terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 45 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 45

Katherine Solomon quase não acreditou quando viu o nome no seu identificador de chamadas.
Tinha pensado que fosse Trish ligando para explicar por que ela e Christopher Abaddon estavam
demorando tanto. Mas não era Trish ao telefone. Longe disso.
Katherine sentiu um sorriso acanhado atravessar seus lábios. Será possível esta noite ficar
ainda mais estranha? Ela abriu o telefone. 
– Não precisa nem me dizer. - Falou ela em tom de brincadeira. - Solteiro amante dos livros
procura cientista noética também solteira?
– Katherine! - A voz grave pertencia a Robert Langdon. - Graças a Deus você está bem.
É claro que eu estou bem. - Respondeu ela, intrigada. - Tirando o fato de você nunca ter me
ligado depois da festa na casa de Peter no verão passado.
– Aconteceu uma coisa hoje à noite. Por favor, me escute. - A voz normalmente tranquila
parecia ofegante. - Eu sinto muito por ter que dizer isso a você... Mas Peter está correndo sério
perigo.
O sorriso de Katherine desapareceu.
– Do que você está falando?
– Peter... - Langdon hesitou como se estivesse procurando as palavras. - Não sei como dizer
isso, mas ele foi... Levado. Não sei ao certo por quem, mas...
– Levado? - Repetiu Katherine. - Robert, você está me assustando. Como assim?
– Ele foi sequestrado. - A voz de Langdon falhou como se ele estivesse dominado pela emoção.
- Deve ter acontecido hoje mais cedo, talvez ontem.
– Isso não tem graça nenhuma. - Disse ela, zangada. - O meu irmão está bem. Acabei de falar
com ele 15 minutos atrás!
– Você falou com ele? - Langdon soou atônito.
– Falei! Ele me mandou um torpedo dizendo que estava a caminho do laboratório.
– Mandou um torpedo... - Pensou Langdon em voz alta. - Mas você não chegou a ouvir a voz
dele?
– Não, mas...
– Escute. O torpedo que você recebeu não foi do seu irmão. Alguém está com o telefone de
Peter. Seja quem for essa pessoa, ela me enganou para me fazer vir a Washington hoje à noite.
– Enganou você? Essa história não tem pé nem cabeça!

– Eu sei, sinto muito. - Langdon parecia desorientado, o que não era do seu feitio. - Katherine,
acho que você pode estar correndo perigo.
Katherine Solomon tinha certeza de que Langdon jamais brincaria com um assunto daqueles,
mas ainda assim ele parecia ter perdido a razão.
– Eu estou bem. - Disse ela. - Estou trancada dentro de um complexo protegido!
– Leia para mim a mensagem que você recebeu do telefone de Peter. Por favor.
Atarantada, Katherine acessou a mensagem de texto e a leu em voz alta para Langdon, sentindo
um calafrio ao chegar à parte final, que fazia referência ao Dr. Abaddon.
– "Peça ao Dr. Abaddon que nos encontre lá, se puder. Confio totalmente nele...".
– Ai, meu Deus... - A voz de Langdon estava tomada pelo medo. - Você chamou esse homem
para ir até aí?
– Chamei! Minha assistente acabou de sair para buscá-lo. Eles devem chegar a qualquer...
– Katherine, saia daí! - Berrou Langdon. - Agora!

Do outro lado do CAMS, dentro da sala da segurança, um telefone começou a tocar, abafando
o jogo dos Redskins. Com relutância, o vigia retirou mais uma vez os fones de ouvido.
– Recepção .- Atendeu ele. - Kyle falando.
– Kyle, aqui é Katherine Solomon! - A voz dela estava ansiosa, ofegante.
– Senhora, seu irmão ainda não...
– Onde está Trish? - Indagou ela. - Dá para vê-la nos monitores?
O vigia girou a cadeira para conferir as telas.
– Ela ainda não voltou para o Cubo?
– Não! - Exclamou Katherine, soando alarmada.
O vigia percebeu que Katherine Solomon estava sem fôlego, como se tivesse corrido. O que
está acontecendo lá dentro? Kyle  manejou  rapidamente   o   controle  dos  monitores, passando os
olhos por vários quadros de vídeo digital em velocidade rápida.
– Calma aí, vou conferir as gravações... Estou vendo Trish sair da recepção com seu
convidado... Eles estão descendo a "Rua"... Deixa eu avançar... Tá, eles entraram no Galpão
Molhado... Trish usou o cartão de acesso para destrancar a porta... Os dois entraram lá dentro...
Deixa eu avançar mais um pouco... Beleza, eles saíram do Galpão Molhado há apenas um minuto...
E foram para... - Ele inclinou a cabeça, desacelerando a gravação. - Espera um instante. Que coisa
estranha...
– O que foi?
– O senhor saiu do Galpão Molhado sozinho.

