quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 4 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 4

O prédio do Capitólio dos Estados Unidos se ergue, imponente, na extremidade leste da
esplanada conhecida como National Mall, sobre uma colina que o arquiteto da cidade, Pierre
L'Enfant, descreveu como "um pedestal à espera de um monumento". O Capitólio tem descomunais
230 metros de comprimento por 107 de largura. Com quase 6,5 hectares de área, abriga a
impressionante quantidade de 541 aposentos. A arquitetura neoclássica foi meticulosamente
projetada para reproduzir a grandiosidade da Roma antiga, cujos ideais serviram de inspiração aos
fundadores dos Estados Unidos para estabelecer as leis e a cultura da nova república. O novo posto
de controle de segurança para os turistas que chegam ao prédio fica bem no fundo do recém-
concluído centro de visitantes subterrâneo, debaixo de uma magnífica clarabóia de vidro que
emoldura a cúpula do Capitólio. O agente de segurança Alfonso Nuñez, contratado havia pouco
tempo, estudou cuidadosamente o visitante que se aproximava de seu posto de controle. O homem
tinha a cabeça raspada e passara alguns minutos no saguão terminando de falar ao telefone antes de
entrar no prédio. Seu braço direito estava preso em uma tipóia e ele mancava um pouco. Vestia um
casaco militar surrado que, somado à cabeça raspada, fez Nunez supor que pertencia às forças
armadas. Os membros das forças armadas norte-americanas estavam entre os visitantes mais
frequentes da capital.
– Boa noite, senhor - disse Nuñez, respeitando o protocolo de segurança que mandava abordar
verbalmente qualquer homem que entrasse sozinho.
– Olá - disse o visitante, olhando em volta para a entrada quase deserta. - Noite tranquila.
– Hoje é dia de play-off da NFC - respondeu Nuñez, referindo-se a uma partida da fase
decisiva e eliminatória do campeonato de futebol americano. - Está todo mundo vendo os Redskins
jogar. - Nuñez também queria estar fazendo isso, mas aquele era seu primeiro mês no emprego e ele
havia perdido no palitinho. - Objetos metálicos na bandeja, por favor.
Enquanto o visitante se esforçava para esvaziar os bolsos do casaco comprido usando apenas
uma das mãos, Nuñez o observou com atenção. O instinto humano fazia concessões especiais aos
feridos e deficientes, mas esse era um instinto que Nuñez havia sido treinado para superar. O guarda
esperou o visitante tirar do bolso a coleção habitual de moedas e chaves, além de dois telefones
celulares.
– Torção? - perguntou Nuñez olhando para a mão ferida do homem, que parecia envolta em
várias ataduras elásticas grossas.
O homem careca assentiu.


– Escorreguei no gelo. Faz uma semana. Ainda está doendo à beça.
– Sinto muito. Pode passar, por favor.
Mancando, o visitante atravessou o detector de metais, ao que a máquina protestou com um
apito.
O visitante franziu o cenho.
– Estava com medo que isso acontecesse. Estou usando um anel debaixo das ataduras. Meu
dedo estava inchado demais para tirar, então os médicos enfaixaram o braço por cima.
– Sem problemas - disse Nunez. - Vou usar o detector manual. Ele passou o detector manual
por cima da mão enfaixada do visitante. Como era previsto, o único metal que o aparelho localizou
foi uma grande protuberância no dedo anular machucado do homem. O guarda não se apressou ao
esfregar o detector por cada centímetro da tipóia e do dedo do homem. Sabia que o seu supervisor
provavelmente o estava monitorando pelo circuito fechado na central de segurança do prédio, e
Nuñez precisava daquele emprego. Seguro morreu de velho. Com cautela, ele inseriu o detector
dentro da tipóia do homem.
O visitante fez uma careta de dor.
– Desculpe.
– Tudo bem - disse o homem. - Hoje em dia todo o cuidado é pouco.
– Não é? - Nuñez estava gostando daquele cara. Estranhamente, isso contava muito ali. O
instinto humano era a primeira linha defensiva dos Estados Unidos contra o terrorismo. Estava
provado que a intuição humana detectava o perigo com mais eficácia do que todos os equipamentos
eletrônicos do mundo - o dom do medo, como dizia um de seus livros-texto sobre segurança.
Naquele caso, os instintos de Nuñez não percebiam nada que lhe causasse medo. A única coisa
estranha que ele percebeu, agora que os dois estavam muito próximos, era que aquele cara com pinta
de durão parecia ter aplicado no rosto algum tipo de autobronzeador ou corretivo. Cada louco com a
sua mania. Todo mundo detesta ficar branco no inverno.
– Liberado - disse Nuñez, concluindo a verificação e guardando o detector.
– Obrigado. - O homem começou a recolher seus pertences da bandeja.
Enquanto ele fazia isso, Nuñez reparou que os dois dedos que emergiam das ataduras exibiam
cada qual uma tatuagem: a ponta do indicador tinha a imagem de uma coroa e a do polegar, a de uma
estrela. Parece que todo mundo tem tatuagem hoje em dia, pensou Nunez, embora a ponta do dedo
parecesse um lugar dolorido para se tatuar.
– Doeu fazer essas tatuagens?
O homem baixou os olhos para as pontas dos próprios dedos e deu uma risadinha.
– Menos do que o senhor imagina. 


– Que sorte - comentou Nuñez. - A minha doeu para caramba. Fiz uma sereia nas costas
quando estava no campo de treinamento.
– Uma sereia? - O careca sorriu.
É - respondeu o guarda, sentindo-se acanhado. - Erros da juventude.
– Sei como é - disse o careca. - Eu também cometi uma grande tolice na juventude. Agora
acordo com ela todo dia de manhã.
Ambos riram enquanto o homem se afastava.
Brincadeira de criança, pensou Mal'akh enquanto passava por Nuñez e subia a escada rolante
em direção ao prédio do Capitólio. Entrar tinha sido mais fácil do que ele previra. A postura
corcunda e a falsa barriga acolchoada haviam ocultado a verdadeira forma física de Mal'akh,
enquanto a maquiagem no rosto e nas mãos escondera as tatuagens que lhe cobriam o corpo. O golpe
de mestre, porém, tinha sido a tipóia, que disfarçava o poderoso objeto que Mal'akh estava levando
para dentro do prédio. Um presente para o único homem do mundo capaz de me ajudar a obter o que
procuro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário