terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capítulo 62 (O Simbolo Perdido)


CAPÍTULO 62

Estou debaixo da Rua 2.
Langdon manteve os olhos bem fechados enquanto a esteira seguia aos solavancos pela
escuridão rumo ao Adams Building. Esforçou-se ao máximo para não imaginar as toneladas de terra
acima dele e o túnel estreito pelo qual avançava. Podia ouvir Katherine respirando logo adiante,
embora, até o momento, ela não tivesse pronunciado uma só palavra.
Ela está em choque. Langdon não estava com a menor vontade de lhe falar sobre a mão cortada
de Peter. Você tem que contar, Robert. Ela precisa saber.
- Katherine - disse Langdon por fim, sem abrir os olhos -, você está bem?
Uma voz trêmula respondeu mais à frente.
– Robert, essa pirâmide que você está carregando. Ela pertence a Peter, não é?
– Sim. - Respondeu Langdon. Seguiu-se um longo silêncio.
– Eu acho... Que foi por causa dessa pirâmide que minha mãe foi assassinada.
Langdon sabia muito bem que Isabel Solomon fora assassinada 10 anos antes, mas não
conhecia os detalhes, e Peter nunca havia mencionado nada sobre uma pirâmide.
– Como assim?
A voz de Katherine se encheu de emoção enquanto ela relatava os terríveis acontecimentos
daquela noite e como o assassino do seu sobrinho tinha invadido a propriedade da família.
– Faz muito tempo, mas eu nunca vou esquecer que ele pediu uma pirâmide. Disse que
Zachary tinha falado nela na prisão... Pouco antes de morrer.
Langdon ficou escutando, assombrado. A tragédia que assolava a família Solomon era quase
inconcebível. Katherine prosseguiu, contando a Langdon que sempre pensara que o intruso tivesse
sido morto naquela noite... Até ele reaparecer fingindo ser o psiquiatra de Peter e atraí-la para sua
casa.
– Ele conhecia detalhes da vida particular do meu irmão, sabia da morte da minha mãe e tinha
informações até sobre o meu trabalho - disse ela, nervosa -, coisas que só Peter poderia ter revelado.
Então eu confiei nele... E foi assim que ele conseguiu entrar no Centro de Apoio dos Museus
Smithsonian. - Katherine respirou fundo e disse a Langdon que tinha quase certeza de que aquele
homem destruíra seu laboratório.
Langdon seguia ouvindo, chocado. Durante alguns instantes, os dois ficaram deitados em
silêncio sobre a esteira rolante.
Langdon sabia que tinha a obrigação de compartilhar com Katherine o restante das terríveis
notícias daquela noite. Com a maior delicadeza possível, contou a ela como seu irmão lhe havia
confiado anos antes um pequeno embrulho e como o sequestrador o manipulara, fazendo com que
trouxesse o pacote até Washington. Por fim, revelou como a mão de Peter fora encontrada na
Rotunda do Capitólio. A reação de Katherine foi um silêncio de gelar o sangue. Langdon sabia que
ela devia estar profundamente abalada e desejou poder estender a mão para reconfortá-la, mas, como
estavam deitados um na frente do outro dentro de um túnel escuro e estreito, isso era impossível.
– Peter está bem. - Sussurrou. - Ele está vivo, e nós vamos trazê-lo de volta. - Langdon tentou
lhe dar esperanças. - Katherine, o sequestrador prometeu que seu irmão será devolvido com vida... Se
eu decifrar a pirâmide para ele. - Katherine permaneceu calada.
Langdon continuou falando. Contou a ela sobre a pirâmide de pedra, a cifra maçônica, o cume
lacrado e, é claro, sobre as alegações de Bellamy de que aquele artefato era na verdade a Pirâmide
Maçônica da lenda... Um mapa que revelava o esconderijo de uma comprida escada em caracol que
conduzia ao centro da Terra... Descendo centenas de metros até um antigo tesouro místico enterrado
tempos atrás em Washington.
Katherine finalmente falou, mas com uma voz monótona e sem emoção.
– Robert, abra os olhos.
Abrir os olhos? Langdon não queria ver nem de relance como aquele lugar era apertado.
– Robert! - Chamou Katherine, desta vez com mais urgência. - Abra os olhos! Chegamos!
Os olhos de Langdon se abriram depressa enquanto seu corpo emergia por uma abertura
parecida com a da outra ponta. Katherine já estava descendo da esteira. Ela pegou a bolsa enquanto
Langdon passava as pernas pela beirada e saltava para o chão de ladrilho bem a tempo, antes de a
esteira fazer a curva e retomar na direção contrária. O espaço que os cercava era uma sala de
distribuição bem parecida com a do prédio de onde tinham vindo. Uma plaquinha indicava ADAMS
BUILDING: SALA DE DISTRIBUIÇÃO 3. Langdon teve a sensação de que acabara de ser parido
por algum canal subterrâneo. Eu nasci de novo. Ele se virou na mesma hora para Katherine.
– Você está bem?
Seus olhos estavam vermelhos e era óbvio que ela havia chorado, mas mesmo assim Katherine
assentiu, demonstrando sua determinação. Pegou a bolsa de Langdon e levou-a até o outro lado da
sala sem dizer nada, pondo-a em cima de uma mesa entulhada. Acendeu a luminária, abriu o zíper da
bolsa, dobrou as laterais para baixo e olhou para o objeto à sua frente.
Sob o brilho límpido da lâmpada halógena, a pirâmide de granito parecia quase austera.
Katherine correu os dedos pela cifra maçônica gravada na pedra e Langdon pôde sentir que ela
estava tomada de profunda emoção. Devagar, ela pôs a mão dentro da bolsa e retirou o embrulho em
forma de cubo. Então o segurou sob a luz para examiná-lo melhor.
– Como você pode ver - falou Langdon baixinho -, o lacre de cera traz o brasão do anel
maçônico de Peter. Ele disse que o anel foi usado para lacrar o embrulho mais de um século atrás.
Katherine não fez nenhum comentário.
– Quando seu irmão me confiou o embrulho - prosseguiu Langdon -, ele me disse que o que
havia aqui dentro me daria o poder de criar ordem a partir do caos. Não estou muito certo do que isso
significa, mas só posso supor que o cume revela algo importante, porque Peter enfatizou que ele não
poderia cair em mãos erradas. Warren Bellamy acaba de me dizer a mesma coisa e insistiu para que
eu escondesse a pirâmide e não deixasse ninguém abrir o embrulho. - Katherine então se virou para
ele, parecendo zangada.
– Bellamy lhe disse para não abrir o embrulho?
– Isso mesmo. Ele foi categórico. - Katherine parecia não acreditar.
– Mas você falou que este cume é o nosso único meio de decifrar a pirâmide...
– Provavelmente, sim. - Katherine começou a levantar a voz.
– Robert, você não acabou de dizer que o sequestrador lhe deu ordens expressas de decifrar a
pirâmide e que essa é a única forma de termos Peter de volta?
Langdon fez que sim.
– Nesse caso, por que deixaríamos de abrir o embrulho e decifrar este troço agora mesmo?
Langdon não soube o que responder.
– Katherine, eu tive exatamente a mesma reação, mas Bellamy me disse que proteger o segredo
desta pirâmide era o mais importante de tudo... Mais até do que salvar a vida do seu irmão.
Os belos traços de Katherine endureceram e ela ajeitou uma mecha de cabelos atrás da orelha.
Quando falou, sua voz estava decidida.
– Esta pirâmide de pedra, seja ela o que for, já me custou minha família inteira. Primeiro meu
sobrinho Zachary, depois minha mãe e agora meu irmão. E convenhamos, Robert, se você não
tivesse ligado hoje à noite para me alertar... Eu também...
Langdon se sentia encurralado entre a lógica de Katherine e a insistência de Bellamy.
– Eu posso ser uma cientista - disse ela -, mas também venho de uma família de maçons
renomados. Acredite em mim, já escutei todas as histórias possíveis sobre a Pirâmide Maçônica e sua
promessa de um grande tesouro capaz de iluminar a humanidade. Sinceramente, acho difícil acreditar
que uma coisa dessas exista. Mas se existir... Talvez esteja na hora de ser revelada. - Katherine
deslizou um dedo sob o velho barbante do embrulho.
Langdon deu um pulo.
– Katherine, não! Espere!
Ela parou, mas manteve o dedo sob o barbante.
– Robert, eu não vou deixar meu irmão morrer por causa disto. O que quer que este cume
diga... Sejam quais forem os tesouros perdidos que a inscrição possa revelar... Esses segredos
terminam hoje.
Com essas palavras, Katherine deu um puxão desafiador no barbante - e o frágil lacre de cera
se partiu.

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