terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 46 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 46

Apesar de abrigar o que muitos já chamaram de "a sala mais linda do mundo", a Biblioteca do
Congresso é menos conhecida por seu esplendor de tirar o fôlego do que por sua vasta coleção. Com
mais de 800 quilômetro de prateleiras - o suficiente para cobrir a distância de Washington até Boston
-, ela conquista com folga o título de maior biblioteca do mundo. Mesmo assim continua a se
expandir a uma velocidade de mais de 10 mil itens por dia. Primeiro repositório da coleção pessoal
de livros sobre ciência e filosofia de Thomas Jefferson, a biblioteca simbolizava o compromisso dos
Estado Unidos com a disseminação do conhecimento. Um dos primeiros edifícios de Washington a
receber luz elétrica, ela literalmente brilhava como um farol na escuridão do Novo Mundo.
Como seu nome sugere, a biblioteca foi criada para servir ao Congresso cujos veneráveis
membros trabalhavam do outro lado da rua, no Capitólio. Esse antigo vínculo havia sido fortalecido
recentemente com a construção de uma conexão física - um longo túnel sob a Independence Avenue
que ligava os dois prédios.
Naquela noite, dentro do túnel mal iluminado, Robert Langdon foi seguindo Warren Bellamy
por um trecho em obras, tentando controlar a preocupação crescente com Katherine. Esse maluco
está no laboratório dela? Langdon sequer queria imaginar por quê. Antes de desligar, dissera a
Katherine exatamente onde ela deveria encontrá-lo mais tarde. Quanto falta para este maldito túnel
terminar? Sua cabeça agora doía, um turbilhão revolto de pensamentos interligados: Katherine,
Peter, os maçons, Bellamy, pirâmides, uma antiga profecia... E um mapa.
Langdon tentou tirar tudo aquilo da cabeça e seguiu em frente. Bellamy me prometeu respostas.
Quando os dois homens finalmente chegaram ao final do corredor, o Arquiteto guiou Langdon
por um par de portas ainda em construção. Sem ter como trancá-las, Bellamy improvisou, pegando
uma escada de alumínio da obra e apoiando-a precariamente nas portas. Então equilibrou um balde
de metal em cima da escada. Se alguém entrasse, o balde cairia no chão fazendo estardalhaço.
É esse o nosso sistema de alarme? Langdon espiou o balde encarapitado em cima da escada,
torcendo para que Bellamy tivesse um plano mais sofisticado para garantir a segurança deles naquela
noite. Tudo havia acontecido muito depressa, e Langdon só agora começava a pensar nas
consequências de ter escapado com Bellamy. Eu sou um fugitivo da CIA.
O Arquiteto fez uma curva e os dois começaram a subir uma escadaria larga, isolada por cones
laranja. A bolsa de viagem de Langdon pesava, atrapalhando-o na subida.
– A pirâmide de pedra - disse ele -, ainda não entendo...
– Aqui, não. - Interrompeu Bellamy. - Vamos examiná-la na luz. Eu conheço um lugar seguro.

