sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 26 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 26

– Professor Langdon? - Disse Sato. - O senhor parece ter visto um fantasma. Está tudo bem?
Langdon puxou a bolsa de viagem mais para cima do ombro e colocou a mão sobre ela, como
se de alguma forma isso pudesse ocultar o pacote em forma de cubo que ele estava carregando. Podia
sentir que seu rosto tinha ficado pálido.
– Eu só estou... Preocupado com Peter.
Sato inclinou a cabeça, olhando enviesado para ele. Langdon teve um súbito receio de que o
envolvimento de Sato naquela noite pudesse ter alguma relação com o pequeno embrulho que
Solomon lhe havia confiado. Peter tinha avisado a Langdon: Pessoas poderosas vão tentar roubar
isso. Seria perigoso nas mãos erradas. Langdon não podia imaginar por que a CIA iria querer uma
caixinha contendo um talismã... Ou aquilo que ele poderia se tornar. Ordo ab chao? Sato chegou mais
perto, examinando-o com os olhos negros.
– Sinto que o senhor teve uma revelação, estou certa? - Langdon percebeu que estava suando.
– Não, não exatamente.
– Em que está pensando?
– Eu só... - Langdon hesitou, sem ter a menor ideia do que dizer. Não pretendia revelar a
existência do pacote, mas, se Sato o levasse para a CIA, sua bolsa provavelmente seria revistada na
entrada.
– Na verdade - mentiu ele -, tive outra ideia em relação ao número na mão de Peter.
A expressão de Sato nada revelou.
– Sim? - Ela olhou de esguelha para Anderson, que estava voltando depois de receber a equipe
de criminalística que finalmente chegara.
Langdon engoliu em seco e se agachou ao lado da mão, perguntando-se o que poderia inventar
para lhes dizer. Você é professor, Robert, improvise! Deu uma última olhada nos sete símbolos
diminutos, torcendo para ter algum tipo de inspiração.

Nada. Branco total.
À medida que a memória fotográfica de Langdon ia percorrendo sua enciclopédia mental de
símbolos, ele só conseguiu encontrar uma coisa para dizer. Era algo que havia lhe ocorrido
inicialmente, mas que parecia improvável. No momento, porém, ele precisava ganhar tempo para
pensar. 
– Bem - começou ele -, para um simbologista, a primeira pista de que ele está no caminho
errado ao decifrar símbolos e códigos é quando começa a interpretá-los usando linguagens
simbólicas múltiplas. Por exemplo, quando eu lhes disse que este texto estava escrito em romano e
arábico, fiz uma análise ruim, pois usei mais de um sistema simbólico. O mesmo vale para
algarismos romanos e runas.
Sato cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas como quem diz: "Continue."
– Em geral, as comunicações são feitas em uma linguagem, não em várias, então, a primeira
tarefa de um simbologista diante de qualquer texto é encontrar um único sistema simbólico coerente
que se aplique a ele como um todo.
– E o senhor está vendo um sistema único agora?
– Bem, sim... E não. - A experiência de Langdon com a simetria rotacional dos ambigramas lhe
ensinara que os símbolos às vezes tinham significados diferentes dependendo do ângulo em que eram
vistos. No caso em questão, ele percebeu que havia de fato um modo de ver todos os sete símbolos
como uma mesma língua. - Se manipularmos um pouco a mão, a linguagem se tornará coerente. - De
forma sinistra, a manipulação que Langdon estava prestes a realizar parecia já ter sido sugerida pelo
sequestrador de Peter, quando ele mencionou o antigo adágio hermético. Assim em cima como
embaixo.
Langdon sentiu um calafrio ao estender o braço para segurar a base de madeira em que a mão
de Peter estava presa. Delicadamente, virou a base de cabeça para baixo, de forma que os dedos
estendidos de Peter passaram a apontar para o chão. Os símbolos impressos na palma se
transformaram no mesmo instante.

– Deste ângulo - disse Langdon -, o X-I-I-I se torna um algarismo romano válido: 13. Além
disso, o restante dos caracteres pode ser interpretado usando o alfabeto romano: SBB. - Langdon
imaginou que sua análise fosse provocar muxoxos desinteressados, mas a expressão de Anderson
mudou imediatamente.
– SBB? - perguntou o chefe. Sato se virou para Anderson.
– Se não me engano, isso parece um sistema de numeração bem conhecido aqui no Capitólio.
Anderson estava pálido.
É.
Sato abriu um sorriso amargo e meneou a cabeça para Anderson.
– Chefe, venha comigo, por favor. Gostaria de uma palavrinha em particular.
Enquanto a diretora Sato conduzia o chefe Anderson para um lugar em que não pudessem ser
ouvidos, Langdon ficou parado sozinho, sem conseguir acreditar naquilo. Que diabos está
acontecendo aqui? E o que é SBB XIII?

