lhe passado. No entanto, quando clicou para abrir o
arquivo, as expressões-chave estavam... Cristalinas e fáceis de encontrar no texto.
Katherine chegou mais perto, seus olhos cravados no telão de plasma.
– Mas esse arquivo foi... Editado? - Trish aquiesceu.
– Bem-vinda ao mundo dos textos digitalizados.
A edição automática havia se tornado prática corriqueira na produção de textos digitalizados.
Era um processo no qual um servidor permitia ao usuário pesquisar o texto inteiro, mas depois só
revelava uma pequena parcela deste, uma espécie de teaser, apenas o texto imediatamente adjacente
às expressões-chave requisitadas. Ao omitir a maior parte do texto, o servidor evitava a violação da
lei de direitos autorais, além de transmitir ao usuário uma mensagem intrigante: Eu tenho a
informação que você está procurando, mas, se quiser, vai ter que pagar por ela.
– Como você pode ver - disse Trish, usando a barra de rolagem para permitir correr a página
extremamente resumida -, o documento contém todas as suas expressões-chave.
Katherine ficou encarando o arquivo editado em silêncio. Trish lhe deu um minuto e então
subiu novamente até o topo da página. Todas as expressões-chave de Katherine estavam sublinhadas
e em maiúsculas, acompanhadas por uma pequena amostra de texto - as duas palavras que
antecediam e as duas que sucediam a expressão requisitada.

Trish nem imaginava a que podia se referir aquele arquivo. E que raios quer dizer "symbolon"?
Katherine se aproximou ainda mais do monitor, ansiosa.
– De onde veio esse arquivo? Quem o escreveu?
Trish já estava buscando as respostas. - Só um segundo. Estou tentando rastrear a origem.
– Preciso saber quem escreveu isso. - Repetiu Katherine, ríspida. - Preciso ver resto.
– Estou tentando. - Disse Trish, surpresa com o tom da chefe. Estranhamente, o local onde o
arquivo estava armazenado não exibia um endereço convencional da web, mas sim um endereço
numérico de IP, ou Protocolo de Internet.
– Não consigo exibir o IP. - Disse Trish. - O nome do domínio não está aparecendo. Espere aí. -
Ela fez surgir sua janela de terminal. - Vou rodar um traceroute.
Trish digitou a sequência de comandos para dar um ping e rastrear a rota entre o computador
da sua sala de controle e qualquer que fosse a máquina que estivesse armazenando aquele arquivo.
– Rastreando. - Disse ela, executando o comando.
As ferramentas de rastreamento de rota eram extremamente velozes, e uma longa lista de
servidores surgiu quase no mesmo instante no telão de plasma. Trish foi descendo a lista...
Percorrendo o caminho de roteadores e switches que conectavam sua máquina a...
Mas que inferno! A ferramenta havia parado antes de chegar ao servidor do arquivo. Por algum
motivo, o seu ping tinha batido em um servidor que o engolira em vez de mandá-la de volta.
– Parece que o meu traceroute ficou bloqueado. - Disse Trish. Mas será possível?
– Execute de novo.
Trish acionou outro traceroute e obteve o mesmo resultado.
– Nada. Beco sem saída. É como se esse arquivo estivesse em um servidor impossível de
rastrear. - Ela olhou para os últimos dados obtidos antes de a sequência se interromper. - Mas uma
coisa eu posso dizer: ele está situado em algum lugar na capital.
– Está brincando.
– Não é nenhuma surpresa. - Disse Trish. - Esses spiders de busca se propagam
geograficamente em espiral, o que significa que os primeiros resultados sempre são próximos. Além
disso, um dos seus strings de pesquisa foi "Washington, D.C.".
– E que tal uma busca no Whois? - Sugeriu Katherine, referindo-se ao site de pesquisas de
domínio por meio do endereço de IP. - Não diria a quem pertence o domínio? Meio coisa de leigo,
mas não é má ideia. - Trish acessou o Whois e fez uma busca do IP, esperando que os números
cifrados correspondessem a algum domínio existente. Sua frustração agora se misturava a uma
curiosidade cada vez maior. Quem está com esse arquivo? Os resultados do Whois apareceram logo,
sem encontrar nada, e Trish ergueu as mãos num gesto de derrota.
É como se esse endereço de IP não existisse. Não consigo encontrar nenhuma informação
sobre ele.
É óbvio que o IP existe. Nós acabamos de pesquisar um arquivo armazenado nele!
É verdade. No entanto, quem quer que possuísse aquele arquivo aparentemente preferia não
revelar sua identidade.
– Não sei muito bem o que dizer. Rastreamento de sistemas, na verdade, não é minha
especialidade e, a menos que você queira ligar para alguém com talentos de hacker, eu não sei o que
fazer.
– Você conhece alguém?
Trish se virou para encarar a chefe.
– Katherine, eu estava brincando. Não é exatamente uma boa ideia.
– Mas as pessoas fazem isso? - Ela verificou o relógio.
– Hã, sim... O tempo todo. Tecnicamente falando, é bem fácil.
– Quem você conhece?
– Que seja hacker? - Trish deu uma risada nervosa. - Tipo metade dos caras do meu antigo
emprego.
– Alguém em quem você confie?
Ela está falando sério? Trish podia ver que sim, e muito.
– Bom, sim. - Respondeu ela depressa. - Conheço um cara para quem poderíamos ligar. Ele era
nosso especialista em segurança de sistemas... Um nerd de carteirinha. Queria sair comigo, o que era
meio constrangedor, mas é um cara legal e eu confio nele. Além disso, ele trabalha como freelance.
– Ele sabe ser discreto?
– Ele é hacker. É claro que sabe ser discreto. É o trabalho dele. Mas tenho certeza de que iria
querer pelo menos mil pratas só para olhar...
– Ligue para ele. Ofereça o dobro se os resultados saírem rápido.
Trish não sabia o que a deixava mais desconfortável: ajudar Katherine Solomon a contratar um
hacker... Ou ligar para um cara que provavelmente ainda achava inacreditável que uma analista de
metassistemas ruiva, baixinha e gorducha pudesse resistir a suas investidas românticas.
– Tem certeza disso?
– Pode usar o telefone da biblioteca. - Disse Katherine. - O número é protegido. E não diga
meu nome, claro.
– Está bem. - Trish se encaminhou para a porta, mas parou ao ouvir o toque do iPhone de
Katherine. Com sorte, a mensagem de texto que havia acabado de chegar continha alguma
informação capaz de livrá-la daquela tarefa desagradável. Ela esperou Katherine retirar o iPhone do
bolso do jaleco e olhar para a tela.
Katherine sentiu uma onda de alívio ao ver o nome escrito em seu iPhone.
Finalmente.

