sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 30 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 30

Nível SB.
Subsolo do Senado.
A claustrofobia de Robert Langdon se apoderava dele com mais força a cada degrau descido às
pressas. À medida que eles penetravam mais fundo nos alicerces originais do prédio, o ar se tornava
mais pesado e a ventilação parecia inexistente. As paredes ali embaixo eram feitas de uma mistura
irregular de pedra e tijolos amarelos.
Enquanto andavam, a diretora Sato digitava em seu BlackBerry. Langdon percebia uma certa
desconfiança no comportamento contido da mulher, mas essa sensação estava rapidamente se
tornando recíproca. Sato ainda não havia contado como soubera que ele estava ali naquela noite.
Questão de segurança nacional? Ele achava difícil estabelecer qualquer relação entre misticismo
antigo e a segurança do país. Mas, pensando bem, estava com dificuldade de entender qualquer coisa
relativa àquela situação.
Peter Solomon me confiou um talismã... Um louco delirante me enganou para que eu o
trouxesse até o Capitólio e quer que eu o use para destrancar um portal místico... Que talvez esteja
dentro de uma sala chamada SBB13. Não era exatamente uma situação clara.
Enquanto prosseguiam, Langdon tentava afastar a horrível imagem da mão tatuada de Peter
transformada na Mão dos Mistérios. Aquela cena dantesca era acompanhada pela voz de seu amigo:
Os Antigos Mistérios, Robert, deram origem a muitos mitos... Mas isso não significa que eles
próprios sejam uma ficção.
Apesar de uma carreira inteira dedicada ao estudo dos símbolos e da história do misticismo,
Langdon sempre havia se debatido intelectualmente com a ideia dos Antigos Mistérios e sua
poderosa promessa de apoteose. Reconhecidamente, os registros históricos continham indícios
irrefutáveis de que um saber secreto aparentemente originado nas Escolas de Mistérios do Antigo
Egito tinha sido transmitido ao longo dos tempos. Esse conhecimento se tornou clandestino,
ressurgindo na Europa renascentista quando, segundo a maioria dos relatos, foi confiado a um grupo
de elite de cientistas que trabalhava no mais importante think tank científico da Europa - a Real
Sociedade de Londres -, enigmaticamente apelidado de Colégio Invisível.
O "colégio" oculto se tornou rapidamente um "grupo de notáveis" que incluía as mentes mais
esclarecidas do mundo - as de Isaac Newton, Francis Bacon, Robert Boyle e até mesmo Benjamin
Franklin. Em nossa era, sua lista de "membros" modernos não se mostrou menos impressionante -
Einstein, Hawking, Bohr e Celsius. Todas essas grandes mentes efetuaram saltos quânticos no que

diz respeito ao conhecimento humano, avanços que, segundo alguns, eram resultado de seu contato
com um saber antigo conservado no Colégio Invisível. Langdon duvidava que isso fosse verdade,
embora com certeza uma quantidade singular de "trabalho místico" tivesse ocorrido entre aquelas
paredes. A descoberta dos papéis secretos de Isaac Newton em 1936 deixara o mundo pasmo ao
revelar sua intensa paixão pelo estudo da alquimia antiga e do saber místico. Os escritos particulares
de Newton incluíam uma carta manuscrita endereçada a Robert Boyle, na qual ele exortava o colega
a guardar "total silêncio" sobre o conhecimento místico que lhes havia sido revelado. "Ele não pode
ser divulgado", escreveu Newton, "sem imensos danos para o mundo." O significado desse estranho
aviso era alvo de debates até hoje.
– Professor - falou Sato de repente, erguendo os olhos do BlackBerry -, apesar de o senhor
insistir que nem imagina por que está aqui hoje, talvez possa esclarecer o significado do anel de Peter
Solomon.
– Eu posso tentar. - Disse Langdon, abandonando seus devaneios.
Ela pegou o saco plástico da perícia e o entregou a Langdon.
– Me fale sobre os símbolos desse anel.
Enquanto avançavam pelo corredor deserto, Langdon examinou o conhecido anel. A face
exibia a imagem de uma fênix de duas cabeças, com o número 33 gravado no peito, segurando um
estandarte que dizia ORDO AB CHAO.
