CAPÍTULO 31
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Trish Dunne sentiu a habitual onda de adrenalina ao deixar para
trás as luzes fortes do Cubo e
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entrar na escuridão impenetrável do vazio. A segurança da entrada principal do CAMS havia
acabado
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de ligar dizendo que o convidado de Katherine, Dr. Christopher
Abaddon, tinha chegado e precisava
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de alguém para acompanhá-lo até o Galpão 5. Trish se oferecera, sobretudo
por curiosidade.
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Katherine havia falado muito pouco sobre o visitante, de modo
que ela estava intrigada.
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Aparentemente, tratava-se de uma pessoa em quem Peter Solomon
tinha muita confiança; os
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Solomon nunca tinham levado ninguém para conhecer o Cubo. Era a
primeira vez.
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Espero que ele não tenha problemas com a travessia,
pensou Trish enquanto avançava pela
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escuridão gelada. A última coisa de que precisava era que
o convidado VIP de Katherine entrasse em
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pânico ao perceber o que tinha de fazer para chegar ao laboratório. A primeira vez é sempre a pior. A
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primeira vez de Trish tinha sido mais ou menos um ano antes. Ela
havia aceitado a oferta de emprego
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de Katherine, assinado um contrato de confidencialidade e depois
a acompanhado até o CAMS para
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visitar o laboratório. As duas mulheres tinham
percorrido toda a extensão da "Rua" até chegar a uma
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porta onde se lia GALPÃO 5. Embora Katherine tivesse
tentado prepará-la descrevendo como o
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laboratório era isolado, Trish não estava pronta para o que viu
quando a porta se abriu com um sibilo.
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O vazio.
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Katherine atravessou a soleira, caminhou alguns metros para
dentro daquele denso negrume e,
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em seguida, acenou para Trish segui-la.
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– Confie em mim. Você não vai se perder.
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Trish se imaginou vagando por um recinto escuro feito breu do
tamanho de um estádio e
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começou a suar frio só de pensar.
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– Temos um sistema de direcionamento para manter você no caminho certo. - Katherine
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apontou para o chão. - É baixa tecnologia - brincou.
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Trish apertou os olhos e voltou-os para o piso grosseiro de
cimento. Levou alguns instantes até
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conseguir enxergar na escuridão: uma faixa de carpete longa e
estreita havia sido instalada em linha
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reta. Ela se estendia qual uma estrada e desaparecia no breu.
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– Use os pés para ver. - Disse Katherine, virando-se e se afastando. -
Basta vir logo atrás de
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mim.
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Enquanto Katherine desaparecia na escuridão, Trish engoliu o medo e a
acompanhou. Que
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loucura! Depois de dar apenas uns poucos passos pelo carpete, a
porta do Galpão 5 se fechou atrás
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apenas na sensação do carpete sob seus pés. Havia avançado somente alguns passos pelo
caminho
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macio quando sentiu a lateral do pé direito tocar o cimento duro.
Espantada, corrigiu instintivamente
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o curso para a esquerda, tornando a pisar no carpete com os dois
pés.
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A voz de Katherine se materializou mais adiante, e suas palavras
quase foram engolidas pela
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acústica sem vida daquele abismo.
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– O corpo humano é espantoso - disse ela. - Se você o priva de uma informação sensorial, os
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outros sentidos assumem o comando quase no mesmo instante. Neste
momento, os nervos dos seus
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pés estão literalmente "se ajustando" para ficarem mais sensíveis.
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Que bom, pensou Trish, tornando a corrigir seu curso.
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As duas caminharam em silêncio durante um tempo que pareceu
longo demais.
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– Quanto falta? - Perguntou Trish por fim.
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– Estamos mais ou menos na metade. - A voz de Katherine agora
soava mais distante.
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Trish apertou o passo, fazendo o possível para se controlar, mas a extensão daquele negrume
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parecia prestes a engolfá-la. Não consigo ver um milímetro à frente do nariz!
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– Katherine? Como você sabe quando é para parar de andar?
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– Você vai saber daqui a pouquinho. - Respondeu Katherine.
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Isso fazia um ano, e agora Trish estava novamente no meio do
vazio, andando na direção
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oposta, a caminho da recepção, para acolher o convidado da
chefe. Uma súbita mudança na textura
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do piso sob seus pés a alertou de que ela estava a
poucos metros da saída. A faixa de transição, como
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dizia Peter Solomon, referindo-se à área intermediária que delimita um campo de
beisebol; ele era fã
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do esporte. Trish parou abruptamente, sacou o cartão de acesso e tateou no escuro até encontrar o
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lugar para inseri-lo. A porta se abriu com um silvo.
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Trish apertou os olhos para protegê-los da acolhedora luz do corredor
do CAMS. Consegui...
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de novo.
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Enquanto percorria os corredores desertos, Trish se pegou
pensando no estranho arquivo
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editado que elas haviam encontrado em um servidor seguro. Antigo
portal? Localização subterrânea
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secreta? Imaginou como Mark Zoubianis estaria se saindo na
tentativa de descobrir onde estava
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armazenado o misterioso arquivo.
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Dentro da sala de controle, Katherine estava parada diante do
brilho suave do telão de plasma,
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com os olhos erguidos para o enigmático arquivo que haviam descoberto.
Tinha isolado suas
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expressões-chave e estava cada vez mais certa de que aquele texto se
referia à lenda improvável que
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o irmão aparentemente contara ao Dr. Abaddon.
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... uma localização SUBTERRÂNEA secreta onde... ... lugar em
WASHINGTON, D.C., as
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coordenadas... ... revelou um ANTIGO PORTAL que conduzia...
...que a PIRÂMIDE reserva
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perigosas... ...decifrar esse SYMBOLON GRAVADO para revelar...
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Preciso ver o resto desse arquivo, pensou Katherine. Passou mais
alguns segundos encarando
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as palavras, então desligou o interruptor do telão de plasma. Katherine sempre
desligava aquele
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monitor, que consumia muita energia, de modo a não desperdiçar as reservas de hidrogênio líquido
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do gerador.
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Ela observou as palavras se apagando devagar, minguando até se transformarem em um
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minúsculo pontinho branco, que tremeluziu no meio da parede antes de
finalmente se extinguir.
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Em seguida, virou e caminhou em direção à sua sala. O Dr. Abaddon iria chegar
a qualquer
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momento, e ela queria que ele se sentisse bem-vindo.
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