quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capítulo 9 (O Simbolo Perdido)



CAPÍTULO 9

No Salão das Estátuas, Robert Langdon pressionou o celular contra a orelha e pôs-se a andar de
um lado para o outro em um círculo fechado.
– Quem é você, droga?
A resposta do homem veio em um sussurro sedoso, calmo.
– Não fique alarmado, professor. O senhor foi convocado a vir aqui por um motivo.
– Convocado? - Langdon se sentiu como um animal enjaulado. - Que tal sequestrado?
– Não é bem assim. - A voz do homem era de uma serenidade sinistra. - Se eu quisesse
machucá-lo, o senhor agora estaria morto dentro daquele Lincoln. - Ele deixou as palavras pairarem
no ar por alguns instantes. - As minhas intenções são as mais nobres possíveis, posso lhe garantir. Eu
gostaria simplesmente de lhe fazer um convite.
Não, obrigado. Desde as suas experiências na Europa nos últimos anos, a indesejada
celebridade o transformara em um ímã de malucos, e aquele ali havia acabado de ultrapassar os
limites.
– Olhe aqui, não sei que diabos está acontecendo, mas vou desligar...
– Eu não faria isso - disse o homem. - A sua janela de oportunidade é muito pequena se deseja
salvar a alma de Peter Solomon.
Langdon puxou o ar com força.
– O que foi que você disse?
– Tenho certeza de que o senhor me ouviu.
A forma como aquele homem pronunciara o nome de Peter deixou Landgon petrificado.
– O que você sabe sobre Peter?
– Neste exato momento eu conheço os mais profundos segredos dele. O Sr. Solomon é meu
convidado, e eu sei ser um anfitrião persuasivo.
Isto não pode estar acontecendo.
– Você não está com Peter.
– Eu atendi o celular pessoal dele. Isso deveria fazer o senhor parar e pensar.
– Vou chamar a polícia.
– Não precisa - disse o homem. - As autoridades estarão com o senhor daqui a pouco.
Do que esse louco está falando? O tom de Landgon ficou mais ríspido.
– Se você está com Peter, ponha ele na linha agora mesmo.


– Impossível. O Sr. Solomon está preso em um lugar nada agradável. - O homem fez uma
pausa. - Ele está no Araf.
– Onde? - Langdon percebeu que estava apertando o celular com tanta força que seus dedos
estavam ficando dormentes. - O Araf? O Hamistagan? Aquele lugar ao qual Dante dedicou o livro
imediatamente posterior ao seu lendário Inferno?
As referências religiosas e literárias do homem aumentavam as suspeitas de Langdon de que
estava lidando com um louco. O segundo livro. Langdon o conhecia bem - ninguém consegue
escapar da Academia Phillips Exeter sem ler os cantos de Dante.
– Está dizendo que acha que Peter Solomon está... No purgatório?
– Vocês cristãos usam uma palavra rude, mas sim, o Sr. Solomon está no mundo intermediário.
As palavras do homem se demoraram nos ouvidos de Langdon.
– Está dizendo que Peter está... Morto?
– Não, não exatamente.
– Não exatamente?! - berrou Langdon, sua voz ecoando com força pelo salão. Uma família de
turistas olhou para ele. Ele lhes virou as costas e baixou a voz. - Em geral a morte é ou não é!
– O senhor me surpreende, professor. Imaginava que tivesse uma compreensão melhor dos
mistérios da vida e da morte. Existe de fato um mundo intermediário... Um mundo no qual Peter
Solomon está atualmente suspenso. Ele pode voltar para o seu mundo ou pode passar para o outro...
Dependendo de como você aja neste momento.
Langdon tentou processar o que ele dizia.
– O que você quer de mim?
É simples. O senhor obteve acesso a algo muito antigo. E hoje à noite vai compartilhar isso
comigo.
– Não faço ideia do que você está falando.
– Não? O senhor finge não entender os antigos segredos que lhe foram confiados?
Langdon teve uma súbita sensação de vertigem, suspeitando por fim do que aquilo
provavelmente se tratava. Antigos segredos. Não havia mencionado a ninguém sequer uma palavra
sobre suas experiências de vários anos atrás em Paris. Contudo, os fanáticos do Graal haviam
acompanhado de perto a cobertura da mídia, sendo que alguns conseguiram ligar os pontos e
acreditavam que Langdon agora detinha informações secretas relacionadas ao Santo Graal - e talvez
até a sua localização.
– Olhe aqui - disse Langdon -, se isso tiver a ver com o Santo Graal, posso lhe garantir que não
sei nada mais do que...
 


– Não ofenda a minha inteligência, Sr. Langdon - disparou o homem. - Não tenho nenhum
interesse em algo tão frívolo quanto o Santo Graal ou o patético debate da humanidade para saber
qual versão da história está correta. Discussões inúteis sobre a semântica da fé não me interessam
nem um pouco. São perguntas que só se respondem com a morte. - Aquelas palavras duras deixaram
Langdon confuso.
– Então do que você está falando?
O homem fez uma pausa de vários segundos.
– Como o senhor talvez saiba, nesta cidade existe um antigo portal.
Um antigo portal?
– E hoje à noite o senhor vai destrancá-lo para mim. Deveria se sentir honrado por eu ter
entrado em contato... Professor, o senhor vai receber o convite da sua vida. O senhor foi o único
escolhido.
E você enlouqueceu.
– Desculpe, mas você escolheu mal - disse Langdon. - Eu não sei nada sobre nenhum antigo
portal.
– O senhor não está entendendo, professor. Não fui eu que o escolhi... Foi Peter Solomon.
– O quê? - retrucou Langdon, sua voz pouco mais que um sussurro.
– O Sr. Solomon me disse como encontrar o portal e confessou que somente um homem no
mundo seria capaz de destrancá-lo. Ele também falou que esse homem é o senhor.
– Se Peter disse isso, estava enganado... Ou mentindo.
– Acho que não. Ele estava fragilizado quando fez essa confissão, e tendo a acreditar nele.
Langdon sentiu uma pontada de raiva.
– Estou avisando, se você machucar Peter de alguma forma...
- É muito tarde para isso - disse o homem como se estivesse achando graça. - Eu já tirei o que
precisava de Peter Solomon. Mas, para o bem dele, sugiro que me dê o que necessito do senhor. O
tempo urge... Para vocês dois. Sugiro que o senhor encontre o portal e o destranque. Peter apontará o
caminho.
Peter?
– Pensei que você tivesse dito que ele está no "purgatório".
– Assim em cima como embaixo - Disse o homem. Langdon sentiu um calafrio. Aquela
estranha resposta era um antigo adágio hermético que afirmava uma crença na conexão física entre o
céu e a terra. Assim em cima como embaixo. Langdon correu os olhos pelo amplo salão e se
perguntou como as coisas tinham fugido tão subitamente ao seu controle naquela noite.
– Olhe aqui, eu não sei como encontrar portal antigo nenhum. Vou chamar a polícia.


– O senhor realmente ainda não entendeu, não é? O motivo por que foi escolhido?
– Não. - Disse Langdon.
– Mas vai entender. - Retrucou o homem com uma risadinha. - A qualquer momento.
Então a ligação foi cortada.
Langdon ficou parado por vários segundos aterrorizantes, tentando processar o que havia
acabado de acontecer. De repente, ao longe, ouviu um som inesperado. Vinha da Rotunda. Alguém
estava gritando.
 

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