sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 34 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 34

Trish Dunne entrou na recepção do CAMS e ergueu os olhos, surpresa. O convidado que a
esperava ali não se parecia em nada com os doutores que freqüentavam aquele complexo -ratos de
biblioteca vestindo roupas de flanela com pós-graduação em antropologia, oceanografia, geologia e
outras disciplinas científicas. Muito pelo contrário: com seu terno impecavelmente cortado, o Dr.
Abaddon parecia quase aristocrático. Era alto, tinha o peito largo, o rosto bronzeado e cabelos louros
penteados com esmero, dando a Trish a impressão de que ele estava mais acostumado ao luxo do que
aos laboratórios.
– Dr. Abaddon, suponho? - Disse ela estendendo a mão.
O homem pareceu hesitar, mas segurou a mão gorducha de Trish dentro de sua palma larga.
– Desculpe. A senhora é...?
– Trish Dunne. - Respondeu ela. - Sou assistente de Katherine. Ela me pediu para acompanhá-
lo até o laboratório.
– Ah, entendo. - O homem então sorriu. - Muito prazer em conhecê-la, Trish. Sinto muito se
pareci confuso. Pensei que Katherine estivesse sozinha aqui hoje. - Ele gesticulou na direção do
corredor. - Mas sou todo seu. Você primeiro.
Apesar de ele ter se recuperado depressa, Trish notara o lampejo de decepção em seus olhos.
Ela começou a suspeitar que a discrição de sua chefe em relação ao Dr. Abaddon tinha um motivo. O
início de um romance, quem sabe? Katherine nunca conversava sobre sua vida pessoal, mas aquele
visitante era atraente e bem-apessoado e, embora mais jovem do que ela, vinha claramente do mesmo
mundo de riqueza e privilégio. Ainda assim, fossem quais fossem as esperanças do Dr. Abaddon em
relação à visita daquela noite, a presença de Trish não parecia fazer parte de seus planos. 
No posto de segurança do saguão, um agente solitário retirou depressa os fones de ouvido, e
Trish pôde ouvir o clamor do jogo dos Redskins. O vigia fez o doutor passar pela costumeira rotina
de detectores de metal e crachás de segurança temporários.
– Quem está ganhando? - Perguntou com simpatia o Dr. Abaddon, enquanto tirava dos bolsos
um celular, algmas chaves e um isqueiro.
– Os Skins, por três pontos - Respondeu o segurança, parecendo ansioso para voltar ao jogo. -
Partida incrível.
– O Sr. Solomon vai chegar daqui a pouco. - Disse Trish ao vigia. - Poderia pedir a ele que nos
encontre no laboratório assim que chegar?
– Pois não. - Quando eles passaram, o segurança deu uma piscadela agradecida. - Obrigado por
me avisar. Vou disfarçar melhor.
O comentário de Trish não tinha sido apenas para avisar o segurança, mas também para
lembrar ao Dr. Abaddon que ela não era a única intrusa em sua noite particular ali com Katherine.
– De onde o senhor conhece Katherine? - Perguntou Trish, erguendo os olhos para o misterioso
convidado.
O Dr. Abaddon deu uma risadinha.
– Ah, é uma longa história. Estamos trabalhando juntos em uma coisa.
Entendi, pensou Trish. Não é da minha conta. 
– Este lugar é realmente incrível - Comentou Abaddon, olhando em volta enquanto avançavam
pelo enorme corredor. - Na verdade é a primeira vez que venho aqui. - O seu tom ia ficando mais
agradável a cada passo, e Trish percebeu que ele estava se empenhando em assimilar tudo o que o
cercava. À luz forte do corredor, notou também que o bronzeado do rosto dele parecia artificial. Que
estranho. De qualquer forma, enquanto percorriam os corredores desertos, Trish foi lhe fazendo um
resumo do objetivo e da função do CAMS, enumerando os vários galpões e aquilo que continham.
O visitante pareceu impressionado.
– Parece que este lugar é um baú do tesouro cheio de artefatos inestimáveis. Eu teria imaginado
seguranças por toda parte.
– Não há necessidade. - Disse Trish, gesticulando na direção das lentes grande-angulares que
se enfileiravam ao longo do teto muito alto. - A segurança aqui é toda automatizada. Cada centímetro
deste corredor é filmado 24 horas por dia, 7 dias por semana, e ele é a espinha dorsal do complexo. É
impossível entrar em qualquer sala deste corredor sem um cartão de acesso e uma senha.
– Que modo eficiente de usar as câmeras.
– Felizmente nunca tivemos nenhum roubo. Mas, pensando bem, este não é o tipo de museu
que alguém iria roubar... Não há muita demanda no mercado negro por flores extintas, caiaques
inuítes ou carcaças de lulas gigantes.
O Dr. Abaddon deu uma risadinha.
– Acho que tem razão.
– A maior ameaça à nossa segurança são os roedores e os insetos. - Trish explicou como o
CAMS evitava pragas de insetos congelando todo o lixo produzido ali e também graças a um recurso
arquitetônico chamado "zona morta": um compartimento inóspito entre paredes duplas que cercava o
complexo todo feito um escudo.
– Incrível. - Comentou Abaddon. - Mas onde fica o laboratório de Katherine e Peter?
– No Galpão 5. - Respondeu ela. - Bem no final deste corredor. - Abaddon parou de repente,
girando o corpo para a direita em direção a uma pequena janela.
– Nossa! Olhe só para isso! - Trish riu.
É, aqui é o Galpão Três. É conhecido como Galpão Molhado.
– Molhado? - Repetiu Abaddon, com o rosto colado no vidro.
– Aí dentro tem mais de 11 mil litros de etanol líquido. O senhor se lembra da carcaça de lula
gigante de que falei?
– Aquilo ali é a lula?! - O Dr. Abaddon virou para Trish com os olhos arregalados. - É imensa!
– Uma Architeuthis fêmea. - Disse Trish. - Tem mais de 12 metros.
Aparentemente fascinado pela visão da lula, o Dr. Abaddon parecia incapaz de desgrudar os
olhos do vidro. Por alguns instantes, aquele homem-feito fez Trish pensar em um menininho diante
da vitrine de uma loja de animais, desejando poder entrar para ver um filhote de cachorro. Cinco
segundos depois, ele continuava olhando pela janela, enlevado.
– Está bem, está bem. - Disse Trish por fim, rindo enquanto inseria seu cartão de acesso e
digitava a senha. - Venha. Vou lhe mostrar a lula.

Ao entrar no mundo fracamente iluminado do Galpão 3, Mal'akh vasculhou as paredes em
busca de câmeras de segurança. A assistente baixinha e gorducha de Katherine começou a discorrer
sobre os espécimes guardados ali. Mal'akh parou de prestar atenção no que ela dizia. Não tinha o
menor interesse em lulas gigantes. Queria apenas usar aquele espaço escuro e isolado para solucionar
um problema imprevisto. 

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