PETER SOLOMON

É um torpedo do meu irmão. - Disse ela, relanceando os olhos para Trish.
O rosto de Trish se encheu de esperança.
– Então talvez devêssemos perguntar a ele sobre essa história toda... Antes de ligar para um
hacker?
Katherine olhou para o documento editado no telão de plasma e ouviu a voz do Dr. Abaddon.
Aquilo que seu irmão acredita que está escondido na capital... Pode ser encontrado. Ela não sabia
mais no que acreditar, e aquele documento continha informações sobre as ideias estapafúrdias que
aparentemente haviam se tornado uma obsessão para Peter. Katherine fez que não com a cabeça.
– Eu quero saber quem escreveu isso e onde o arquivo está armazenado. Pode ligar.
Meio desanimada, Trish encaminhou-se para a porta. Quer aquele arquivo pudesse ou não
desvendar o que estava por trás da história que Peter havia contado ao Dr. Abaddon, pelo menos um
mistério fora solucionado naquele dia, pensou Katherine. Seu irmão finalmente havia aprendido a
usar a função de mensagens de texto do iPhone que ela lhe dera de presente.
– E avise a imprensa. - Disse Katherine enquanto Trish saía. - O grande Peter Solomon acaba
de mandar seu primeiro torpedo.

No estacionamento de um pequeno centro comercial em frente ao CAMS, Mal'akh estava em
pé ao lado de sua limusine, esticando as pernas e esperando o telefonema que, não tinha dúvidas,
receberia em breve. Havia parado de chover e uma lua de inverno começara a surgir entre as nuvens.
A mesma lua que o iluminara através da clarabóia da Casa do Templo durante sua iniciação três
meses antes. O mundo parece diferente hoje à noite.
Enquanto ele esperava, sua barriga tornou a roncar. O jejum de dois dias, embora
desconfortável, era essencial para sua preparação. Esse era o costume antigo. Logo todos os
desconfortos físicos já não teriam a menor importância. No ar frio da noite, Mal'akh deu uma
risadinha ao ver que o destino o fizera parar, de forma bastante irônica, bem em frente a uma
pequena igreja. Ali, entre uma clínica dentária e um mercadinho, aninhava-se um minúsculo
santuário. CASA DA GLÓRIA DE DEUS.
Mal'akh olhou para o letreiro com a doutrina da Igreja: NÓS ACREDITAMOS QUE JESUS
CRISTO FOI CONCEBIDO PELO ESPÍRITO SANTO, QUE NASCEU DA VIRGEM MARIA E
QUE É AO MESMO TEMPO HOMEM E DEUS.
Mal'akh sorriu. Sim, Jesus é de fato as duas coisas - homem e Deus -, mas ter nascido de uma
virgem não é pré-requisito para a divindade. Não é assim que acontece. O toque de um celular varou
o silêncio da noite, fazendo sua pulsação se acelerar. Era o telefone de Mal'akh - um aparelho barato
e descartável que ele havia comprado na véspera. O identificador de chamadas mostrava que era a
ligação que ele estava esperando.
Uma chamada local, ponderou Mal'akh, olhando para o outro lado da Silver Hill Road, em
direção à silhueta indistinta, iluminada pelo luar, de um telhado em zigue-zague que se erguia acima
das copas das árvores. Mal'akh abriu o telefone.
– Dr. Abaddon falando. - Disse ele, forçando a voz a ficar mais grave.
É Katherine. - Respondeu a voz da mulher. - Finalmente tive notícias do meu irmão.
– Ah, que alívio. Como ele está?
– Está a caminho do meu laboratório agora mesmo. - Disse Katherine. - Na verdade, ele
sugeriu que você se juntasse a nós.
– Como? - Mal'akh fingiu hesitar. - No seu laboratório?
– Ele deve confiar muito em você. Nunca convida ninguém a vir aqui.
– Talvez ele ache que uma visita possa facilitar as nossas conversas, mas fico me sentindo um
intruso.
– Se meu irmão está dizendo que você é bem-vindo, então você é bem-vindo. Além do mais,
ele falou que tem muitas coisas para nos contar, e eu adoraria entender direito o que está
acontecendo.
– Então está bem. Onde exatamente fica o seu laboratório? 
– No Centro de Apoio dos Museus Smithsonian. Você sabe onde é?
– Não. - Disse Mal'akh, olhando para o complexo do outro lado da rua. - Mas estou no carro
agora e tenho um GPS. Qual é o endereço?
– Silver Hill Road, 4.210.
– Certo, espere um instante. Vou digitá-lo aqui. - Mal'akh aguardou 10 segundos e então tornou
a falar.
– Ah, que bom, parece que fica mais perto do que eu pensava. Segundo o GPS, estou a uns 10
minutos daí.
Ótimo. Vou ligar para a guarita e avisar que está chegando.
– Obrigado.
– Até daqui a pouco.
Mal'akh guardou o telefone descartável no bolso e olhou na direção do CAMS. Será que foi
grosseria eu me convidar? Sorrindo, sacou o iPhone de Peter Solomon e admirou a mensagem de
texto que tinha mandado para Katherine minutos antes.

Recebi suas mensagens. Está tudo bem. Dia cheio. Esqueci consulta com Dr.
Abaddon. Desculpe não ter falado nele antes. Longa história. Estou indo para o
laboratório. Peça ao Dr. Abaddon que nos encontre lá, se puder. Confio totalmente nele e
tenho muito a dizer a vocês dois. - Peter

Conforme o esperado, o iPhone de Peter apitou em seguida com a resposta de Katherine.

peter, parabéns por aprender a mandar torpedos! aliviada por você estar bem. falei
com o Dr. A. e ele está vindo. até já! - k

Segurando com firmeza o iPhone de Solomon, Mal'akh se agachou ao lado da limusine e
posicionou o aparelho entre o pneu dianteiro e o asfalto. Aquele telefone tinha sido muito útil... Mas
já estava na hora de evitar que pudessem rastreá-lo. Ele se sentou no banco do motorista, ligou o
carro e avançou até ouvir o estalo nítido do iPhone se partindo. Depois Mal'akh desligou novamente
o carro e olhou para a silhueta distante do CAMS. Dez minutos. O imenso depósito de Peter
Solomon abrigava mais de 30 milhões de tesouros, mas Mal'akh tinha ido até ali aquela noite para
destruir apenas os dois mais valiosos. A pesquisa de Katherine Solomon. E a própria Katherine
Solomon.

 

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