terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Capítulo 13 (Sorte ou Azar)
Capítulo 13
E pelo resto da semana as coisas não pioraram, afinal. Nada de ruim
aconteceu. Tory estava sendo mantida bem ocupada pelos pais, que finalmente
haviam sido alertados para o fato de que ela estava se dando mal em quase todas
as mmatérias, o que se devia ao fato de que não tinha feito nenhum dever de
casa durante todo o semestre. Como poderia? Ela saía quase toda noite com
Gretchen e Lindsey, brincando de ser bruxa. Mas minha tia e meu tio finalmente
puseram um ponto final nisso, cancelando todos os compromissos socias de Tory,
ficando em casa para supervisionar suas idas vindas e contratando uma
professora particular, com quem ela era obrigada a se encontrar seis dias por
semana, inclusive nas manhãs de sábado. Tory relutou tremendamente, mas os pais
não recusaram. Pessoalmente achei que isso era um sinal bastante bom de que as
coisas poderiam se acalmar. Mas Zach tinha dúvidas. — Já vi isso acontecer
antes — ele deu de ombros quando lhe contei.— Sua tia e seu tio chamam a
atenção dela por causa das notas durante um tempo, fazem com que ela se
consulte mais regularmente com o terapeuta, e coisa e tal. Depois ela faz
alguma cena dramática para eles se sentirem culpados, e eles se recuam. Achei
isso difícil de acreditar, mas Zach, que ainda que ainda queria contar a tia
Evelyn e tio Ted sobre o rato, só que eu não deixava, disse apenas: — Espere
só. Você vai ver. Esperei, pensando que ele estaria errado. Tia Evelyn
continuou vigilante pelo resto da semana, verificando com os professores de Tory
para saber quais eram os deveres de casa, e tio Ted os repassava com a filha
toda noite,
mesmo depois da aula particular. A não ser pelos olhares feios que me
lançava regularmente, Tory me deixou em paz... e eu não achava que fosse por
causa do pentagrama que eu estava usando como proteção. E deixou Petra em paz,
também. Seria por causa do feitiço de amarração ? Ou será que Tory havia
realmente virado a página?
— Acho que ela está melhor — falei ao Zach, jantando num barulhento
restaurante italiano na noite em que fomos assistir Nigel Kennedy. — Ela não
tem tempo de pensar em modos de torturar as pessoas. Está ocupada demais se
atualizando com o dever de geometria. — Bem, talvez ela não tenha pendurado
nenhum animal morto no seu armário, mas isso não significa que não planeje
fazer alguma coisa pior. Aquela garota está com idéia fixa em você, Jean. Mas,
risonha de alegria por estar saindo com Zach, mesmo que tenhamos passado boa
parte do jantar falando da visita iminente de Willem e qual seria o impacto disso
na campanha de Zach para ganhar o coração da mulher de seus sonhos, eu não
podia exatamente compartilhar o mal-humor dele com relação a Tory. E no fim do
concerto, ele estava sorrindo tanto quanto eu... ainda que provavelmente mais
por achar divertida a força com que eu aplaudia do que qualquer outra coisa. Só
quando estávamos caminhando para a casa, depois disse decidirmos andar para
curtir o ar quente da noite, aconteceu alguma coisa para atrapalhar meu ânimo.
— Não foi o concerto mais chato que já vi. — Zach estava tentando me
tranqüilizar. — Então porque seus olhos ficaram fechados na maior parte do
tempo? — Eu estava descansando os olhos. Com toda a sinceridade. Sério mesmo,
não tenho nada contra música clássica. Mas jazz? Não me chame para ouvir jazz.
Principalmente... como é que chamam? Free jazz. Já tentou bater o pé
acompanhando o ritmo do free jazz? É, não rola. O que gosto mesmo é de blues.
Tem um lugar fantástico onde toca blues, na zona sul de Manhattan... a gente
poderia ir lá no fim de semana que vem. Primeiro tenho de arranjar um documento
de identidade falso para você, porque só deixam entrar quem tem mais de 21
anos. — Seria fantástico.
— Na verdade, é melhor no outro final de semana, sem ser o próximo. No
próximo vai ser o baile da primavera. Sabe, o baile formal. Não sei se você
quer ir, é bem idiota. Mas eu nunca fui, por isso pensei... bem... será que
você não gostaria? De ir comigo? Ao baile?Estritamente como amigos, claro. Meu
sorriso parecia capaz de partir a minha cabeça ao meio. É verdade que Zach
estava apaixonado por outra garota. Mas ele tinha me convidado para o baile, e
não ela. Era bom de mais para ser verdade. Não podia estar acontecendo comigo,
Jean Honeychurch. Isso tinha de estar acontecendo com outra garota. — Tudo bem —
respondi com o coração parecendo a ponto de explodir. —
Parece que pode ser divertido... Então viramos a esquina da rua Sessenta e
Nove Leste. E pude ver a ambulância parada na frente da casa dos Gardiner, as
luzes vermelhas piscando e se refletindo nas janelas escuras de todos os
prédios baixos ao redor. — Não deve ser nada — gritou Zach atrás de mim,
enquanto eu começava a correr. Mas era. Chegamos lá no momento em que os
paramédicos surgiram trazendo Tory numa maca. Vi logo de cara que ela estava
consciente, até mesmo olhando ao redor. Quando seu olhar pousou em mim e Zach,
seus olhos, dramaticamente maquiados como sempre, se estreitaram, perigosos. E
logo estavam colocando-a na ambulância e não pude ver mais, porque tinham
fechado as portas. Corri até a escada e quase trombei com Petra, que estava
parada no hall, revirando uma pilha de cartões de créditos enquanto um policial
esperava. — Ah, Jean — gritou ela, com o rosto bonito manchado de lágrimas. —
Ah, Jean, graças a Deus você está em casa. Pode ficar aqui com as crianças
enquanto eu vou com a Torrance? Os pais dela... tinham um evento beneficente
para ir. Não estão aqui. Ela estava tão melhor que eles acharam que podiam dar
uma saída... — Claro — respondi. Foi Zach, que havia corrido atrás de mim, que
perguntou a Petra. — O que aconteceu?
— Foi minha culpa — disse Petra en quanto ainda procurava algo na pilha de
cartões de crédito. — Eu deveria dar uma olhada nela às seis horas, mas estava
ocupada demais ajudando Jean a se preparar para sair... Lancei um olhar culpado
na direção de Zach. Petra havia passado quase uma hora me ajudando a me vestir
para o encontro com Zach, em vez de verificar Tory, que deveria estar estudando
no quarto. — Se eu tivesse olhado naquela hora — a voz de Petra estava embargada
— teria, descoberto mais cedo. Mas com o negócio de ajudar você, depois o Zach
chegando, depois preparando o jantar das crianças, depois o banho delas, a
história para dormir... simplesmente esqueci. Ela estava tão quieta que nem
lembrei de que estava em casa. Quando é que ela esteve em casa numa noite de
sábado? Ah! — Petra se virou para o policial. — Não consigo achar! — Tudo bem,
moça — o policial acalmou-a. — Leve todos, e você poderá procurar a caminho do
hospital. — O cartão do seguro — explicou Petra enquanto saía pela porta. — Não
consigo achar. Nem tive chance de ligar para o senhor e a senhora Gardiner.
Pode ligar para eles, Jean? Diga que estamos no... — Ela lançou um olhar
interrogativo para o policia. — Cabrini — o homem informou. — Hospital Cabrini
— repetiu Petra, enquanto descia os degraus da frente em direção à ambulância
que esperava. — Pode dizer para eles me encontrarem lá, Jean? Diga que
Torrance...
— Torrance o quê? — perguntei com a voz falhando. — Tentou se matar —
gritou Petra, segurando o minúsculo saco plástico em que Shawn havia entregado
o Valium de Tory. — Overdose. — Ah — olhei do saco plástico para Petra, depois
para o policial e de volta para o saquinho. — Na verdade, se os comprimidos
estavam nesse saco, eram só aspirina infantil.
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