terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 49 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 49

Robert Langdon desligou o celular, cada vez mais preocupado. Por que Katherine não está
atendendo? Ela havia prometido telefonar assim que conseguisse sair em segurança do laboratório e
estivesse a caminho para encontrá-lo, mas até agora nada.
Bellamy estava sentado ao lado de Langdon à mesa da sala de leitura. O Arquiteto também
acabara de dar um telefonema, no seu caso, para uma pessoa que, dizia ele, poderia lhes dar guarida -
um lugar seguro para se esconder. Infelizmente, essa pessoa tampouco estava atendendo, de modo
que Bellamy deixara um recado urgente dizendo-lhe para ligar imediatamente para o celular de
Langdon. - Vou continuar tentando - disse ele a Langdon -, mas, por ora, estamos sozinhos. E
precisamos conversar sobre um plano para esta pirâmide.
A pirâmide. Para Langdon, o cenário espetacular da sala de leitura tinha praticamente
desaparecido, e seu mundo agora se reduzia apenas ao que estava logo à sua frente: uma pirâmide de
pedra, um embrulho lacrado contendo um cume e um negro elegante que havia se materializado da
escuridão para resgatá-lo de um interrogatório da CIA. Langdon imaginava que o Arquiteto do
Capitólio tivesse pelo menos alguma sanidade, mas agora parecia que Warre Bellamy não era mais
racional do que o louco que dizia que Peter estava no purgatório. Bellamy insistia que aquela
pirâmide de pedra era de fato a Pirâmide Maçônica da lenda. Um antigo mapa? Que nos conduz a
um poderoso saber?
– Sr. Bellamy - disse Langdon com educação -, essa ideia de que existe algum tipo de saber
antigo capaz de conferir grande poder aos homens... Eu simplesmente não consigo levar isso a sério.
O olhar de Bellamy exibiu ao mesmo tempo decepção e intensidade, tornando o ceticismo de
Langdon ainda mais constrangedor.
– Sim, professor, eu já imaginava que o senhor fosse pensar assim, por isso eu não deveria ficar
surpreso. O senhor é uma pessoa de fora olhando para dentro. Existem determinadas realidades
maçônicas que irá perceber como mitos, porque não foi devidamente iniciado nem está preparado
para compreendê-las.
Langdon sentiu que estava sendo tratado feito criança. Eu não fiz parte da tripulação de
Odisseu, mas tenho certeza de que os ciclopes são um mito.
– Sr. Bellamy, mesmo que a lenda seja verdade... Esta pirâmide aqui não pode ser a Pirâmide
Maçônica.
– Não? - Bellamy correu um dedo pela inscrição maçônica na pedra. - Parece-me que ela
corresponde perfeitamente à descrição. Uma pirâmide de pedra com um cume de metal brilhante que,

segundo o raio X de Sato, é exatamente o que Peter lhe confiou. - Bellamy apanhou o pequeno
embrulho em forma de cubo, sopesando-o.
– Esta pirâmide de pedra tem cerca de 30 centímetros de altura. - Rebateu Langdon. - Todas as
versões da história que já escutei descrevem a Pirâmide Maçônica como enorme. - Bellamy
claramente já tinha pensado nisso.
– Como o senhor sabe, a lenda se refere a uma pirâmide tão alta que Deus em pessoa pode
estender a mão para tocá-la.
– Exato.
– Entendo seu dilema, professor. Apesar disso, tanto os Antigos Mistérios quanto a filosofia
maçônica celebram o potencial divino dentro de cada um de nós. Simbolicamente falando, seria
possível afirmar que qualquer coisa ao alcance de um homem esclarecido... Está ao alcance de Deus.
Langdon não se deixou abalar pelo jogo de palavras.
– Até mesmo a Bíblia confirma isso. - Disse Bellamy. - Se aceitarmos, como diz o Gênesis, que
"Deus criou o homem à Sua imagem", então, também devemos aceitar as implicações disso: ou seja,
que a humanidade não foi criada inferior a Deus. Em Lucas 17:21, podemos ler que "O reino de
Deus está entre vós".