– A fênix de duas cabeças com o número 33 é o emblema do mais alto grau maçônico. -
Tecnicamente, esse grau prestigioso só existia no Rito Escocês. No entanto, os ritos e graus da
Maçonaria formavam uma hierarquia complexa que Langdon não estava disposto a esmiuçar para
Sato naquela noite. - Em essência, o grau 33 é uma honraria de elite reservada a um pequeno grupo
de maçons altamente qualificados. Todos os outros graus podem ser alcançados por meio da
conclusão bem-sucedida do anterior, mas a ascensão ao grau 33 é restrita. Ela só ocorre mediante um
convite.
– Então, o senhor sabia que Peter Solomon era membro desse círculo interno de elite?
É claro. Fazer parte desse grupo não chega a ser um segredo.
– E ele é o oficial de maior patente desse círculo?
– Atualmente, sim. Peter lidera o Supremo Conselho do Grau 33, a instituição que governa o
Rito Escocês nos Estados Unidos.
Langdon sempre adorou visitar a sede do Supremo Conselho, chamada Casa do Templo, uma
obra-prima da arquitetura clássica cuja ornamentação simbólica era comparável à da Capela Rosslyn,
na Escócia.
– Professor, o senhor reparou no que está gravado na lateral do anel? Ela traz as palavras:
"Tudo é revelado no grau 33". - Langdon assentiu.
É um tema comum na tradição maçônica.
– O que significa, imagino eu, que se um maçom é aceito no grau mais alto, o grau 33, então
alguma coisa especial lhe é revelada?
– Sim, é essa a crença, mas provavelmente não a realidade. Sempre houve especulações
conspiratórias segundo as quais uns poucos escolhidos dentro do mais alto escalão da Maçonaria
seriam apresentados a algum grande segredo místico. Desconfio que a verdade seja muito menos
espetacular.
Peter Solomon costumava fazer alusões jocosas à existência de um precioso segredo maçônico,
mas Langdon sempre achou que aquilo fosse apenas uma tentativa espirituosa de convencê-lo a
entrar para a irmandade. Infelizmente, os acontecimentos daquela noite não tinham sido nem um
pouco divertidos, e não havia humor algum no tom sério com que Peter insistira que Langdon
protegesse o embrulho lacrado que estava dentro de sua bolsa.
Desconsolado, Langdon lançou um olhar para o saco plástico que continha o anel de ouro de
Peter.
– Diretora - começou ele -, a senhora se importa que eu fique com isso?
Ela olhou na sua direção.
– Por quê?
– Este anel é muito valioso para Peter, e eu gostaria de devolvê-lo para ele hoje à noite.
Ela fez cara de cética.
– Tomara que o senhor tenha essa oportunidade.
– Obrigado. - Langdon guardou o anel no bolso.
– Mais uma pergunta. - Disse Sato enquanto eles se embrenhavam cada vez mais no labirinto a
passos rápidos. - Minha equipe disse que, ao cruzar os conceitos de "grau 33" e "portal" com
"Maçonaria", encontrou literalmente centenas de referências a uma "pirâmide". É isso mesmo?
– Isso também não é surpresa. - Disse Langdon. - Os construtores de pirâmides do Egito são os
precursores dos pedreiros modernos, e a pirâmide, assim como os temas egípcios, é muito comum no
simbolismo maçônico.
– E ela simboliza o quê?
– A pirâmide representa essencialmente a iluminação. É um símbolo arquitetônico
emblemático da capacidade dos homens antigos de se libertarem do plano terrestre e ascenderem
rumo ao céu, ao sol dourado e, por fim, à fonte suprema da iluminação.
Ela aguardou alguns instantes.
– Só isso?
Só isso?! Langdon tinha acabado de descrever um dos símbolos mais elegantes da história. A
estrutura por meio da qual o homem ascendia ao reino dos deuses.
– Segundo a minha equipe - disse ela -, parece que hoje à noite existe uma conexão muito mais
relevante. Eles estão me dizendo que existe uma lenda popular sobre uma pirâmide específica aqui
em Washington... Uma pirâmide relacionada aos maçons e aos Antigos Mistérios. É verdade?
Langdon percebeu então a que ela estava se referindo e tentou dissuadi-la da ideia antes que
perdessem mais tempo.
– Eu conheço essa lenda, diretora, mas ela é pura fantasia. A Pirâmide Maçônica é um dos
mitos mais duradouros de Washington, e provavelmente sua origem é a pirâmide que aparece no
Grande Selo dos Estados Unidos.
– Por que o senhor não mencionou isso antes? - Langdon deu de ombros.
– Porque não existe nenhum fato que fundamente isso. Como eu disse, trata-se de um mito.
Um dos muitos associados aos maçons.
– E, no entanto, esse mito em especial tem relação direta com os Antigos Mistérios?
– Claro, como vários outros. Os Antigos Mistérios são a base de inúmeras lendas que
sobreviveram ao longo da história... Relatos sobre um poderoso saber protegido por guardiões
secretos como os Cavaleiros Templários, a Ordem Rosa-cruz, os Illuminati, os Alumbrados... A lista
não tem fim. Todas essas lendas têm por base os Antigos Mistérios... E a Pirâmide Maçônica é
apenas um exemplo.
– Entendo. - Disse Sato. - E o que diz essa lenda exatamente? - Langdon  refletiu  um  pouco  
enquanto   andava,   depois respondeu:
– Bem, eu não sou especialista em teoria da conspiração, mas tenho formação em mitologia e a
maioria dos relatos diz mais ou menos o seguinte: os Antigos Mistérios... O saber perdido de todas as
épocas... São considerados há muito tempo o tesouro mais sagrado da humanidade e, como todos os
grandes tesouros, eles foram cuidadosamente protegidos. Os sábios iluminados que compreendiam o
verdadeiro poder desse conhecimento aprenderam a temer seu assombroso potencial. Eles sabiam
que, se ele caísse nas mãos de não iniciados, os resultados poderiam ser desastrosos. Como já disse,
ferramentas poderosas podem ser usadas para o bem ou para o mal. Assim, de modo a proteger os
Antigos Mistérios, e consequentemente a humanidade, os primeiros adeptos formaram fraternidades
secretas. Dentro dessas irmandades, eles só compartilhavam seu saber com aqueles devidamente
iniciados, transmitindo o conhecimento de sábio para sábio. Muitos acreditam que podemos olhar
para trás e enxergar os vestígios históricos daqueles que dominavam os Mistérios... Nas histórias de
feiticeiros, mágicos e curandeiros.
– E a Pirâmide Maçônica? - Perguntou Sato. - Onde ela se encaixa?
– Bem - disse Langdon, apertando o passo para acompanhar o ritmo dos outros -, é nesse ponto
que história e mito começam a se fundir. Segundo alguns relatos, na Europa do século XVI quase
todas essas fraternidades secretas já haviam desaparecido, a maioria exterminada pela maré crescente
de perseguição religiosa. Dizem que os francomaçons se tornaram os últimos guardiões
sobreviventes dos Antigos Mistérios. Compreensivelmente, eles temiam que, se a sua irmandade um
dia se extinguisse como as que a precederam, os Antigos Mistérios se perderiam para sempre.
– E a pirâmide? - Tornou a pressionar Sato. Langdon estava chegando lá.
– A lenda da Pirâmide Maçônica é bem simples. Segundo ela, no intuito de cumprir sua tarefa
de proteger esse grande saber para as gerações futuras, os maçons decidiram escondê-lo dentro de
uma fortaleza. - Langdon tentou organizar suas lembranças sobre aquela história. - Mais uma vez,
ressalto que isso tudo é um mito, mas os maçons supostamente transportaram seu conhecimento
secreto do Velho Mundo para o Novo Mundo, aqui para os Estados Unidos, uma terra que esperavam
continuar livre da tirania religiosa. E aqui construíram uma fortaleza impenetrável, uma pirâmide
oculta, criada para proteger os Antigos Mistérios até o momento em que toda a humanidade estivesse
pronta para lidar com o assombroso poder que esse conhecimento era capaz de conferir. Segundo o
mito, os maçons coroaram sua grande pirâmide com uma brilhante pedra de ouro maciço, símbolo do
precioso tesouro guardado lá dentro: o saber antigo capaz de dar à humanidade o poder de realizar
todo o seu potencial. De alcançar a apoteose.
– Uma história e tanto. - Comentou Sato.
É. Os maçons são vítimas de todo tipo de lenda maluca.
– Evidentemente o senhor não acredita na existência dessa pirâmide.
É claro que não. - Respondeu Langdon. - Não existe nenhuma prova sugerindo que nossos
pais fundadores maçons tenham construído qualquer tipo de pirâmide nos Estados Unidos, muito
menos na capital. É bem difícil esconder uma pirâmide, sobretudo uma com tamanho suficiente para
conter o saber perdido de todas as épocas.
A lenda, pelo que Langdon se lembrava, nunca explicava exatamente o que a Pirâmide
Maçônica continha - textos antigos, escritos ocultos, revelações científicas ou algo muito mais
misterioso -, mas o que ela dizia era que a preciosa informação guardada lá dentro estava
engenhosamente codificada... E só podia ser compreendida pelos espíritos mais esclarecidos.
– De toda forma - disse Langdon -, essa história entra numa categoria que nós, simbologistas,
chamamos de "híbrido arquetípico": uma mistura de outras lendas clássicas que toma emprestados
tantos elementos da mitologia popular que não pode ser outra coisa além de um construto fictício... E
não um fato histórico.
Quando Landgon ensinava a seus alunos sobre os híbridos arquetípicos, gostava de usar o
exemplo dos contos de fadas, que eram recontados geração após geração e exagerados com o passar
do tempo, tomando tanta coisa emprestada uns dos outros que se transformavam em contos morais
homogeneizados, contendo os mesmos elementos icônicos: donzelas virginais, belos príncipes,
fortalezas impenetráveis e magos poderosos. Graças aos contos de fadas, essa batalha primitiva do
"bem contra o mal" é implantada em nossa mente quando ainda somos crianças: Merlin contra a
Fada Morgana, São Jorge contra o dragão, Davi contra Golias, Branca de Neve contra a bruxa e até
mesmo Luke Skywalker contra Darth Vader.
Sato coçou a cabeça enquanto eles faziam uma curva e desciam um curto lance de escada atrás
de Anderson.
– Me diga uma coisa. Se não me engano, as pirâmides antigamente eram consideradas portais
místicos por meio dos quais os faraós mortos podiam ascender até os deuses, não é
É.
Sato parou onde estava e segurou o braço de Langdon, fuzilando-o com uma expressão entre a
surpresa e a incredulidade.
– O senhor quer que eu acredite que nunca lhe passou pela cabeça que o portal escondido que o
sequestrador de Peter Solomon lhe disse para achar fosse a Pirâmide Maçônica dessa lenda?
Pouco importa. 
– A Pirâmide Maçônica é um conto de fadas. É pura fantasia.
Sato então chegou mais perto de Langdon e ele pode sentir seu hálito de cigarro.
– Entendo sua posição quanto a isso, professor, mas, no que diz respeito à minha investigação,
é difícil ignorar esse paralelo. Um portal que conduz a um saber secreto... Isso está me parecendo
muito com o que o captor de Peter Solomon diz que só o senhor pode destrancar.
– Bom, eu não posso acreditar que...
– O que o senhor acredita não interessa. Qualquer que seja a sua crença, o senhor precisa
admitir que esse homem talvez acredite que a Pirâmide Maçônica é real.
– Esse homem é louco! Ele pode muito bem acreditar que a SBB13 é a entrada para uma
pirâmide subterrânea gigante que contém todo o saber perdido dos antigos!
Sato permaneceu totalmente imóvel, com os olhos em brasa.
– A crise que estou enfrentando hoje não é um conto de fadas, professor. Ela é bem real, eu lhe
garanto.
Um silêncio frio pairou entre eles.
– Senhora? - disse Anderson por fim, gesticulando na direção de outra porta de segurança a três
metros de onde estavam. - Estamos quase chegando, se os senhores quiserem prosseguir. - Sato
finalmente parou de encarar Langdon e acenou para Anderson seguir em frente.
Eles avançaram, adentrando uma passagem estreita. Langdon olhou para a esquerda, depois
para a direita. Vocês só podem estar brincando.
Ele estava diante do corredor mais comprido que já vira em toda a sua vida.

 

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