Langdon duvidava que existisse algum lugar seguro no planeta para quem tinha acabado de
agredir fisicamente a poderosa diretora do Escritório de Segurança da CIA. Depois de chegarem ao
alto da escada, os dois entraram em um amplo corredor de mármore italiano, estuque e dourações.
Oito pares de estátuas margeavam o corredor - todas retratando a deusa Minerva. Bellamy
prosseguiu, guiando Langdon para o leste sob um arco abobadado, em direção a um espaço bem
maior.
Mesmo sob a iluminação fraca usada fora do horário de funcionamento, o grande saguão da
biblioteca reluzia com a grandiosidade clássica de um opulento palácio europeu. A pouco mais de 20
metros do chão, clarabóias de vitral cintilavam entre vigas enfeitadas com a rara "folha de alumínio"
- metal na época considerado mais valioso do que o ouro. Sob as vigas, uma imponente sequência de
colunas em pares percorria a extensão da galeria do segundo andar, acessível por duas magníficas
escadas em espiral, cujos pilares sustentavam gigantescas estátuas de bronze de mulheres segurando
tochas que representavam o conhecimento. Em uma tentativa bizarra de refletir o tema do saber
moderno sem desrespeitar o registro decorativo da arquitetura renascentista, os corrimãos das
escadas haviam sido esculpidos com figuras de meninos parecendo cupidos, porém retratados como
cientistas modernos. Um eletricista angelical segurando um telefone? Um querubim entomologista
com um espécime numa caixa? Langdon se perguntou o que Bernini teria achado daquilo.
– Vamos conversar aqui. - Disse Bellamy, passando com Langdon em frente às vitrines à prova
de bala que abrigavam os dois livros mais valiosos da biblioteca: a Bíblia Gigante de Mainz, escrita à
mão em 1450, e o exemplar norte-americano da Bíblia de Gutenberg, um dos três únicos em velino
no mundo em perfeito estado. Apropriadamente, o teto abobadado acima daquele espaço exibia os
seis painéis pintados por John White Alexander intitulados A Evolução do Livro.
Bellamy seguiu direto até um par de elegantes portas duplas no centro da parede do final do
corredor leste. Langdon sabia muito bem o que havia ali, mas achou a escolha estranha para uma
conversa. Não bastasse a ironia de se falar em um espaço cheio de placas de "Silêncio, por favor",
aquela sala estava longe de parecer um "lugar seguro". Situada no meio da planta cruciforme da
biblioteca, ela era o coração do prédio. Refugiar-se ali era como arrombar uma catedral e ir se
esconder no altar.
Mesmo assim, Bellamy destrancou as portas, adentrou a escuridão do outro lado e tateou à
procura do interruptor. Quando ele acendeu a luz, uma das grandes obras-primas arquitetônicas dos
Estados Unidos pareceu se materializar do nada.
A famosa sala de leitura era um banquete para os sentidos. Um volumoso octógono com quase
50 metros de altura no ponto central, tinha os oito lados revestidos de mármore do Tennessee cor de
chocolate, mármore de Siena creme e mármore argelino vermelho. Como o ambiente era iluminado
de oito ângulos diferentes, nenhuma sombra caía em lugar nenhum, dando a impressão de que a sala
reluzia.
– Há quem diga que esta é a sala mais bonita de Washington. - Disse Bellamy.
Talvez do mundo inteiro, pensou Langdon ao cruzar o limiar. Como sempre, seu olhar foi
primeiro atraído para cima, até a altíssima clarabóia central, da qual altos-relevos em gesso se
irradiavam, formando arabescos sinuosos cúpula abaixo até uma galeria superior. Ao redor da sala,
16 estátuas de bronze de personagens ilustres espiavam da balaustrada. Abaixo delas, uma
impressionante arcada formava uma galeria inferior. No nível do chão, três círculos concêntricos de
escrivaninhas de madeira polida se estendiam a partir do imenso balcão de empréstimo octogonal.
Langdon voltou novamente a atenção para Bellamy, que prendia as portas duplas da sala para mantê-
las abertas.
– Pensei que estivéssemos nos escondendo! - Disse Langdon, sem entender.
– Se alguém entrar no prédio - disse Bellamy -, quero ouvir quando chegar.
– Mas aqui não seremos achados num instante?
– Seja qual for o nosso esconderijo, eles vão nos encontrar. Mas, se alguém nos encurralar aqui
dentro, o senhor vai ficar muito grato por eu ter escolhido esta sala.
Langdon não fazia a menor ideia do por quê, mas Bellamy aparentemente não estava disposto a
conversar a respeito. Ele já tinha avançado para o centro da sala, onde escolheu uma das mesas de
leitura, puxou duas cadeiras e acendeu a luminária. Então, apontou para a bolsa de Langdon.
– Muito bem, professor, vamos examinar melhor isso.
Sem querer correr o risco de arranhar a superfície encerada com um pedaço áspero de granito,
Langdon pôs a bolsa inteira em cima da mesa e abriu o zíper, abaixando as laterais para revelar a
pirâmide lá dentro. Warren Bellamy ajustou a luminária e estudou a pirâmide atentamente. Correu os
dedos por cima da inscrição pouco usual.
– Imagino que o senhor esteja reconhecendo esta língua? - Perguntou ele.
– Claro. - Respondeu Langdon olhando para os 16 símbolos.
Conhecida como Cifra Maçônica, aquela linguagem codificada tinha sido usada para
comunicações pessoais entre os primeiros irmãos maçons. O método de criptografia tinha sido
abandonado fazia muito tempo por um motivo simples - era fácil demais de decifrar. A maioria dos
alunos que cursava o seminário avançado de simbologia de Langdon era capaz de quebrar aquele
código em cerca de cinco minutos. Com papel e lápis, Langdon podia fazê-lo em menos de 60
segundos. Porém, naquela situação, a notória facilidade daquele sistema de criptografia secular
criava alguns paradoxos. Em primeiro lugar, a alegação de que Langdon era a única pessoa do
mundo capaz de decifrá-lo era absurda. Em segundo lugar, Sato sugerir que uma cifra maçônica era
uma questão de segurança nacional equivalia a dizer que os códigos de lançamento da bomba nuclear
norte-americana eram criptografados com um anel decodificador de brinquedo. Langdon ainda
estava se esforçando para acreditar em tudo aquilo. Esta pirâmide é um mapa? Um mapa que indica
o caminho para encontrar o saber perdido de todos os tempos?
– Robert - disse Bellamy em tom grave -, a diretora Sato lhe disse por que está tão interessada
nisto aqui?
Langdon fez que não com a cabeça.
– Não exatamente. Ela só ficava repetindo que era uma questão de segurança nacional.
Imagino que esteja mentindo.
– Pode ser. - Disse Bellamy, esfregando a nuca. Parecia estar debatendo alguma questão
internamente. - Mas existe uma possibilidade muito mais perturbadora. - Ele se virou para encarar
Langdon. - É possível que a diretora Sato tenha descoberto o verdadeiro potencial desta pirâmide.

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