– Trish ficou lá dentro?
É, parece que sim. Estou vendo seu convidado agora... Ele está sozinho no corredor.
– Onde está Trish? - Perguntou Katherine, quase histérica.
– Eu não estou vendo Trish nas imagens. - Respondeu Kyle, um quê de ansiedade se
insinuando em sua voz. Ele tornou a olhar para o monitor e percebeu que as mangas do paletó do
homem pareciam estar molhadas... Até os cotovelos. O que esse cara fez no Galpão Molhado? O
vigia ficou olhando enquanto o homem avançava a passos decididos pelo corredor principal em
direção ao Galpão 5, segurando com força o que parecia ser... Um cartão de acesso.
Kyle sentiu os cabelos da nuca se eriçarem.
– Sra. Solomon, estamos com um problema sério.

Aquela estava sendo uma noite de estreias para Katherine Solomon.
Em dois anos, ela nunca havia usado o celular dentro do vazio. Tampouco o havia atravessado
correndo à velocidade máxima. Agora, porém, Katherine estava com um celular grudado à orelha
enquanto disparava às cegas pela extensão interminável do carpete. Sempre que sentia um dos pés
fugindo do caminho acarpetado, corrigia o próprio rumo e tornava a voltar ao centro, continuando a
correr em meio à densa escuridão.
– Onde ele está agora? - Perguntou ela ao vigia, sem ar.
– Estou verificando. - Respondeu ele. - Vou avançar a gravação... Certo, aqui está ele descendo
o corredor em direção ao Galpão 5...
Katherine começou a correr mais depressa, esperando conseguir chegar à saída antes de ficar
encurralada ali dentro.
– Quanto tempo até ele chegar à entrada do Galpão 5? - O vigia fez uma pausa.
– A senhora não está entendendo. Eu ainda estou avançando. Essas imagens são gravadas. Isso
já aconteceu. - Ele fez outra pausa. - Espere um pouco, deixa eu verificar o monitor de registro de
eventos. - Ele se calou novamente, e então disse: -Senhora, o cartão de acesso da Sra. Dunne registra
uma entrada no Galpão 5 mais ou menos um minuto atrás. Katherine freou bruscamente, estacando
por completo no meio do abismo. 
– Ele já destrancou a porta do Galpão 5? - Sussurrou ela para o celular.
O vigia digitava freneticamente. - Sim, parece que ele entrou há... 90 segundos.
O corpo de Katherine ficou rígido. Ela parou de respirar. A escuridão à sua volta de repente
pareceu adquirir vida própria.
Ele está aqui dentro comigo.
No mesmo instante, Katherine percebeu que a única luz em todo aquele espaço vinha do
celular que iluminava a lateral de seu rosto.
– Mande ajuda. - Sussurrou ela para o vigia. - E vá até o Galpão Molhado para socorrer Trish. -
Ela então fechou o aparelho com cuidado, fazendo a luz se apagar. Uma escuridão absoluta a cercou.
Ela permaneceu imóvel, respirando o mais silenciosamente possível. Depois de alguns
segundos, um forte cheiro de etanol emanou da escuridão à sua frente. O cheiro ficou mais intenso.
Ela pôde sentir uma presença poucos metros adiante. Naquele silêncio, o som das batidas do coração
de Katherine parecia alto o suficiente para denunciá-la. Sem fazer barulho, ela tirou os sapatos e se
deslocou lentamente para a esquerda, pisando fora do carpete. O cimento sob seus pés estava frio.
Ela deu mais um passo para sair de vez do caminho acarpetado.
Um de seus dedos do pé estalou. Aquilo soou como um tiro no silêncio.
A poucos metros dela, um farfalhar de roupas avançou de repente em sua direção do meio do
breu. Katherine demorou um segundo a mais do que devia para se esquivar, e um braço forte se
estendeu para agarrá-la, tateando no escuro, a mão tentando segurá-la com violência. Ela girou o
corpo enquanto dedos fortes feito um alicate prendiam seu jaleco e a puxavam para perto.
Katherine jogou os braços para trás, desvencilhando-se do jaleco e se soltando. De repente,
sem saber mais para que lado ficava a saída, Katherine Solomon se viu correndo em disparada,
totalmente às cegas, no meio de um abismo negro sem fim.

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