terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 38 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 38

– Esta sala é maçônica? - Quis saber Sato, virando as costas para a caveira e encarando
Langdon no escuro.
O professor fez que sim.
– Chama-se Câmara de Reflexões. Essas salas são lugares frios e austeros onde um maçom
pode refletir sobre a própria mortalidade. Ao meditar sobre o caráter inevitável da morte, um maçom
adquire uma valiosa compreensão sobre a natureza efêmera da vida.
Sato correu os olhos por aquele espaço sinistro, aparentemente nem um pouco convencida.
– Isto aqui é um tipo de sala de meditação?
– Basicamente, sim. Essas câmaras sempre contêm os mesmos símbolos: uma caveira e ossos
cruzados, uma foice, uma ampulheta, enxofre, sal, um papel em branco, uma vela etc. Os símbolos
da morte inspiram os maçons a refletir sobre a melhor forma, de conduzir suas vidas na Terra.
– Parece um altar da morte. - Disse Anderson. 
É mais ou menos essa a ideia.
– A maioria dos meus alunos de simbologia tem a mesma reação no início. - Langdon muitas
vezes lhes indicava o livro de Beresniak, Símbolos da Francomaçonaria, que tinha belas ilustrações
de Câmaras de Reflexões.
– E os seus alunos não acham perturbador o fato de os maçons meditarem em meio a caveiras e
foices? - Perguntou Sato.
– Não mais perturbador do que cristãos rezando aos pés de um homem pregado na cruz, ou do
que hindus entoando cânticos diante de um elefante de quatro braços chamado Ganesha. A má
compreensão dos símbolos de uma cultura é uma fonte comum de preconceito.
Sato se virou para o outro lado, pelo jeito, sem paciência para sermões. Ela andou na direção
da mesa de artefatos. Anderson tentou iluminar seu caminho, mas o facho de luz estava começando a
fraquejar. Ele bateu no fundo da lanterna, conseguindo fazer com que brilhasse com mais
intensidade. Enquanto os três avançavam pelo espaço estreito, o aroma pungente do enxofre encheu
as narinas de Langdon. O segundo subsolo era úmido, e a umidade do ar ativava o enxofre no
pratinho. Sato chegou diante da mesa e olhou para a caveira e para os outros objetos. Anderson se
juntou a ela, fazendo o possível para iluminar os artefatos com o facho cada vez mais fraco da
lanterna.
Depois de examinar tudo o que havia ali, ela levou as mãos aos quadris e deu um suspiro.
– Que tralha toda é essa?
Langdon sabia que os objetos naquela sala haviam sido cuidadosamente escolhidos e
arrumados.
– São símbolos de transformação. - Explicou ele, sentindo-se confinado ao se juntar aos outros
diante da mesa, nos fundos do cubículo. - A caveira, ou caput mortuum, representa a última
transformação do homem, pela decomposição. É um lembrete de que todos nós um dia perdemos
nossa carne mortal. O enxofre e o sal são catalisadores alquímicos que facilitam a transformação. A
ampulheta representa o poder transformador do tempo. - Ele gesticulou na direção da vela apagada. -
E esta vela representa o fogo primordial criador e o despertar do homem do sono da ignorância... A
transformação pela iluminação.
– E... Isto aqui? - Perguntou Sato, apontando para o canto. Anderson girou o facho cada vez
mais débil da lanterna para a gigantesca foice apoiada na parede do fundo.
– Não é um símbolo de morte, como muitos pensam. - Disse Langdon. - A foice, na verdade,
simboliza o alimento transformador da natureza: a colheita de suas dádivas.
Sato  e  Anderson  se  calaram,  aparentemente  tentando processar a cena bizarra à sua frente.
Tudo o que Langdon queria era sair daquele lugar.
– Sei que esta sala pode parecer estranha - disse o professor -, mas não há nada de mais aqui.
Na verdade, isto tudo é bem normal. Várias lojas maçônicas têm câmaras iguaizinhas a esta.
– Mas isto aqui não é uma loja maçônica! - Declarou Anderson. - É o Capitólio dos Estados
Unidos, e eu gostaria de saber o que esta sala está fazendo no meu prédio.
Às vezes, os maçons montam essas câmaras em seus escritórios ou em casa, como espaços de
meditação. Não é raro.
Langdon conhecia um cirurgião cardíaco em Boston que havia montado uma Câmara de
Reflexões maçônica num espaço reservado de seu consultório, para poder refletir sobre a mortalidade
antes de operar. Sato parecia intrigada.
– Está dizendo que Peter Solomon vem aqui refletir sobre a morte?
– Não sei mesmo. - Respondeu Langdon com sinceridade. - Talvez ele tenha criado esta sala
como um santuário para os irmãos maçons que trabalham no prédio, para que eles tivessem um retiro
espiritual do caos do mundo material... Um lugar onde um poderoso legislador pudesse refletir antes
de tomar decisões que irão afetar seus conterrâneos.
– Um sentimento nobre - comentou Sato com sarcasmo -, mas algo me diz que o povo
americano talvez não goste que seus líderes fiquem rezando dentro de salinhas com foices e caveiras.
Bem, eles não deveriam achar isso, pensou Langdon, imaginando como o mundo poderia ser
diferente caso mais líderes parassem para refletir sobre a inevitabilidade da morte antes de partirem
para a guerra.
Sato franziu os lábios e examinou cuidadosamente os quatro cantos da câmara iluminada pela
luz fraca da lanterna.
– Deve haver alguma coisa aqui além de ossos humanos e pratinhos de substâncias químicas,
professor. Alguém trouxe o senhor lá da sua casa em Cambridge para colocá-lo exatamente nesta
sala.
Langdon apertou a bolsa contra a lateral do corpo, ainda sem conseguir imaginar como o
embrulho podia estar relacionado àquela câmara.
– Sinto muito, mas não estou vendo nada fora do normal. - Langdon estava torcendo para que,
depois dessa, eles finalmente começassem a procurar Peter.
A lanterna de Anderson tornou a falhar e Sato se virou para ele de supetão; sua raiva
transparecendo.
– Pelo amor de Deus, assim está difícil! - Ela mergulhou a mão no bolso e sacou um isqueiro.
Acionando-o com o polegar, estendeu a chama para a frente e acendeu a única vela da mesa. O pavio
crepitou e em seguida pegou fogo, espalhando uma luminescência fantasmagórica pelo espaço
confinado. Sombras compridas riscaram as paredes de pedra. À medida que a chama ficava mais
forte, uma imagem inesperada se materializava diante deles.
– Olhem! - Disse Anderson, apontando.
À luz da vela, eles agora podiam ver uma inscrição desbotada: sete letras maiúsculas
rabiscadas na parede do fundo.

