sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 31 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 31

Trish Dunne sentiu a habitual onda de adrenalina ao deixar para trás as luzes fortes do Cubo e
entrar na escuridão impenetrável do vazio. A segurança da entrada principal do CAMS havia acabado
de ligar dizendo que o convidado de Katherine, Dr. Christopher Abaddon, tinha chegado e precisava
de alguém para acompanhá-lo até o Galpão 5. Trish se oferecera, sobretudo por curiosidade.
Katherine havia falado muito pouco sobre o visitante, de modo que ela estava intrigada.
Aparentemente, tratava-se de uma pessoa em quem Peter Solomon tinha muita confiança; os
Solomon nunca tinham levado ninguém para conhecer o Cubo. Era a primeira vez.
Espero que ele não tenha problemas com a travessia, pensou Trish enquanto avançava pela
escuridão gelada. A última coisa de que precisava era que o convidado VIP de Katherine entrasse em
pânico ao perceber o que tinha de fazer para chegar ao laboratório. A primeira vez é sempre a pior. A
primeira vez de Trish tinha sido mais ou menos um ano antes. Ela havia aceitado a oferta de emprego
de Katherine, assinado um contrato de confidencialidade e depois a acompanhado até o CAMS para
visitar o laboratório. As duas mulheres tinham percorrido toda a extensão da "Rua" até chegar a uma
porta onde se lia GALPÃO 5. Embora Katherine tivesse tentado prepará-la descrevendo como o
laboratório era isolado, Trish não estava pronta para o que viu quando a porta se abriu com um sibilo.
O vazio.
Katherine atravessou a soleira, caminhou alguns metros para dentro daquele denso negrume e,
em seguida, acenou para Trish segui-la.
– Confie em mim. Você não vai se perder.
Trish se imaginou vagando por um recinto escuro feito breu do tamanho de um estádio e
começou a suar frio só de pensar.
– Temos um sistema de direcionamento para manter você no caminho certo. - Katherine
apontou para o chão. - É baixa tecnologia - brincou.
Trish apertou os olhos e voltou-os para o piso grosseiro de cimento. Levou alguns instantes até
conseguir enxergar na escuridão: uma faixa de carpete longa e estreita havia sido instalada em linha
reta. Ela se estendia qual uma estrada e desaparecia no breu.
– Use os pés para ver. - Disse Katherine, virando-se e se afastando. - Basta vir logo atrás de
mim.
Enquanto Katherine desaparecia na escuridão, Trish engoliu o medo e a acompanhou. Que
loucura! Depois de dar apenas uns poucos passos pelo carpete, a porta do Galpão 5 se fechou atrás
dela, apagando o último vestígio de luz. Com a pulsação disparada, Trish passou a se concentrar

apenas na sensação do carpete sob seus pés. Havia avançado somente alguns passos pelo caminho
macio quando sentiu a lateral do pé direito tocar o cimento duro. Espantada, corrigiu instintivamente
o curso para a esquerda, tornando a pisar no carpete com os dois pés.
A voz de Katherine se materializou mais adiante, e suas palavras quase foram engolidas pela
acústica sem vida daquele abismo.
– O corpo humano é espantoso - disse ela. - Se você o priva de uma informação sensorial, os
outros sentidos assumem o comando quase no mesmo instante. Neste momento, os nervos dos seus
pés estão literalmente "se ajustando" para ficarem mais sensíveis.
Que bom, pensou Trish, tornando a corrigir seu curso.
As duas caminharam em silêncio durante um tempo que pareceu longo demais.
– Quanto falta? - Perguntou Trish por fim.
– Estamos mais ou menos na metade. - A voz de Katherine agora soava mais distante.
Trish apertou o passo, fazendo o possível para se controlar, mas a extensão daquele negrume
parecia prestes a engolfá-la. Não consigo ver um milímetro à frente do nariz!
– Katherine? Como você sabe quando é para parar de andar?
– Você vai saber daqui a pouquinho. - Respondeu Katherine. 
Isso fazia um ano, e agora Trish estava novamente no meio do vazio, andando na direção
oposta, a caminho da recepção, para acolher o convidado da chefe. Uma súbita mudança na textura
do piso sob seus pés a alertou de que ela estava a poucos metros da saída. A faixa de transição, como
dizia Peter Solomon, referindo-se à área intermediária que delimita um campo de beisebol; ele era fã
do esporte. Trish parou abruptamente, sacou o cartão de acesso e tateou no escuro até encontrar o
lugar para inseri-lo. A porta se abriu com um silvo.
Trish apertou os olhos para protegê-los da acolhedora luz do corredor do CAMS. Consegui...
de novo.
Enquanto percorria os corredores desertos, Trish se pegou pensando no estranho arquivo
editado que elas haviam encontrado em um servidor seguro. Antigo portal? Localização subterrânea
secreta? Imaginou como Mark Zoubianis estaria se saindo na tentativa de descobrir onde estava
armazenado o misterioso arquivo.

Dentro da sala de controle, Katherine estava parada diante do brilho suave do telão de plasma,
com os olhos erguidos para o enigmático arquivo que haviam descoberto. Tinha isolado suas
expressões-chave e estava cada vez mais certa de que aquele texto se referia à lenda improvável que
o irmão aparentemente contara ao Dr. Abaddon.
... uma localização SUBTERRÂNEA secreta onde... ... lugar em WASHINGTON, D.C., as
coordenadas... ... revelou um ANTIGO PORTAL que conduzia... ...que a PIRÂMIDE reserva
perigosas... ...decifrar esse SYMBOLON GRAVADO para revelar...

Preciso ver o resto desse arquivo, pensou Katherine. Passou mais alguns segundos encarando
as palavras, então desligou o interruptor do telão de plasma. Katherine sempre desligava aquele
monitor, que consumia muita energia, de modo a não desperdiçar as reservas de hidrogênio líquido
do gerador.
Ela observou as palavras se apagando devagar, minguando até se transformarem em um
minúsculo pontinho branco, que tremeluziu no meio da parede antes de finalmente se extinguir.
Em seguida, virou e caminhou em direção à sua sala. O Dr. Abaddon iria chegar a qualquer
momento, e ela queria que ele se sentisse bem-vindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário