terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Capítulo 19 (Sorte ou Azar)


Capítulo 19

A boneca tinha os olhos de Dylan. Ela tinha a forma de Dylan - os largos ombros, as longas pernas. Estava até no uniforme de futebol americano de Dylan, nas cores verde e branco da Hancock High. O número do Dylan - número 12 - estava adornado no peito da boneca. Apesar de talvez Dylan e eu sermos os únicos na mesa que sabiam disso. Exceto por Tory, que havia obviamente adivinhado. A boneca tinha até o cabelo de Dylan. Seu cabelo VERDADEIRO; cabelo pelo qual eu tinha passado por muitos problemas para conseguir, quando eu havia planejado fazer Dylan se apaixonar por mim. Eu tive que falar para ele que estávamos pegando amostras de cabelo de todos os membros do time de futebol para costurar em uma colcha encorajadora da sorte*. E então eu realmente tive que fazer uma colcha encorajadora, por conta de não querer que Dylan descobrisse que era só o cabelo DELE que eu queria. É claro, se eu soubesse que o feitiço iria funcionar tão bem quanto funcionou - um pouco BEM demais, na verdade - eu não teria me dado ao trabalho de fazer a colcha. Porque assim que eu terminei a última costura na cara da boneca, o telefone tocou, e era Dylan me convidando para aquela primeira, histórica Nevasca. Eu sabia de tudo isso, é claro. E, eu tive um pressentimento, que Tory também. Ou da maioria, de qualquer jeito. Mas ninguém mais na Mesa Sete sabia. Particularmente Zach. Ainda havia uma chance. Ainda havia uma - "Você já se perguntou, Dylan," Tory perguntou em uma voz doce, "porque foi que você se apaixonou tão forte, e tão depressa, por uma garota com a qual não tinha nem uma coisa em comum?" Dylan não tinha parado de contemplar a boneca. Ele começou, "Número doze. Esse é o número da minha camisa. O que É essa coisa? Era para ser eu? Esse é o meu CABELO?"

"Sim," Tory disse. "Sim, Dylan. Essa é a boneca que Jinx fez de você, para faze-lo se apaixonar por ela. Veja bem, originalmente ela costurou um pouco do cabelo dela na sua cabeça também, para que você não fosse capaz de tirar ela da sua cabeça. E funcionou. Não é?" Dylan olhou da boneca para Tory, para mim, e de volta.

"O que é isso?" ele quis saber. "Algum tipo de vodu?" "Não, Dylan," eu disse. Eu podia sentir meu mundo - o qual, vamos encarar, não era particularmente incrível, mas era o único mundo que eu tinha - escorregando para longe de mim. "Era só um jogo. Eu achei um livro de encantos na escola, veja, e...bem, nossa avó sempre nos disse - " "- que uma das filhas na nossa geração iria se tonar uma grande bruxa," Tory terminou por mim, para o benefício da mesa. "Um palpite de quem tornou-se essa bruxa." Todos os olhos na Mesa Sete estavam sobre mim. Não só a Mesa Sete como as Mesas Seis e Oito estavam me olhando bem intensamente também. "Era só um jogo," eu disse, com uma risada nervosa. "Um jogo bobo. Quero dizer, nenhuma pessoa sã poderia acreditar que você pode fazer alguém se apaixonar por você ao fazer uma BONECA que se parece exatamente com ele." "É," Tory disse. "Exceto que no seu caso funcionou, não é Jinx?" Eu balancei minha cabeça, com força. "Por favor," eu disse. "Vamos ser razoáveis. Esse tipo de coisa não acontece. Foi só coincidência, Dylan. Quer dizer, que eu fiz uma boneca e você acabou me convidando para sair. Quer dizer, provavelmente a única razão pela qual você me notou, em primeiro lugar, foi porque eu inventei a história sobre precisar do seu cabelo para a colcha idiota - " Dylan parecia perplexo. "Você inventou a história da colcha? Da colcha encorajadora? Mas eu vi ela. Todos os caras doaram cabelo, também..." "Acho que eu podia acreditar que era uma coincidência," Tory disse pensativa, "se tivesse acontecido apenas uma vez." Tirei meu olhar de Dylan e encarei a mão de Tory, que estava mergulhando, mais uma vez, na sua bolsa. Ah, não. Ah, pelo amor de Deus, não -"Mas então você fez de novo," Tory disse. "Não foi, Jinx?" E ela jogou a boneca do Zach na mesa, do lado da boneca do Dylan. Eu deveria saber que se ela tivesse achado uma, ela acharia a outra. A primeira - a boneca de Dylan - eu escondi em um lugar que havia achado brilhante na minha primeira noite em Nova York. Eu havia trazido a boneca comigo porque eu não queria que uma das minhas irmãs pequenas tivessem achado-a no nosso quarto. E eu não tinha jogado fora pelo mesmo motivo que eu pesquei a boneca da Tory da lixeira... Eu não podia deixa-la mofando em algum depósito de lixo. Essa era uma boneca de alguém que uma vez eu amei. Então eu coloquei a boneca do Dylan em um lugar que achei que ninguém iria pensar em procurar. E eu coloquei a boneca do Zach no mesmo lugar, algumas semanas depois. Pena eu não ter percebido que Tory esteve me espionando esse tempo todo. Ou ela, também, gostava de esconder coisas no cano da chaminé da lareira que não funcionava no meu quarto? Zach, encarando o que Tory tinha acabado de jogar na mesa, perguntou, em

uma voz que soava extremamente distante, "Isso era para ser eu?" "Zach," eu disse, sentindo como se eu estivesse sufocando. "Eu NÃO fiz essa. Eu juro por Deus. Eu fiz a do Dylan. Mas foi há muito tempo atrás, e eu percebi de cara que foi um erro terrível - " "Espera." Chanelle levantou seu olhar das duas bonecas para o meu rosto. "Então você É uma bruxa?" Eu engoli. Como isso podia estar acontecendo? Quero dizer, eu sei que sou eu, e esse tipo de coisa acontece com alguém como eu. Mas não algo tão ruim ASSIM. Minha má sorte nunca tinha sido terrível ASSIM antes. "Eu lancei um feitiço," eu admiti. O que mais eu podia fazer? Abrace aquilo que você teme.

Era o que Lisa tinha dito. E eu certamente temia admitir para alguém o que eu tinha feito. Talvez, se eu esclarecesse as coisas agora, as coisas melhorariam. "Eu achei que estivesse fazendo magia branca. Eu não percebi que magia branca NÃO é tentar forçar as pessoas a fazerem alguma coisa contra a vontade delas, ou manipular suas emoções. Eu não sabia disso quando eu fiz essa boneca de você, Dylan, e eu realmente sinto muito. Assim que eu percebi, eu tentei desfazer o feitiço tirando o meu cabelo dali. Mas...mas eu acho que não funcionou." Robert, do outro lado da mesa, olhou das bonecas para mim e falou, "Cara. Isso está me assustando. Ela é uma bruxa, ou o quê?" "Ela é uma bruxa," Tory disse firmemente. "Eu só pensei que todos vocês deveriam saber. Primeiro ela fez o pobre Dylan ficar perdidamente apaixonado por ela. E então eu acho que ela decidiu que ter um cara completamente louco por ela não era o bastante, e veio para Nova York e imediatamente mirou no pobre Zach aqui - " "Eu não fiz a boneca do Zach!" eu gritei, me levantando. "A Tory fez. Ela mostrou pra mim na primeira noite que eu cheguei em Nova York. Ela acha que ELA é a bruxa que Vovó estava sempre falando, e ela fez essa boneca e tentou me convencer a se juntar ao seu clã. E então quando eu disse que não queria saber de nada daquilo - porque eu havia aprendido, do modo difícil, o que acontece quando você mexe com magia - ela se zangou." Respirando fundo, eu olhei ao redor da mesa para os rostos estupefatos de Dylan e meus amigos. Nenhum deles parecia acreditar em mim. Zach não podia nem me olhar nos olhos. "Zach," eu disse, apelando para ele. Porque era a opinião dele, dentre a de todos, com a qual eu me importava mais. "Você tem que acreditar em mim. Quer dizer, olha só para essa boneca." Eu apanhei a boneca do Zach. "Não se parece em nada com a boneca que eu fiz. Quer dizer, um...um...macaco poderia costurar uma boneca melhor que essa."

"Eu acho," Tory disse calmamente, quando Zach não respondeu de imediato, "que é melhor você ir embora, Jinx. Ninguém te quer aqui." Eu olhei pra ela então. Quer dizer, eu realmente olhei para ela.

E então eu percebi o quão brilhantemente ela tinha conseguido realizar o seu pequeno plano, até os pequenos detalhes. Em seu vestido de baile de branco e em sua maquiagem virginal, ELA parecia a filha do pregador - a que, naturalmente, estaria contando a verdade. Enquanto eu, no colante vestido preto que ela tinha escolhido pra mim e com meu cabelo vermelho selvagem, parecia cada centímetro com o que ela estava clamando que eu era...uma bruxa praticante, que tinha estipulado ganhar o coração não de um, mas de dois dos mais populares garotos em ambas as escolas que eu havia estudado naquele ano. Eu tinha que dar o braço a torcer. Ela teve sucesso, e provavelmente mais do que em seus sonhos mais selvagens. Mas ela ainda não tinha acabado. O golpe final ainda estava por vir. "Eu realmente acho," Tory abaixou sua voz para falar, como se fosse uma conversa "só das meninas" - apesar de, nessa altura, o salão inteiro estar ouvindo...até os garçons, que tinham vindo com o prato do peixe - "que talvez você queira aprender uma lição com nossa ta-ta-ta-ta-ra avó Branwen, Jinx. Porque, você sabe, ela foi queimada na fogueira por bruxaria. Nós não iríamos querer que isso acontecesse com você, iríamos?"

Eu não acredito que ela estava repetindo pra mim o que eu tinha contado pra ela sobre Branwen. Eu não podia acreditar que ela estava disposta a trazer à tona a maneira horrível como Branwen havia morrido, só para me fazer parecer má na frente de Zach. Mas eu não deveria ter ficado surpresa. Quer dizer, se ela estava disposta a mentir sobre a boneca, ela não pararia por nada. "Ótimo," eu disse, em uma voz que tremia. "Está tudo ótimo, Tory. Você venceu. Sabe por quê? Eu...eu nem ligo mais." E eu levantei e me afastei. E, na frente de todos aquelas pessoas, com todos aqueles olhares perfurando as minhas costas, eu segui pelo salão do baile, esperando que eu tivesse forças para sair de lá antes que começasse a chorar. Eu achei que tinha escutado uma voz de um garoto chamando meu nome, mas se era Dylan ou Zach, eu não conseguia dizer. Tudo que eu sabia era que, quem quer que fosse, eu não poderia encara-lo. Não aquela hora. Não sem explodir em lágrimas. Eu consegui sair das portas giratórias e fui parar na Park Avenue. Ali, para meu alívio, o porteiro perguntou, "Precisa de um táxi, senhorita?" Eu fiz que sim com a cabeça, e ele fez sinal para um táxi por mim. Eu engatinhei para o banco traseiro, grata de ter trazido dinheiro o suficiente comigo para me levar para casa, se eu precisasse...uma lição que minha mãe pregadora havia me ensinado desde criança. "Para aonde, senhorita?" o taxista me perguntou. Eu queria dizer para aeroporto. Eu queria dizer Penn Station, ou Grand Central, ou qualquer lugar que me colocaria em um avião ou trem para longe de Nova York e de volta para Iowa.

Só que eu não tinha TANTO dinheiro assim comigo. Então eu só disse, "Rua East Sixty-ninth, número 326, por favor."

o taxista acenou com a cabeça, e ligou o taxímetro, e me levou para casa. Eu não chorei até chegar ao meu quarto. Felizmente, eu não encontrei ninguém no corredor ou nas escadas. Alice já estava na cama, e Teddy estava dormindo fora de casa, e Petra e Willem, de babás enquanto tia Evelyn e tio Ted estavam em uma das muitas festas que eles são constantemente convidados, estavam no gabinete assistindo a um filme. Ninguém me escutou chegando. E ninguém me escutou chorando na minha banheira depois de que eu tirei minha roupa espalhafatosa e engatinhei na grande banheira de mármore. Eu chorei até meus olhos ficarem vermelhos e inchados, até eu não poder espremer mais nenhuma gota. Eu deixei a água correndo o tempo todo, para que se Petra fosse ver como estava Alice, ela não iria me escutar chorando. Como isso podia ter acontecido? Eu tinha sido humilhada na frente da escola inteira - me fazendo parecer uma esquisita maior ainda do que eles já achavam que eu era. Eu não ligava muito para o que Robert ou até Chanelle pensavam de mim. Mas Zach! Como ela podia ter feito isso na frente do Zach? Quer dizer, eu sabia que ela gostava dele. Eu sabia que ela estava chateada que o meu feitiço tinha funcionado no Dylan e o dela no Zach não. Mas ela TINHA que fazer isso na frente do Zach? E então, quando uma nova onda de lágrimas começou a aparecer, elas de repente secaram. Porque um novo pensamento tinha me ocorrido, um que eu nunca tinha considerado antes. Era ISSO sobre o que era tudo isso? Era menos por causa de um menino, e mais sobre o fato do meu feitiço ter funcionado e o dela não? A Tory estava com inveja porque ela sabia que era eu a bruxa que Branwen tinha prometido que apareceria? Ela estava com inveja porque ela achava que deveria ser ELA?

Porque eu não tenho medo de usar o dom dela, do jeito que você tem. Era isso o que Tory tinha dito pra mim. Parecia tão estúpido. Quer dizer, por que isso importava? Meus poderes, como eles eram, só tinham me trazido azar e mágoa. Claro, eu salvei Zach daquele mensageiro da bicicleta. Mas aquilo não era magia. Eu tinha meramente estado no lugar errado na hora certa. E a energia acabando no dia em que eu nasci...aquilo só tinha sido um temporal com trovões. E Willem ganhando a viagem para ver Petra...aquilo só tinha sido um feliz acaso. Não tinha nada a ver com o feitiço da anulação que eu tinha lançado contra Tory, ou com a proteção que eu lancei em Petra. E Dylan...pobre Dylan. Ele sentiu vontade de se apaixonar, e eu tinha aparecido, com essa enorme queda por ele...é claro que ele tinha se apaixonado por mim.

Nada disso era prova que eu tinha os requerimentos de uma bruxa. Exceto, eu acho, para Tory, que provavelmente tinha se gabado para seu clã sobre sua ancestral bruxa, e seu destino como a verdadeira bruxa da nossa geração. E então eu tive que aparecer e arruinar tudo para ela. Tudo fazia perfeito sentido. Sério, não era de se espantar que ela estivesse tão furiosa. Mas se ser a bruxa da família significava tanto para ela, ela podia ficar com isso. Eu iria suspender o feitiço da anulação, e - O que é que eu tava FALANDO? NÃO EXISTE MAGIA. Porque se existisse, o que havia acontecido hoje a noite nunca, nunca teria acontecido. Meu colar - aquele colar de pentagrama estúpido que a mulher da Encantamentos tinha me dado - teria me protegido. Mas não protegeu. Não protegeu porque o negócio todo era um lixo. Não existe magia. Não mais do que não existe sorte. Pelo menos boa sorte. Porque essa era uma coisa que nunca tinha acontecido comigo.

E eu estava tão furiosa com o negócio todo - tão cansada de tudo - que eu puxei com força o pentagrama e o joguei do outro lado do banheiro. Eu tentei não olhar aonde ele caiu, para que mais tarde eu não pudesse voltar e apanha-lo. Deixe que Marta o encontre e ache que é lixo. Eu desejei que eu pudesse jogar fora a minha vida tão facilmente. Deve ter sido uma hora mais tarde - eu já estava na cama, no meu pijama mais abominável, o de flanela rosa com borboletas nele - quando eu escutei uma batida na minha porta. "Jean?" Era Petra. "Entre," eu disse. Petra era uma das únicas pessoas que eu achava que podia suportar naquele momento. "Eu pensei ter ouvido você ligar a banheira," ela disse, olhando pra mim preocupadamente da porta. "Você chegou em casa cedo, não foi?" "É," eu disse. "Não estava tão divertido, eu acabei descobrindo." "Você e Zach brigaram?" Petra perguntou gentilmente. "Pode-se dizer que sim," eu disse. "Eu pensei que sim. Porque ele está aqui." Eu sentei ereta na cama como um raio. "AQUI? AGORA?" "Sim, ele está lá embaixo. Ele gostaria de te ver." Ha. Aposto que sim. Para que ele pudesse me dizer...o quê? Que ele achava que não deveríamos mais nos ver? Que ele havia decidido voltar à sua política do laissez-faire - e uma das coisas em que ele estava adotando essa atitude de agora em diante era eu? Bem, eu não ia dar a ele essa satisfação. De jeito nenhum eu iria descer. Não estando sem maquiagem, com meu cabelo parecendo todo selvagem e encaracolado do vapor do jeito que estava. Não com meu pijama da borboleta. Isso não era jeito de se parecer durante um término. Não que estivéssemos terminando, porque nós nunca saímos. De qualquer jeito, ele

poderia terminar ou o que seja comigo - amanhã, quando eu estivesse usando gloss. "Você poderia dizer a ele que eu já fui dormir?" eu perguntei a ela.

Petra uniu suas sobrancelhas. "É claro que eu posso, se você quiser. Mas tem certeza de que é o que você quer, Jean? Ele parece muito preocupado com você. Ele disse...ele disse que alguma coisa aconteceu hoje a noite. Alguma coisa com Tory?" "É," eu disse. Tenho certeza que ele parecia preocupado. Provavelmente porque ele tinha medo do tipo de feitiço que eu lançaria nele depois dele me chutar. Era só isso. "É, tenho certeza." "Bem," Petra disse. "Tudo bem. Você quer falar sobre isso?" Se eu queria falar sobre isso? Eu não queria nem PENSAR nisso, nunca, nunca mais. "Quer saber?" eu disse. "Eu só quero mesmo ir dormir, se você não se importa." "Está bem," Petra disse, com um belo sorriso. "Só lembre-se, eu estou aqui se você precisar. Não precisa ficar envergonhada por causa do Willem. Se você precisar de alguma coisa, só bata na porta lá de baixo. Tudo bem?" "Tudo bem," eu disse, arrumando um sorriso. "Obrigada. E boa noite." "Boa noite, Jean," Petra disse, e fechou a porta atrás dela. Petra era um amor. Eu iria mesmo sentir a falta dela quando eu fosse para casa. O que seria, eu já tinha decidido, assim que eu arranjasse um bilhete. Porque eu não podia ficar em Nova York nem mais um segundo. Eu certamente não podia voltar pra escola na segunda. Eu iria encarar Zach amanhã, porque eu devia a ele isso, de qualquer jeito. Mas eu ia voltar para Hancock, aonde eu pertencia. Depois da Tory, cuidar do Dylan seria fácil. Além do mais, talvez depois de ter descoberto sobre a boneca, ele se acalmaria um pouquinho. Garotos não gostam de saber que mentiram para eles e os manipularam. Zach era prova suficiente disso. Talvez Dylan seguisse o exemplo de Zach. Pelo menos UMA coisa boa iria sair de tudo isso, então. Eu falei para Petra dizer a Zach que eu estava dormindo, e eu apaguei as luzes assim que ela saiu, para mostrar que eu estava. Mas o sono demorou a vir. Eu fiquei deitada acordada, revendo a cena na Mesa Sete na minha cabeça, de novo e de novo.

Mas não importa quantas vezes eu tentasse, eu não podia pensar em uma única coisa que eu poderia ter dito para fazer Zach acreditar em mim. Tory realmente tinha feito um excelente trabalho manipulando a situação ao seu gosto. Eu esperava, depois disso, que ela conseguisse o que ela queria. Zach. Nada mais de Petra. Os poderes mágicos de Branwen. O que quer que fosse. Certamente, poucas pessoas tinham trabalhado tão duro por isso quanto ela. Pelo menos, não de um jeito tão perturbador.

Eu não sei que horas eu adormeci. Mas eu sei que horas eu acordei. Duas da manhã. Eu sei porque eu abri meus olhos e vi os numerais digitais vermelhos no relógio perto da minha cama. A razão pela qual eu acordei? Bom, foi uma coisa muito engraçada. Não foi porque de repente eu me enchi com um sensação de que - para variar - tudo iria ficar bem. Não foi porque, desesperada como eu estava quando eu havia adormecido, eu havia acordado com uma sensação de calmaria, uma sensação de que não havia nada - nada no mundo - que eu precisava temer, embora ambas essas coisas fossem verdade. Não, eu acordei porque tinha alguém de pé do lado da minha cama, e sussurrando meu nome. "Jean," a voz disse. "Jean." Era uma garota, usando um longe vestido branco. Mas não era Tory, ainda vestida em sua roupa de baile da primavera. Porque essa garota estava sorrindo para mim - e não de um jeito mau, mas como se ela sinceramente gostasse de mim. Além disso, ela tinha um longo cabelo vermelho. E apesar de eu não a conhecer, eu sabia o nome dela. Eu o sabia tão bem como eu sabia o meu próprio. "Branwen?" eu disse, me sentando.

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