VITRIOL

– Estranha escolha de palavras. - Disse Sato enquanto a luz da vela formava uma assustadora
silhueta em forma de caveira por cima das letras. Ela se perguntava por que alguém escreveria
"vitriol", vitríolo em inglês, quando a palavra mais comum era "ácido sulfúrico".
– Na verdade, isso é um acrônimo. - Disse Langdon. - Está escrito na parede do fundo da
maioria das salas iguais a esta. É a abreviação do mantra maçônico de meditação: Visita interiora
terrae, rectificando invenies occultum lapidem. Sato o encarou, parecendo quase impressionada.
– Ou seja?
– Visite o interior da terra e purificando-se encontrará a pedra oculta.
O olhar de Sato se aguçou.
– A pedra oculta tem alguma relação com uma pirâmide escondida?
Langdon deu de ombros, sem querer incentivar aquela comparação.
– Quem gosta de fantasiar sobre pirâmides escondidas em Washington responderia que
occultum lapidem se refere à pirâmide, sim. Outros diriam que se trata de uma alusão à pedra
filosofal: uma substância que os alquimistas acreditavam ser capaz de proporcionar a vida eterna ou
transformar chumbo em ouro. Outros ainda alegariam que a expressão se relaciona ao Santo dos
Santos, uma câmara de pedra escondida no centro do Grande Templo em Jerusalém. Há quem diga
também que é uma referência cristã aos ensinamentos secretos de São Pedro, a Rocha. Cada tradição
esotérica interpreta "a pedra" do seu próprio jeito, mas invariavelmente a occultum lapidem é uma
fonte de poder e iluminação. - Anderson pigarreou.
– Será possível que Solomon mentiu para esse cara? Talvez ele tenha dito que havia alguma
coisa aqui embaixo... Quando, na verdade, não há nada.
Langdon estava pensando mais ou menos a mesma coisa. Sem aviso, a chama da vela
tremeluziu como se houvesse sido agitada por uma corrente de ar. Enfraqueceu por alguns instantes,
recuperando-se em seguida e tornando a brilhar com força.
– Que estranho. - Disse Anderson. - Espero que ninguém tenha fechado a porta lá em cima. -
Ele deixou a sala rumo à escuridão do corredor. - Olá?
Langdon mal reparou quando ele saiu. Seu olhar havia sido subitamente atraído para a parede
do fundo do cubículo. O que acabou de acontecer?
– O senhor viu isso? - Perguntou Sato, também olhando alarmada a parede.
Langdon assentiu, sentindo sua pulsação acelerar. O que eu acabei de ver?
Segundos antes, a parede do fundo parecia ter cintilado, como se atravessada por uma
ondulação de energia. Anderson voltou para a sala.
– Não há ninguém lá fora. - Quando ele entrou, a parede tornou a cintilar. - Puta merda! -
Exclamou, dando um pulo para trás.
Os três passaram um bom tempo mudos, encarando a parede. Langdon sentiu outro calafrio
percorrer seu corpo ao entender o que estavam vendo. Estendeu a mão, hesitante, até as pontas dos
dedos tocarem a superfície dos fundos da sala.
– Não é uma parede. - Falou.
Anderson e Sato chegaram mais perto, olhando com atenção.
É uma lona. - Disse Langdon.
– Mas ela se agitou. - Disse Sato rapidamente.
Sim, de um jeito muito estranho. Langdon examinou a superfície mais de perto. O polimento da
lona havia refletido a luz da vela de uma forma surpreendente porque acabara de se agitar para fora
da sala... Movendo-se para trás, através da parede do fundo.
Com muita delicadeza, Langdon esticou os dedos, empurrando a lona. Espantado, retirou a
mão depressa. Tem uma abertura aqui!
– Afaste isso. - Ordenou Sato.
Àquela altura, o coração de Langdon batia descompassado. Ele ergueu a mão e segurou a ponta
da lona, puxando o tecido devagar para um dos lados. Sem conseguir acreditar, encarou fixamente o
que estava escondido atrás dela. Meu Deus.
Assombrados, Sato e Anderson nem se mexiam ao olhar para a abertura na parede do fundo.
Por fim, Sato falou:
– Parece que acabamos de encontrar nossa pirâmide.

 

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