terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 52 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 52

Mal'akh podia sentir os músculos tatuados de suas costas se retesarem enquanto contornava o
prédio, correndo pelo caminho de volta em direção à porta deslizante do Galpão 5. Preciso entrar no
laboratório dela.
A fuga de Katherine tinha sido um imprevisto e era um problema. Ela não só sabia onde
Mal'akh morava, como também conhecia sua verdadeira identidade... E sabia que ele era o mesmo
homem que invadira sua casa 10 anos antes. Mal'akh tampouco havia se esquecido daquela noite.
Estivera prestes a conseguir a pirâmide, mas o destino o impedira. Eu ainda não estava preparado.
Mas agora se sentia confiante. Mais poderoso. Mais influente. Depois de ter suportado dificuldades
inimagináveis para preparar seu retorno, naquela noite Mal'akh estava pronto para finalmente
cumprir seu destino. Tinha certeza de que, antes de a noite terminar, olharia nos olhos de Katherine
Solomon no instante de sua morte.
Ao chegar à porta de correr, Mal'akh se reconfortou dizendo a si mesmo que Katherine, na
verdade, não tinha fugido; havia apenas adiado o inevitável. Passou pela abertura e atravessou com
confiança a escuridão até seus pés tocarem o carpete. Então dobrou à direita e tomou a direção do
Cubo. As batidas na porta do Galpão 5 haviam cessado, e Mal'akh desconfiava que, àquela altura, o
vigia estivesse tentando retirar a moeda de 10 centavos que ele havia enfiado na leitora do cartão.
Quando Mal'akh chegou à porta de entrada do Cubo, inseriu o cartão de acesso de Trish e o
painel numérico se acendeu. Digitou a senha da assistente e entrou. As luzes estavam todas acesas e,
ao adentrar o espaço estéril, ele apertou os olhos, admirado, diante da reluzente coleção de
equipamentos. Mal'akh conhecia o poder da tecnologia. Praticava sua própria forma de ciência no
porão de casa e, na noite anterior, parte dessa ciência tinha dado frutos. A Verdade.
O singular confinamento de Peter Solomon - preso sozinho no mundo intermediário - havia
revelado tudo o que ele escondia em seu íntimo. Eu posso ver a alma dele. Mal'akh já suspeitava de
alguns dos segredos que havia desvendado, mas não de outros, entre eles a informação relativa ao
laboratório de Katherine e às suas chocantes descobertas. A ciência está chegando perto, percebera
Mal'akh. E eu não vou permitir que ela ilumine o caminho dos indignos.
Katherine tinha começado seu trabalho ali usando a ciência moderna para responder a antigos
questionamentos filosóficos. Alguém ouve as nossas preces? Existe vida após a morte? Os seres
humanos têm alma? De forma inacreditável, Katherine havia respondido a todas essas perguntas e a
outras também. Respostas científicas. Conclusivas. Usando métodos irrefutáveis. Até mesmo os mais
céticos ficariam convencidos pelos resultados de suas experiências. Caso essas informações fossem

publicadas e divulgadas, uma mudança fundamental iria se iniciar na consciência humana. Eles
começarão a encontrar o caminho. A última missão de Mal'akh naquela noite, antes de sua
transformação, era garantir que isso não acontecesse.
Enquanto andava pelo laboratório, Mal'akh localizou a sala de armazenamento de dados sobre
a qual Peter tinha lhe falado. Espiou através do vidro grosso e viu as duas unidades holográficas.
Exatamente como ele descreveu. Mal'akh achava difícil imaginar que o conteúdo daquelas caixinhas
pudesse mudar o curso da evolução humana, mas a Verdade sempre fora o mais potente dos
catalisadores. Sem desgrudar os olhos das unidades holográficas de armazenamento, Mal'akh sacou o
cartão de acesso de Trish e o inseriu no painel de segurança da porta. Para sua surpresa, ele não se
acendeu. Ao que parecia, Trish Dunne não tinha acesso àquela sala. Então ele pegou o cartão que
havia encontrado no bolso do jaleco de Katherine. Quando o inseriu, o painel se iluminou.
Mas Mal'akh tinha um problema. Não peguei a senha de Katherine. Ele tentou a de Trish, mas
não funcionou. Esfregando o queixo, deu um passo para trás e examinou a porta de plexiglas de
quase oito centímetros de espessura. Mesmo com um machado, sabia que não conseguiria arrombá-la
para chegar aos drives que precisava destruir. Mal'akh, no entanto, havia pensado nessa
eventualidade. Na sala de máquinas, exatamente como Peter tinha descrito, ele localizou o suporte
que continha vários cilindros de metal parecidos com grandes tanques de mergulho. Os cilindros
ostentavam as letras LH, o número 2 e o símbolo universal de material inflamável. Um deles estava
conectado ao gerador de hidrogênio do laboratório.
Mal'akh deixou no lugar o cilindro que estava conectado e ergueu cuidadosamente um dos que
serviam de reserva, baixando-o até um carrinho ao lado do suporte. Então o empurrou para fora da
sala de máquinas e atravessou o laboratório, levando-o até a porta de plexiglas da sala de
armazenamento de dados. Embora ali com certeza já fosse perto o suficiente para o que estava
planejando, ele havia notado um ponto fraco na pesada porta de segurança - o pequeno espaço entre a
borda inferior e o batente. Com todo o cuidado, deitou o cilindro de lado na soleira, inserindo o tubo
flexível de borracha por debaixo da porta. Levou alguns instantes para remover os lacres de proteção
e chegar à válvula do tanque, destravando-a com muita delicadeza. Através do plexiglas, pôde ver o
líquido cristalino e borbulhante começar a vazar pelo tubo para o chão da sala. Mal'akh ficou
olhando a poça aumentar, escorrendo pelo piso, fumegando e borbulhando enquanto crescia. O
hidrogênio só permanecia em estado líquido a baixas temperaturas. Por isso, à medida que se
aquecesse, ele começaria a evaporar. Por sorte, o gás resultante era ainda mais inflamável do que o
líquido.
Basta lembrar a explosão do Hindenburg. Mal'akh voltou depressa para o laboratório e pegou
uma lata contendo óleo para o bico de Bunsen - uma substância viscosa e altamente inflamável.

Levou-a até a porta de plexiglas, satisfeito ao ver que o cilindro de hidrogênio líquido continuava a
vazar e que a poça de líquido fumegante dentro da sala de armazenamento já cobria o piso inteiro,
rodeando os pedestais que sustentavam as unidades holográficas. Uma bruma esbranquiçada se
erguia da poça à medida que o hidrogênio líquido se transformava em gás... Preenchendo o pequeno
espaço.
Mal'akh ergueu a lata de óleo e despejou uma boa quantidade dele sobre o cilindro de
hidrogênio e o tubo, assim como na pequena abertura debaixo da porta. Então, com todo o cuidado,
foi saindo do laboratório de costas, deixando um filete ininterrupto de óleo no chão à medida que
recuava.

A atendente responsável pelo disque-emergência de Washington tivera uma noite
particularmente agitada. Futebol, cerveja e lua cheia, pensou ela quando outra ligação pipocou em
sua tela, desta vez de um telefone público em um posto de gasolina da Suitland Parkway, em
Anacostia. Provavelmente um acidente de carro.
– Emergência. - Atendeu ela. - Em que posso ajudar?
– Acabei de ser atacada no Centro de Apoio dos Museus Smithsonian. - Disse uma mulher, em
pânico. - Por favor, mandem a polícia! Silver Hill Road, 4.210!
– Tudo bem, acalme-se. - Disse a atendente. - A senhora tem que...
– Preciso também que mandem a polícia para uma mansão em Kalorama Heights onde acho
que meu irmão está sendo mantido em cativeiro!
A atendente deu um suspiro. Lua cheia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário