terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 41 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 41

Robert Langdon estudou a pirâmide de pedra. Não é possível. 
– Uma língua antiga cifrada? - Indagou Sato sem erguer os olhos. - Me diga, isto aqui
corresponde à descrição? - Na lateral recém-exposta da pirâmide, uma série de 16 caracteres estava
gravada com precisão na pedra lisa.

Anderson estava parado ao lado de Langdon, sua boca escancarada como que refletindo o
espanto do outro homem. O chefe da segurança parecia ter se deparado com algum tipo de teclado
alienígena.
– Professor? - Indagou Sato. - Imagino que o senhor consiga ler isso, certo?
Langdon se virou para ela.
– O que faz a senhora pensar assim?
– O fato de o senhor ter sido trazido até aqui, professor. O senhor foi escolhido. Essa inscrição
parece algum tipo de código e, levando em conta a sua reputação, parece-me óbvio que foi trazido
até aqui para decifrá-lo.
Langdon teve de admitir que, depois de suas experiências em Roma e Paris, havia recebido
vários pedidos de ajuda para quebrar alguns dos grandes códigos não decifrados da história - o Disco
de Festos, o Código Dorabella, o misterioso Manuscrito de Voynich.
Sato correu o dedo por cima da inscrição.
– Pode me dizer o significado destes ícones?
Não são ícones, pensou Langdon. São símbolos. Ele havia reconhecido aquele código na
mesma hora: uma linguagem cifrada do século XVII. Langdon sabia muito bem como quebrá-lo.
– Minha senhora - disse ele, hesitando -, esta pirâmide é propriedade particular de Peter.

– Particular ou não, se este código for de fato a razão pela qual o senhor foi trazido até
Washington, o senhor não terá escolha. Terá que me dizer o que está escrito.
O BlackBerry de Sato emitiu um bipe alto e ela arrancou o aparelho do bolso, estudando
durante vários segundos a mensagem que acabara de chegar. Langdon estava impressionado que a
rede sem fio do Capitólio pudesse ser captada ali embaixo.
Sato grunhiu e arqueou as sobrancelhas, lançando um olhar estranho para Langdon.
– Chefe Anderson? - Disse ela, virando-se para ele. - Uma palavrinha em particular, pode ser? -
A diretora fez sinal para Anderson acompanhá-la e os dois desapareceram no corredor totalmente
escuro, deixando Langdon sozinho à luz tremeluzente da vela na Câmara de Reflexões de Peter.
O chefe Anderson se perguntava quando aquela noite iria terminar. A mão cortada de um
homem na minha Rotunda? Um santuário da morte no meu subsolo? Inscrições bizarras em uma
pirâmide de pedra? De alguma forma, o jogo dos Redskins já não parecia ter a menor importância.
Enquanto seguia Sato rumo à escuridão do corredor, Anderson acendeu a lanterna. O facho estava
fraco, mas era melhor do que nada. A diretora o conduziu alguns metros pelo corredor, onde Langdon
não pudesse vê-los.
- Dê uma olhada nisto aqui. - Sussurrou ela, passando o BlackBerry para Anderson.
O chefe da segurança pegou o aparelho e apertou os olhos para enxergar a tela iluminada. Ela
exibia uma imagem em preto e branco - o raio X da bolsa de Langdon que Anderson havia solicitado
para Sato. Como em todas as imagens de raios X, os objetos de maior densidade apareciam num
branco mais brilhante. Dentro da bolsa de Langdon, apenas um item se destacava dos outros.
Obviamente muito denso, ele reluzia feito uma jóia ofuscante em meio a uma barafunda nebulosa de
objetos. Sua forma era inconfundível. Ele passou a noite inteira carregando esse negócio? Anderson
olhou para Sato com surpresa.
– Por que Langdon não mencionou isso?
Ótima pergunta. - Sussurrou ela.
– O formato... Não pode ser coincidência.
– Não. - Concordou Sato, cujo tom agora era de raiva. - Eu diria que não.
Um leve farfalhar no corredor chamou a atenção de Anderson. Espantado, ele apontou a
lanterna em direção à passagem escura. O facho mortiço revelou apenas um corredor deserto
margeado de portas abertas.
- Olá? - Chamou Anderson. - Tem alguém aí? Silêncio.
Sato lançou-lhe um olhar estranho, aparentemente sem ter ouvido nada.
Anderson escutou por mais alguns instantes, depois deixou aquilo para lá. Preciso cair fora
deste lugar.

Sozinho na sala iluminada pela vela, Langdon correu os dedos pelos cantos acentuados das
inscrições na pirâmide. Estava curioso para saber o que dizia a mensagem, mas não queria invadir
mais ainda a privacidade de Peter Solomon. E por que, afinal de contas, esse maluco se interessaria
por esta pequena pirâmide?
– Professor, nós temos um problema. - Declarou a voz de Sato bem alto atrás dele. - Acabei de
receber uma informação nova e já estou farta das suas mentiras.
Langdon se virou e viu a diretora do Escritório de Segurança marchando sala adentro com o
BlackBerry na mão e os olhos faiscando. Espantado, olhou para Anderson em busca de ajuda, mas o
chefe estava montando guarda junto à porta com uma expressão de poucos amigos. Sato parou diante
do professor e enfiou o BlackBerry no seu rosto. Atarantado, Langdon olhou para a tela, que exibia
uma imagem em preto e branco parecida com um fantasmagórico negativo de filme. A imagem
mostrava um emaranhado de objetos, sendo que um deles brilhava intensamente. Embora estivesse
torto e descentralizado, o item mais reluzente era claramente uma pequena pirâmide pontuda. Uma
pirâmide em miniatura? Langdon olhou para Sato.
– O que é isso?
A pergunta só pareceu aumentar ainda mais a ira da diretora.
– Está fingindo que não sabe? - Langdon perdeu a paciência.
– Não estou fingindo nada! Eu nunca vi isso antes na minha vida!
– Mentira! - Disparou Sato, cuja voz soou incisiva no ar úmido.
– O senhor passou a noite inteira carregando isso dentro da bolsa!
– Eu... - Langdon interrompeu a frase no meio. Seus olhos abaixaram lentamente até a bolsa
em seu ombro. Ele então tornou a erguê-los para o BlackBerry. Meu Deus... O embrulho. Langdon
examinou a imagem com mais atenção. Foi aí que viu. Um cubo apagado envolvia a pirâmide.
Pasmo, percebeu que estava diante de um raio X da sua bolsa... E também do misterioso pacote em
forma de cubo de Peter. O cubo, na verdade, era uma caixa contendo uma pequena pirâmide.
Langdon abriu a boca para falar, mas não conseguiu dizer nada. Sentiu o ar lhe escapar dos
pulmões enquanto uma nova revelação se abatia sobre ele. Simples. Pura. Devastadora.
Meu Deus. Ele tornou a olhar para a pirâmide de pedra incompleta sobre a mesa. Seu topo era
achatado - uma pequena superfície quadrada -, um espaço vazio que aguardava simbolicamente o
arremate... A peça que a faria deixar de ser uma Pirâmide Inacabada, transformando-a numa Pirâmide
Verdadeira.
Langdon então percebeu que a pirâmide minúscula que carregava não era uma pirâmide. É um
cume. Nesse instante, soube por que ele era o único capaz de desvendar os mistérios daquela
pirâmide de pedra.
A última peça está em meu poder. E ela é de fato... Um talismã.
Quando Peter lhe contara que o embrulho continha um talismã, Langdon achou graça. Agora
via que o amigo tinha razão. Aquele pequenino cume era mesmo um talismã, mas não do tipo
mágico... De um tipo bem mais antigo. Muito antes de adquirir conotações de magia, a palavra
talismã tinha outro significado: "completar". Do grego télesma, que significa "completude", um
talismã é qualquer coisa ou ideia que completa outra e a torna inteira. O elemento final.
Simbolicamente falando, um cume seria o derradeiro talismã, aquele que transformaria a Pirâmide
Inacabada em um símbolo de perfeição total.
Langdon sentiu que uma sinistra combinação de fatores o forçava a aceitar uma verdade muito
estranha: a não ser pelo tamanho, a pirâmide de pedra na Câmara de Reflexões de Peter parecia se
transformar aos poucos em algo que recordava vagamente a Pirâmide Maçônica da lenda. Pelo brilho
que o cume exibia no raio X, Langdon desconfiou que fosse de metal... Um metal muito denso. Não
tinha como saber se era ou não de ouro maciço e não estava disposto a permitir que sua própria
mente começasse a lhe pregar peças. Essa pirâmide é pequena demais. O código é fácil demais de
decifrar. E... Ela é um mito, pelo amor de Deus! Sato o observava com atenção.
– Para um homem inteligente, professor, o senhor fez algumas escolhas bem estúpidas hoje à
noite. Mentir para uma diretora de inteligência, por exemplo, e obstruir intencionalmente uma
investigação da CIA.
– Eu posso explicar, se a senhora deixar.
– O senhor vai explicar na sede da CIA. A partir de agora, considere-se preso.
O corpo de Langdon se retesou.
– A senhora não pode estar falando sério.
– Mais sério, impossível. Eu deixei claro que muita coisa estava em jogo esta noite, mas o
senhor decidiu não cooperar. Sugiro que não se furte a dar explicações sobre a inscrição nesta
pirâmide, porque quando chegarmos à CIA - ela ergueu o BlackBerry e tirou uma foto em close dos
símbolos na pirâmide de pedra -, meus analistas já vão estar bem adiantados.
Langdon abriu a boca para protestar, mas Sato já estava se virando para Anderson, que
continuava junto à porta.
– Chefe - disse ela -, ponha a pirâmide de pedra na bolsa do professor Langdon e leve-a com o
senhor. Eu cuido de prendê-lo. Me dê sua arma, por favor. Anderson tinha o semblante duro feito
pedra quando entrou na sala, destravando o coldre do ombro no caminho. Entregou a arma a Sato, 
que imediatamente a apontou para o professor. Langdon assistia a tudo aquilo como em um sonho.
Isto não pode estar acontecendo.
O chefe então se aproximou dele e retirou a bolsa de seu ombro, levando-a até a mesa e
apoiando-a na cadeira. Puxou o zíper para abri-la e, em seguida, apanhou a pesada pirâmide de pedra
de cima da mesa e guardou-a lá dentro, junto com as anotações de Langdon e o pequeno embrulho.
De repente, o barulho de algo se movendo ecoou no corredor. O vulto de um homem se materializou
na soleira da porta, precipitando-se para dentro da sala e se aproximando depressa por trás de
Anderson. O chefe nem percebeu o que estava acontecendo. Em um segundo, o desconhecido já
havia golpeado suas costas. Anderson foi jogado para a frente e sua cabeça se chocou contra a borda
do nicho de pedra. Ele se estatelou sobre a mesa, mandando ossos e artefatos pelos ares. A ampulheta
se estilhaçou no chão. A vela caiu, ainda acesa. Sato se virou em meio à confusão, erguendo a
pistola, mas o intruso agarrou um fêmur e o usou como arma, atingindo o ombro da diretora. Sato
soltou um grito de dor e caiu para trás, largando a pistola. O recém-chegado chutou a arma para
longe e então se voltou para Langdon. Era um homem alto e esguio, um negro elegante que Langdon
nunca tinha visto. 
– Pegue a pirâmide! - Ordenou ele. - Venha comigo! 

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