O chefe Anderson se perguntava se haveria alguma forma de aquela noite ficar mais estranha.
A mão está dizendo SBB13? Ele estava pasmo que alguma pessoa de fora sequer tivesse ouvido falar
em SBB.. Quanto mais em SBB13. Pelo jeito, o indicador de Peter Solomon não os estava
conduzindo para cima, como pareceu no começo, mas apontando justamente na direção oposta.
A diretora Sato conduziu Anderson até uma área sem movimento, perto da estátua de bronze de
Thomas Jefferson.
– Chefe - disse ela -, imagino que o senhor saiba exatamente onde fica a SBB13.
– Claro.
– Sabe o que tem lá dentro?
– Não, assim de cabeça, não. Acho que não é usada há décadas.
– Bem, o senhor vai abri-la para mim.
Anderson não gostava que lhe dissessem o que fazer em seu próprio prédio.
– Diretora, não é tão simples assim. Primeiro vou ter que verificar a lista dos usuários... Como
a senhora sabe, a maior parte dos níveis inferiores é ocupada por salas particulares ou depósitos, e o
protocolo de segurança em relação ao uso privado...
– O senhor vai destrancar a SBB13 para mim - disse Sato -, ou então eu vou ligar para o ES e
chamar uma equipe com uma marreta para derrubar a porta.
Depois de encarar a diretora longamente, Anderson sacou o rádio e levou-o em direção à boca.
– Aqui é Anderson. Preciso que destranquem o SBB para mim. Mande alguém me encontrar lá
em cinco minutos.
A voz que respondeu soou confusa.
– Chefe, confirmando, o senhor disse SBB?
– Correto. SBB. Mande alguém agora mesmo. E vou precisar de uma lanterna. - Ele guardou o
rádio. O coração de Anderson disparou quando Sato chegou bem perto dele, abaixando ainda mais a
voz.
– Chefe, o tempo é curto - sussurrou ela -, e eu quero que o senhor nos faça descer até a SBB13
o mais rápido possível.
– Sim, senhora.
– Também preciso de outra coisa do senhor.
Além de arrombamento seguido de invasão? Anderson não estava em condições de protestar,
mas não lhe passara despercebido que Sato havia chegado ali poucos minutos depois de a mão de
Peter aparecer na Rotunda e que ela agora estava usando a situação para exigir acesso a áreas
privadas do Capitólio. Naquela noite, a diretora estava tão à frente deles que parecia estar traçando o
caminho.
Sato gesticulou para o outro lado da sala, na direção do professor.
– Está vendo aquela bolsa de viagem no ombro de Langdon? - Anderson olhou para lá.
– O que tem?
– Suponho que ela tenha passado pelo equipamento de raios X quando entrou no prédio.
– Claro. Todas as bolsas são verificadas.
– Eu quero ver esse raio X. Preciso saber o que há lá dentro. - Anderson olhou para a bolsa que
Langdon carregara a noite inteira para lá e para cá.
– Mas... Não seria mais fácil simplesmente pedir a ele?
– Qual foi a parte do meu pedido que não ficou clara?
Anderson tornou a sacar o rádio e transmitiu o pedido da diretora. Sato lhe deu o endereço de
e-mail do seu BlackBerry e solicitou que a cópia digital do raio X fosse enviada o mais rápido
possível. Com relutância, Anderson concordou. Àquela altura, a equipe de criminalística estava
levando a mão cortada para a polícia do Capitólio, mas Sato ordenou que ela fosse entregue
diretamente à sua equipe em Langley. Anderson estava cansado demais para protestar. Tinha acabado
de ser atropelado por um rolo compressor japonês.
– E eu quero aquele anel. - Exclamou Sato na direção dos peritos.
O chefe da perícia parecia prestes a questioná-la, mas mudou de ideia. Retirou o anel de ouro
da mão de Peter, colocou-o dentro de um saco plástico transparente e entregou-o a Sato. A diretora o
guardou no bolso do blazer e em seguida se virou para Langdon.
– Estamos de saída, professor. Traga suas coisas.
– Para onde nós vamos? - Retrucou Langdon.
– Apenas siga o Sr. Anderson.
Isso mesmo, pensou Anderson, e bem de perto. O SBB era uma área do Capitólio que poucos já
haviam visitado. Para chegar lá, eles teriam de atravessar um vasto labirinto de pequenas câmaras e
corredores estreitos enterrados sob a cripta. O filho caçula de Abraham Lincoln, Tad, certa vez quase
morreu ao se perder lá embaixo. E Anderson estava começando a desconfiar que, se as coisas
corressem como Sato queria, Robert Langdon talvez tivesse um destino semelhante.

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