sábado, 22 de dezembro de 2012

Capítulo 35 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 35

A escada de madeira que descia para o segundo subsolo do Capitólio tinha os degraus mais
íngremes e mais curtos que Langdon já havia pisado. Sua respiração agora estava acelerada e ele
sentia os pulmões se contraírem. O ar ali embaixo era frio e úmido e Langdon não pôde evitar a
lembrança momentânea de uma escadaria similar pela qual havia passado alguns anos antes, na
Necrópole do Vaticano. A cidade dos mortos.
À sua frente, Anderson indicava o caminho com a lanterna. Sato vinha logo atrás de Langdon,
com as mãos pequeninas empurrando de vez em quando suas costas. Estou indo o mais depressa que
posso. Langdon respirou fundo, tentando ignorar as paredes apertadas que se erguiam de ambos os
lados. Naquela escada mal havia espaço para seus ombros, e sua bolsa roçava na parede.
– Talvez fosse melhor o senhor deixar a bolsa lá em cima. - Sugeriu Sato atrás dele.
– Está tudo bem. - Retrucou Langdon, sem a menor intenção de perder a bolsa de vista. Pensou
no pequeno embrulho de Peter, mas não conseguiu imaginar como este poderia estar relacionado a
qualquer coisa no segundo subsolo do Capitólio.
– Só mais alguns degraus. - Disse Anderson. - Estamos quase chegando.
O grupo havia mergulhado na escuridão, fora do alcance da solitária lâmpada da escada.
Quando Langdon desceu o último degrau de madeira, pôde sentir que o chão sob seus pés era de
terra batida. Viagem ao centro da Terra. Sato terminou de descer a escada logo atrás dele.
Anderson então ergueu o facho da lanterna para examinar ao redor. O segundo subsolo não era
bem um subsolo, e sim um corredor muito estreito perpendicular à escada. Anderson apontou a luz
para a esquerda e para a direita, e Langdon pôde ver que o corredor tinha apenas uns 15 metros de
extensão e era margeado nos dois lados por pequenas portas de madeira. As portas ficavam tão
próximas umas das outras que os cubículos atrás delas não podiam ter mais de 3 metros de largura.
Um misto de salas de depósito com Catacumbas de Domitila, pensou Langdon enquanto
Anderson consultava a planta. Havia um X indicando a localização da SBB13 na pequena área
correspondente ao segundo subsolo. Langdon não pôde deixar de perceber que o desenho era
idêntico ao de um mausoléu de 14 tumbas - sete câmaras mortuárias de frente para outras sete, com
uma delas removida para dar lugar à escada que haviam acabado de descer. Treze, ao todo.









Ele desconfiava que os teóricos da conspiração do "13" nos Estados Unidos fossem ficar
malucos se soubessem que havia exatamente 13 depósitos enterrados sob o Capitólio. Alguns
achavam suspeito que o Grande Selo dos Estados Unidos tivesse 13 estrelas, 13 flechas, 13 níveis na
pirâmide, 13 listras no escudo, 13 folhas de oliveira, 13 olivas, 13 letras em "annuit coeptis", 13
letras em "e pluribus unum", e assim por diante.
– Parece mesmo abandonado. - Comentou Anderson, apontando a lanterna para a sala logo à
sua frente. A pesada porta de madeira estava escancarada. O facho de luz iluminou um estreito
cubículo de pedra - cerca de 3 metros de largura por 10 de comprimento - parecendo um beco sem
saída. O cubículo não continha nada além de um par de caixas de madeira quebradas e um pouco de
papel de embrulho amassado.
Anderson iluminou uma placa de cobre afixada à porta. A placa estava verde de tão oxidada,
mas a antiga inscrição ainda era legível:

SBB IV

– SBB4. - Disse Anderson.
– Qual é a SBB13? - Perguntou Sato, o ar frio do subsolo fazendo tênues espirais de vapor
saírem de sua boca. Anderson virou o facho para o lado sul do corredor.
– Por ali.
Langdon espreitou o corredor estreito e teve um calafrio, sentindo que transpirava apesar da
baixa temperatura ali. À medida que avançavam por entre a falange de portais, todos os cubículos
pareciam iguais, com suas portas entreabertas, aparentemente abandonados havia tempos. Quando
chegaram ao final do corredor, Anderson se virou para a direita, erguendo o facho da lanterna para
iluminar o interior da sala SBB13. A luz, no entanto, foi detida por uma pesada porta de madeira.
Ao contrário das outras, a porta da SBB13 estava fechada. A porta era idêntica às outras -
dobradiças grossas, maçaneta de ferro e uma placa de cobre com o número incrustado de verde. Os
sete caracteres na placa eram os mesmos gravados na palma de Peter lá em cima.
SBB XIII

Por favor, me diga que esta porta está trancada, pensou Langdon.
Sato falou sem titubear.
– Tente abrir.
O chefe de polícia pareceu hesitar, mas estendeu a mão, segurando a pesada maçaneta de ferro
e pressionando-a para baixo. A maçaneta não se moveu. Ele então a iluminou com a lanterna,
revelando um espelho de fechadura maciço de aspecto antiquado.
– Experimente a chave mestra. - Disse Sato.
Anderson sacou a chave da porta de entrada do andar de cima, mas esta nem sequer entrou na
fechadura.
– Estou enganada - disse Sato em tom de sarcasmo - ou a segurança deveria ter acesso a todos
os cantos de um prédio em caso de emergência?
Anderson soltou o ar com força e olhou para Sato.
– Senhora, os meus homens estão procurando uma segunda chave, mas...
– Atire na fechadura. - Disse ela, meneando a cabeça em direção ao espelho abaixo da
maçaneta.
A pulsação de Langdon disparou.
Anderson pigarreou, visivelmente desconfortável.
– Diretora, estou aguardando notícias de uma segunda chave. Não sei bem se me sinto à
vontade entrando à força em...
– Talvez o senhor se sinta mais à vontade sendo preso por obstruir uma investigação da CIA.
A expressão de Anderson era de pura incredulidade. Depois de uma longa pausa, ele entregou a
lanterna para Sato com relutância e abriu o fecho do seu coldre.
– Espere! - Disse Langdon, incapaz de assistir àquilo impassível. - Pense um pouco. Peter
preferiu perder a mão direita a revelar o que pode estar escondido atrás desta porta. A senhora tem
certeza de que devemos fazer isso? Destrancar esta porta equivale basicamente a cumprir as
exigências de um terrorista.
– O senhor quer tornar a ver Peter Solomon? - Perguntou Sato.
– Claro que sim, mas...
–  Então sugiro que faça exatamente o que o sequestrador dele está pedindo.
– Destrancar um antigo portal? A senhora acha que isto aqui é o portal?
Sato mirou a lanterna bem na cara de Langdon.
– Professor, eu não faço a menor ideia do que é esta sala. Seja ela uma unidade de
armazenamento ou a entrada secreta de uma antiga pirâmide, eu pretendo abri-la. Estou sendo clara?
- Langdon apertou os olhos por causa da luz forte e finalmente aquiesceu.
Sato baixou a lanterna e a apontou de volta para o espelho arcaico da fechadura.
– Chefe? Pode atirar.
Ainda parecendo avesso àquele plano, Anderson sacou a arma muito, muito devagar, baixando
os olhos para ela com um ar de incerteza.
– Ah, pelo amor de Deus! - Sato lançou as mãos miúdas para a frente e lhe tomou a arma. Em
seguida, enfiou a lanterna na mão agora vazia de Anderson. - Segure a porcaria da lanterna. - Ela
empunhou a pistola com a segurança de alguém treinado no manejo de armas e não perdeu tempo em
desarmar a trava de segurança, armar o gatilho e mirar na fechadura.
– Espere! - gritou Langdon, mas era tarde demais. A pistola rugiu três vezes.
Os tímpanos de Langdon pareciam ter explodido. Essa mulher está louca! Os tiros dentro
daquele espaço diminuto haviam sido ensurdecedores.
Anderson também parecia abalado, e sua mão oscilava um pouco quando ele apontou a
lanterna para a porta crivada de balas.
O mecanismo da fechadura estava agora em frangalhos, a madeira à sua volta totalmente
pulverizada. A tranca havia cedido e a porta jazia entreaberta.
Sato estendeu a pistola e pressionou a ponta do cano contra a madeira, dando um empurrão. A
porta se abriu por completo para a escuridão do interior.
Langdon olhou lá para dentro, mas não conseguiu enxergar nada no escuro. Que raio de cheiro
é esse? Um odor estranho, fétido emanava das trevas.
Anderson atravessou a soleira e apontou a lanterna para baixo, percorrendo com cuidado toda a
extensão do chão árido de terra batida. Aquela sala era igual às outras: um espaço comprido e
estreito. As paredes eram feitas de pedra bruta, que dava ao lugar a atmosfera de uma masmorra
antiga. Mas esse cheiro...
– Não tem nada aqui. - Disse Anderson, movendo o facho mais para o fundo pelo chão do
cubículo. Quando a luz finalmente atravessou todo o recinto, ele a ergueu para iluminar a parede de
trás.
– Meu Deus...! - Gritou Anderson. Todos viram e deram um pulo para trás.
Langdon ficou olhando, incrédulo, para o canto mais afastado do cubículo.
Para seu horror, algo o encarava de volta.
 





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