terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 58 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 58

O explosivo Key4, apesar do apelido modesto, havia sido desenvolvido pelas Forças Especiais
para arrombar portas causando danos colaterais mínimos. Basicamente uma mistura de
ciclotrimetilenotrinitramina com aditivos plastificantes, era na verdade um pedaço de explosivo C-4
enrolado em lâminas finíssimas para ser inserido em batentes de portas. No caso da sala de leitura da
biblioteca, ele havia funcionado à perfeição.
O agente Turner Simkins, líder daquela operação, passou por cima dos escombros das portas e
correu os olhos pela enorme sala octogonal em busca de qualquer sinal de movimento.
Nada.
– Apaguem as luzes. - Disse ele.
Um segundo agente encontrou o interruptor e desligou as luzes, mergulhando a sala na
escuridão. Em perfeita sincronia, os quatro homens ergueram as mãos e abaixaram o equipamento de
visão noturna, ajustando os óculos por cima dos olhos. Então ficaram parados, vasculhando a sala de
leitura que agora se materializava em sombras verdes fosforescentes. A cena parecia congelada.
Nada mudou. Ninguém saiu correndo no escuro.
Os fugitivos provavelmente estavam desarmados, mas mesmo assim a equipe entrou na sala de
armas em punho. Naquele breu, elas emitiam quatro ameaçadores feixes de raios laser. Os homens
projetaram os feixes em todas as direções, pelo chão, pelas paredes do fundo, para dentro das
galerias, vasculhando a escuridão. Muitas vezes, a simples visão de uma arma com mira a laser
bastava para provocar uma rendição imediata. Aparentemente, não esta noite.
Ainda não houvera nenhum movimento.
O agente Simkins levantou a mão, gesticulando para sua equipe  entrar no  recinto.  Em
silêncio,  os  homens  se espalharam. Avançando com cautela pelo corredor central, Simkins acionou
um botão nos óculos, ativando a mais recente inovação do arsenal da CIA. Os geradores de imagens
térmicas existiam havia muitos anos, mas avanços recentes em miniaturização, sensibilidade
diferencial e integração de duas fontes haviam possibilitado uma nova geração de equipamentos de
otimização visual que dava aos agentes uma visão quase sobre-humana.
Nós podemos ver no escuro. Podemos ver através das paredes. E agora... podemos ver o
passado.
Os equipamentos geradores de imagens térmicas haviam se tornado tão sensíveis às diferenças
de temperatura que eram capazes de detectar não apenas a localização de uma pessoa... Mas também
onde ela esteve antes. A capacidade de ver o passado muitas vezes se revelava a maior vantagem de

todas. E, naquela noite, mais uma vez, ela provava seu valor. O agente Simkins viu uma assinatura
térmica em uma das mesas de leitura. As duas cadeiras de madeira surgira fosforescentes em seus
óculos, num tom roxo-avermelhado, o que indicava que elas estavam mais quentes do que as outras
cadeiras da sala. A lâmpada da luminária sobre a mesa brilhava em cor laranja. Era óbvio que os dois
homens tinham se sentado ali, mas a pergunta agora era em que direção tinham fugido. Ele encontrou
a resposta no balcão central que rodeava o grande armário de madeira no centro da sala. A
fantasmagórica impressão de uma palma de mão, reluzia em vermelho-vivo.
De arma em punho, Simkins avançou em direção ao móvel octogonal, correndo o laser pela
superfície. Deu a volta até ver uma abertura na lateral do armário. Não acredito que eles tenham se
metido neste beco sem saída! O agente verificou o friso ao redor da abertura e viu ali outra marca
brilhante de mão. Obviamente, a pessoa havia segurado o batente da porta ao se enfiar dentro do
armário.
A hora de ficar em silêncio havia terminado.
– Assinatura térmica! - Gritou Simkins, apontando para a abertura. - Flancos, convergir!
Seus dois flancos avançaram de direções opostas, cercando com eficácia o armário octogonal.
Simkins avançou na direção da abertura. Embora ainda estivesse a três metros, já podia ver
uma fonte de luz lá dentro.
– Há uma luz acesa no armário! - Gritou, torcendo para que o som da sua voz convencesse o
Sr. Bellamy e o Sr. Langdon a saírem lá de dentro com as mãos para cima.
Nada aconteceu.
Beleza, a gente faz do outro jeito.
À medida que se aproximava da abertura, Simkins pôde ouvir um zumbido inesperado
emanando lá de dentro. Parecia um som de máquina. Ele se deteve, tentando imaginar o que poderia
estar fazendo aquele barulho dentro de um espaço tão pequeno. Aproximou-se devagar, passando a
ouvir vozes misturadas ao ruído mecânico. Então, no instante em que ele alcançou a abertura, as
luzes lá dentro se apagaram. Obrigado, pensou, ajustando os óculos de visão noturna. Vantagem
nossa.
Parado junto ao limiar, ele espiou pela abertura. Ficou surpreso com o que viu lá dentro. Aquilo
não era bem um armário, mas sim a entrada para um íngreme lance de escada que levava a um
aposento logo abaixo. Mirando a arma para a saleta, o agente começou a descer os degraus. O
zumbido ficava mais forte a cada passo. Que raio de lugar é este?
O recinto abaixo da sala de leitura era um pequeno espaço de aspecto industrial. O ruído que o
agente ouvia vinha de fato de uma máquina, embora ele não soubesse precisar se ela estava ligada
porque Bellamy e Langdon a haviam acionado ou porque funcionava em tempo integral. De toda
forma, aquilo obviamente não tinha importância. Os fugitivos tinham deixado suas reveladoras
assinaturas térmicas na única saída dali: uma pesada porta de aço cujo teclado de acesso exibia
quatro impressões digitais bem nítidas reluzindo sobre os números. Nesgas brilhantes de cor laranja
irradiavam sob o batente da porta, indicando que as luzes do outro lado estavam acesas.
– Explodam esta porta. - Ordenou Simkins. - Eles fugiram por aqui.
Os agentes de campo só precisaram de oito segundos para inserir e detonar uma lâmina de
Key4. Quando a fumaça se dissipou, eles se viram diante de um estranho mundo subterrâneo
conhecido como "as estantes". A Biblioteca do Congresso tinha quilômetros e mais quilômetros de
estantes, a maioria delas subterrâneas. As intermináveis filas de prateleiras pareciam algum tipo de
ilusão de ótica "infinita" criada com espelhos.
Simkins empurrou as portas destruídas e sentiu um ar frio do outro lado. Não pôde reprimir um
sorriso ao ler a placa:
AMBIENTE DE TEMPERATURA CONTROLADA. Mantenha esta porta fechada.
Mais fácil que isso, impossível. Em ambientes de temperatura controlada, as assinaturas
térmicas brilhavam feito bolas de fogo, e seus óculos já revelavam um borrão vermelho reluzente em
um corrimão mais à frente que Bellamy ou Langdon haviam segurado ao passar correndo.
– Vocês podem correr - sussurrou para si mesmo -, mas não podem se esconder.
À medida que Simkins e sua equipe entravam no labirinto de estantes, ele percebeu que o jogo
estava tão desequilibrado a seu favor que nem precisaria dos óculos para encontrar sua presa. Em
circunstâncias normais, aquele mundo de estantes teria sido um esconderijo de respeito, mas a
Biblioteca do Congresso usava lâmpadas com sensores de movimento para poupar energia, de modo
que a rota de saída dos fugitivos agora estava acesa feito uma pista de aterrissagem. Uma estreita
faixa iluminada se estendia a perder de vista, curvando-se e serpenteando adiante.
Todos os homens arrancaram os óculos. Bem treinados, os agentes de campo seguiram a trilha
de luz, ziguezagueando por um labirinto de livros aparentemente interminável. Logo Simkins
começou a ver luzes se acendendo na escuridão à frente. Estamos chegando perto. Ele apertou o
passo, acelerando até ouvir o som de passadas e uma respiração ofegante mais além. Foi então que
viu um alvo.
– Contato visual! – Berrou.
A forma esguia de Warren Bellamy parecia estar na retaguarda. Vestido de forma impecável,
ele cambaleava por entre as estantes, evidentemente sem fôlego. Não adianta, velhote.
– Parado aí, Sr. Bellamy! - Gritou Simkins.
Bellamy continuou a correr, fazendo curvas fechadas, serpenteando por entre as fileiras de
livros. Cada vez que mudava de direção, tentando despistá-los, as luzes se acendiam acima de sua
cabeça.
Quando estava a menos de 20 metros de distância, Simkins gritou novamente para Bellamy
parar, mas ele seguiu correndo.
– Derrubem-no! - Ordenou.
O agente que portava a arma não letal da equipe ergueu-a e disparou. O projétil que zuniu pelo
corredor e envolveu as pernas de Bellamy tinha o inocente apelido de Silly String, pois se
assemelhava aos sprays de serpentina, só que de inocente não tinha nada. Tecnologia militar
desenvolvida no Laboratório Nacional Sandia, aquele "incapacitante" não letal era um fio de
poliuretano pegajoso que se tornava duro como pedra ao entrar em contato com outro objeto, criando
uma teia de plástico rígida na parte de trás dos joelhos dos fugitivos. O efeito sobre um alvo que
estivesse correndo era o mesmo que enfiar um pedaço de pau entre os raios da roda de uma bicicleta.
As pernas de Bellamy se imobilizaram no meio de um passo e ele caiu para a frente, desabando no
chão. Ainda deslizou mais três metros pelo corredor escuro antes de parar, fazendo com que as luzes
acima se acendessem sem cerimônia.
– Eu cuido de Bellamy. - Gritou Simkins. - Vocês continuam atrás de Langdon! Ele deve estar
mais adiante... - O líder da equipe se calou, percebendo que as estantes diante de Bellamy estavam
todas mergulhadas em um breu total. Era óbvio que não havia mais ninguém correndo na frente dele.
Ele está sozinho?
Bellamy continuava deitado de bruços, respirando pesado, com as pernas e os tornozelos
imobilizados pelo plástico duro. O agente chegou perto dele e usou o pé para virá-lo de barriga para
cima.
– Onde ele está?! - perguntou o agente. A boca de Bellamy sangrava por causa da queda.
– Onde está quem?
O agente Simkins levantou o pé e pisou com a bota bem em cima da imaculada gravata de seda
de Bellamy. Então inclinou o corpo para baixo, fazendo um pouco de pressão.
– Pode acreditar em mim, Sr. Bellamy, o senhor não vai querer fazer esse joguinho comigo.

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