terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Capítulo 12 (Sorte ou Azar)
Capítulo 12,
Começou no dia seguinte. Eu soube disso quando me aproximei do meu armário
da escola, antes mesmo do início da primeira aula. Parei de repente, com o
trânsito no corredor me rodeando, as pessoas me lançando olhares irritados
enquanto tentavam passar. Não houvera sinal de Tory naquela manhã, e, tendo
notado a tensão no rosto
de tia Evelyn à mesa do café (aparentemente a pequena reunião que ela e o
tio Ted haviam tido com Tory na véspera, quando esta finalmente apareceu, não
havia ocorrido bem), não esperei por ela e simplesmente fui para a escola
sozinha. Zach, com quem eu havia esbarrado no caminho da escola, olhou o
corredor ao redor e perguntou: — O que é? — Olha – apontei. Os corredores da
escola Chapman geralmente são apinhados. A escola elitista, cujos formandos
costumam ir para faculdades importantes, estava passando por uma fase de
popularidade que resultava em salas quase atulhadas e corredores por onde mal
dava para passar. Mas, naquele dia, estava ainda pior. Então percebi que a
multidão não era composta pelo pessoal que eu via normalmente do lado de fora
das salas esperando o sinal tocar, mas também professores e até alguns
administradores da diretoria. Todos estavam parados, olhando para um ponto... e
aquele ponto, eu sabia, mesmo a cem metros de distância, era o meu armário. Com
um sentimento crescente de pavor, para não mencionar a ressurreição do nó no
estômago, abri caminho passando por dois jogadores de lacrosse que estavam
bloqueando minha visão, e parei. Ali, pendurado por um cadarço de sapato preso
na abertura de ventilação na parte superior do meu armário, estava um rato
morto. Algum tipo de líquido – não era sangue – pingava da cavidade onde a
cabeça do rato deveria estar, formando uma poça rosada no piso de ladrilhos
diante do meu armário. Zach se espremeu pela multidão atrás de mim e congelou.
Senti a respiração quente dele na minha nuca, enquanto ele sussurrava... —
Cacet...
Um zelador estava desamarrando cuidadosamente o rato, com um saco plástico
embaixo, para receber o corpo, que caiu, com um som fraco e nojento. Vários
estudantes gemeram. — Esse armário é seu, senhorita? – perguntou uma
administradora de nariz afilado. Eu não conseguia afastar o olhar da poça
cor-de-rosa na frente da porta do meu armário. — Sim, senhora – respondi. — Tem
alguma idéia de quem poderia ter feito isso? Levantei o olhar da poça, mas em
vez de fixá-lo no rosto da mulher, examinei a multidão, procurando uma pessoa
em particular. Finalmente notei Tory pressionada contra os ombros dos jogadores
de lacrosse, espiando entre eles, com um sorriso de triunfo grudado no rosto.
Desviei o olhar e disse à administradora. — Não, senhora. Não tenho idéia de
quem poderia ter feito isso. Passei o resto do dia numa espécie de névoa.
Ficava me perguntando: o que Tory achava que estava fazendo? Roubando um rato
de dissecação do
laboratório de biologia – por que era de lá, pelo que fiquei sabendo, que o
rato tinha vindo. O líquido que pingava do pescoço aberto era formol – cortar a
cabeça do bicho e pendurá-lo aberto do lado de fora do armário de alguém não
era bruxaria, nem preta nem branca. Não era magia. Era apenas doença. Era assim
que Tory pretendia me castigar por tê-la amarrado para não fazer magia?
Mostrando como ela poderia ser poderosa mesmo sem fazer feitiços? Bom, estava
dando certo. Eu estava apavorada – não por causa do rato, mas por causa do que
ele representava. Se alguém podia fazer isso com um rato – mesmo um rato já
morto – quem saberia o que faria com um gato... ou uma au pair inocente. — Sei
que foi a Tory – informou Zach em tom casual, na aula de educação física. – E
está na hora de alguém fazer alguma coisa sobre isso. — Por favor, não se
envolva – respondi.
Nuvens haviam finalmente chegado sobre Manhattan, e em vez de dar a aula de
educação física embaixo da chuva, o professor Winthrop obrigou os alunos a
jogar queimado no refeitório. Eu havia deixado que a bola me acertasse
imediatamente, e um minuto depois Zach se juntou a mim. Ficamos sentados com as
costas na parede, junto com as outras pessoas que haviam sido acertadas. — Já
estou envolvido. Qual é, Jean, não sou idiota. Não sei o que está acontecendo
entre vocês duas, mas tenho minhas suspeitas, e não vou deixar que ela... —
Sério, Zach. – Concentrei-me em amarrar de novo meus tênis, para que ele não
visse como eu estava perto de chorar. – Apenas fique fora disso, certo? Ele não
pareceu nem um pouco intimidado. — Por quê? Por que tenho de ficar fora disso?
Sou eu quem está provocando, não sou? — Não exatamente. Eu sabia o que
precisava fazer, pelo menos com relação ao Zach. Só que realmente não queria.
Mas que opção eu tinha? Ou contava a verdade... ou Tory contaria a versão dela.
Pelo menos se eu fizesse isso haveria uma chance – uma chance pequena, admito –
de que ele entendesse. Porque havia muito mais na história do que Tory sabia. —
Há um pouco mais do que – comecei, desajeitada, imaginando como, afinal, iria
fazer com que ele entendesse – a fixação de Tory por você. Mas, para minha
surpresa, ele tornou as coisas muito, muito mais fáceis, estendendo a mão e
tocando o pentagrama pendurado no meu pescoço. — É essa coisa? Esse lance de
bruxa? Alguma coisa se prendeu na minha garganta. Acho que era o nó do
estômago. — É – falei depois de tossir. – Naquele dia em que fomos à Encantos,
no Village... eu... eu não contei exatamente a verdade. — Quer dizer que aquele
livro era para você, e não para Courtney? – O olhar
que ele me lançou era ligeiramente sarcástico. – Eu posso não ter percepção
extra-sensorial como você, Jean. Mas consegui deduzir essa parte sozinho. —
Eu... não tenho percepção extra-sensorial – gaguejei.
— Até parece. Então como você sabia que aquele mensageiro de bicicleta ia
me atropelar? Como sabia o momento exato para me tirar do caminho? — Isso foi
só... isso foi só... – Minha voz ficou no ar. Os olhos verdes de Zach me
hipnotizavam. — Jean, eu sei que você tem... bem, talentos especiais. Mas você
não acredita mesmo que todo esse negócio de bruxaria funciona, não é? A magia,
os feitiços, a besteirada do vodu. Não acredita, não é? Afastei o olhar dele
com esforço, e o mantive na partida de queimado: — Eu... acredito, Zach. O
negócio é que eu vi coisas... coisas que não poderiam ser explicadas a não ser
pela magia. — As civilizações antigas usavam o conceito de magia para explicar
qualquer coisa que não pudessem entender... como a doença – rebateu Zach, sério.
– Mas agora nós temos mais informação, por causa da ciência. Só porque não há
outra explicação que a gente conheça, não significa que seja magia. — Eu sei.
Mas isso não nega o fato de que... eu acredito. E, mais importante, Tory
também. — Bom, isso precisa parar. Não está certo. O que quer que Tory esteja
fazendo... não vou ficar só olhando, como todo mundo nessa escola. Não vou
deixar ela ficar numa boa com isso. Baixei a cabeça. — Não. Sério, Zach, não.
Tory... ela está realmente furiosa comigo. Não só por sua causa, mas porque eu
não... bem, eu não quero entrar para o coven dela. Ela vai tentar uma vingança,
e um modo de fazer isso pode ser... bem, ela pode tentar contar coisas a você,
sobre mim... — Que tipo de coisas? – perguntou Zach, um pouco depressa demais.
Minhas bochechas começaram a esquentar, mas mantive o olhar no jogo. — Coisas
sobre eu ser uma bruxa. Não sou, mas, como falei... já andei mexendo com isso.
E ela pode dizer coisas sobre... bem, um cara... — O cara que estava assediando
você – terminou Zach para mim. – É, eu deduzi. Que tipo de coisas sobre ele? —
Não sei. Qualquer coisa que ela falar sobre ele vai ser mentira, porque ela não
conhece toda a história.
— Qual é toda a história? Jean, o que aconteceu com esse cara? O que ele
fez, para você ter de fugir para o outro lado do país? Lancei-lhe um olhar
espantado. — Ele não fez nada comigo. Não foi nem um pouco assim. mas é isso
que eu quero dizer. Ela pode tentar inventar... nem sei o quê. O negócio, Zach,
é que Tory tem problemas. – Pensei na foto de Petra no fundo da caixa de areia.
– Problemas sérios. — Eu sei que ela tem problemas. Meu Deus, Jean, ela
pendurou um rato sem cabeça na porta do seu armário. isso não é sinal de alguém
que esteja bem.
Mais motivo ainda para alguém contar aos pais dela. — Zach, não vai
adiantar. Ela simplesmente negaria. E não há prova de que foi ela... O som
agudo do apito nos interrompeu. O professor Winthrop gritou: — Rosen!
Honeychurch! Isso aqui não é lugar de descanso. Levantem-se! Fiquei rapidamente
de pé. — Por favor, Zach – pedi, com o estômago enjoado. – Deixe que cuido
disso, certo? Sei que tudo vai ficar bem. Ele balançou a cabeça. — Sabe? Tipo
você olhou o futuro e viu isso? Fiz uma careta. — Bem, não... não exatamente.
Mas as coisas não podem piorar, podem?
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