– Desculpe, mas não conheço nenhum cristão que se considere igual a Deus.
– Claro que não. - Disse Bellamy em tom mais duro. - Porque a maioria dos cristãos quer o
melhor dos dois mundos. Eles querem poder declarar orgulhosamente que creem na Bíblia, mas
simplesmente preferem ignorar as partes que consideram difíceis ou inconvenientes demais para
acreditar.
Langdon não respondeu nada.
– De toda forma - disse Bellamy -, quanto à descrição secular da Pirâmide Maçônica como alta
o suficiente para poder ser tocada por Deus, ela levou a várias interpretações equivocadas em relação
ao seu tamanho. Convenientemente, isso faz acadêmicos como o senhor seguirem insistindo que a
pirâmide é uma lenda, então ninguém a procura.
Langdon baixou os olhos para a pirâmide de pedra.
– Desculpe se estou decepcionando o senhor - disse ele -, mas é que sempre pensei na Pirâmide
Maçônica como um mito.
– Não lhe parece perfeitamente apropriado que um mapa criado por pedreiros esteja gravado
em pedra? Ao longo da história, nossas diretrizes mais importantes sempre foram gravadas em pedra,
incluindo a tabuleta entregue por Deus a Moisés: 10 Mandamentos para guiar a conduta humana.
– Entendo, mas, mesmo assim, todas as referências são sempre à lenda da Pirâmide Maçônica.
Lenda pressupõe que seja um mito.
– Sim, lenda. - Bellamy deu uma risadinha. - Temo que o senhor esteja com mesmo problema
que Moisés enfrentou.
– Como assim?
Bellamy parecia estar quase achando graça ao se virar na cadeira e erguer os olhos para a
segunda galeria, onde 16 estátuas de bronze os espiavam lá de cima.
– Está vendo Moisés?
Langdon olhou para a famosa estátua de Moisés da biblioteca.
– Estou.
– Ele tem chifres.
– Eu sei disso.
– Mas sabe por que ele tem chifres?
Como a maioria dos professores, Langdon não gostava de levar sermão. O Moisés acima deles
tinha chifres pela mesma razão que milhares de imagens cristãs de Moisés tinham chifres - um erro
de tradução do livro do Êxodo. O texto original em hebraico descrevia Moisés como tendo um
"karan ohrpanav", o que quer dizer que "sua pele do rosto brilhava com raios de luz". Mas, quando a
Igreja católica fez a tradução oficial da Bíblia para o latim, o tradutor se confundiu na descrição de
Moisés, traduzindo-a como "cornuta esset facies sua", que significa "seu rosto tinha chifres". A partir
daí, artistas e escultores, temendo represálias caso não fossem fiéis aos Evangelhos, começaram a
retratar Moisés com chifres.
– Foi um simples erro. - Respondeu Langdon. - Uma tradução equivocada de São Jerônimo por
volta de 400 d.C. - Bellamy pareceu impressionado.
– Exato. Uma tradução equivocada. E o resultado disso... É que o pobre Moisés agora está
desfigurado para sempre. - "Desfigurado" era bondade dele. Quando criança, Langdon ficara
aterrorizado ao ver o diabólico "Moisés chifrudo" de Michelangelo; peça central da Basílica de São
Pedro Acorrentado, em Roma.
– Estou mencionando o Moisés chifrudo - disse Bellamy - para ilustrar como uma única
palavra, quando mal compreendida, é capaz de reescrever a história.
O senhor está querendo ensinar o pai-nosso ao vigário, pensou Langdon, que havia aprendido
essa lição na própria pele em Paris alguns anos antes. SanGreal: Santo Graal. SangReal: Sangue
Real.
– No caso da Pirâmide Maçônica - prosseguiu Bellamy -, as pessoas ouviram boatos sobre uma
"legenda". E a ideia pegou. A história legendária da Pirâmide Maçônica soava como um mito. Mas a
palavra legenda não se referia a uma lenda, e sim a outra coisa. Houve um erro de interpretação. De 
forma muito parecida com a palavra talismã. - Ele sorriu. - A linguagem pode ser muito boa para
esconder a verdade.
– O senhor tem razão, mas não estou entendendo aonde quer chegar.
– Robert, a Pirâmide Maçônica é um mapa. E, como todo mapa, ela tem uma legenda: uma
chave que ensina como deve ser lida. - Bellamy pegou o embrulho em forma de cubo e o levantou. -
Não está vendo? O cume é a legenda da pirâmide. Ele é a chave que ensina a ler o artefato mais
poderoso da Terra, um mapa que revela onde está escondido o maior tesouro da humanidade: o saber
perdido de todas as épocas.
Langdon se calou.
– Eu sugiro humildemente - disse Bellamy - que sua gigantesca Pirâmide Maçônica não passa
disto aqui... Uma modesta pedra cujo cume de ouro se ergue alto o bastante para ser tocado por Deus.
Alto o bastante para um homem esclarecido poder estender a mão e tocá-lo.
O silêncio pairou entre os dois homens por vários segundos.
Então, Langdon sentiu um arroubo inesperado de entusiasmo ao fitar novamente a pirâmide,
vendo-a com novos olhos. Tornou a olhar para a cifra maçônica.
– Mas este código... Parece tão...
– Simples? - Langdon assentiu.
– Praticamente qualquer um poderia decifrá-lo. - Bellamy sorriu e pegou lápis e papel para
Langdon.
– Então talvez você possa nos esclarecer a questão. - Langdon não se sentia à vontade lendo
aquele código, mas, levando em conta as circunstâncias, aquilo lhe parecia uma traição menor à
confiança de Peter. Além do mais, independentemente do que dissesse aquela inscrição, ele não
podia imaginar que fosse de fato revelar o esconderijo secreto de qualquer coisa... Quanto mais de
um dos maiores tesouros da história.
Langdon pegou o lápis que Bellamy lhe estendia e ficou dando batidinhas com ele no queixo
enquanto estudava a cifra. Era tão fácil que ele nem precisava de lápis e papel. Mesmo assim, queria
ter certeza de que não cometeria nenhum erro, por isso levou obedientemente o lápis ao papel e
escreveu a chave de leitura mais comum para uma cifra maçônica. Ela era constituída por quatro
grades - duas simples, duas pontilhadas - nas quais as letras do alfabeto se encaixavam na ordem
correta. Cada letra ficava então posicionada dentro de um "compartimento" ou "baia" de formato
único. O formato do compartimento de cada letra se tornava o símbolo dessa letra.
O esquema era tão simples que quase chegava a ser infantil.
Langdon conferiu o que havia traçado. Seguro de que a chave estava correta, voltou sua
atenção para o código inscrito na pirâmide. Para decifrá-lo, tudo que precisava fazer era encontrar o
formato correspondente na chave de leitura e escrever a letra que este continha.
O primeiro caractere da pirâmide se parecia com uma flecha apontando para baixo ou um
cálice. Langdon encontrou sem demora o segmento em forma de cálice na chave de leitura. Ele
estava situado no canto inferior esquerdo e continha a letra S. Langdon escreveu S.
O símbolo seguinte da pirâmide era um quadrado sem a lateral direita e com um ponto. Na
grade de interpretação, esse formato continha a letra O. Ele escreveu O.
O terceiro símbolo era um quadrado simples, que continha a letra E.
Langdon escreveu E.
S O E...
Ele prosseguiu, indo cada vez mais rápido até completar toda a grade. Então, ao olhar para a
tradução concluída, soltou um suspiro intrigado. Não é bem o que eu chamaria de momento eureca.
O rosto de Bellamy exibia um esboço de sorriso.
– Como você sabe, professor, os Antigos Mistérios são reservados apenas para os
verdadeiramente iluminados.
– Certo. - Disse Langdon, franzindo o cenho. Aparentemente, não é o meu caso.

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